Do site GEN Medicina
Entre 01 e 07 de agosto foi celebrada a Semana Mundial de Aleitamento Materno. Neste ano, a WABA (entidade promotora do evento em âmbito mundial) propôs um desafio aos profissionais de saúde: relacionar as comemorações aos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que os governos ao redor do mundo se comprometeram a alcançar até 2030.
por GEN Grupo Editorial Nacional
19/08/2016
Como foi implementada a campanha Aleitamento materno: presente saudável, futuro sustentável?
Implementamos uma série de ações para promover o aleitamento materno e a alimentação saudável da criança pequena. Avaliamos os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável e sua ligação com a amamentação. Um deles, por exemplo, aborda a erradicação da pobreza. Neste caso, o auxílio à amamentação encontra-se no valor economizado por aqueles que não precisam comprar leites ou fórmulas.
Outro objetivo refere-se à erradicação da fome e, nesta situação, também há relação de benefício com o aleitamento materno, visto que nesse não há custo e, se oferecido de modo exclusivo desde o nascimento até o sexto mês, proporciona todos os nutrientes que o bebê precisa, sem risco de contaminação, prevenindo a fome, a desnutrição e a obesidade.
Existem estudos relacionando estes objetivos ao aleitamento materno?
Sim. Por exemplo, no que concerne ao objetivo saúde de qualidade, um levantamento feito em Gana, com quase 11.000 crianças, mostrou que se tivessem sido amamentadas no primeiro dia de vida, haveria redução de mortalidade em torno de 16% e, se tivessem sido amamentadas na primeira hora de vida, de 22%.
Além disso, quando falamos em saúde de qualidade, levamos em consideração a prevenção de doenças agudas, como diarreia e infecções, e doenças crônicas, como obesidade e diabetes. Isso também tem impacto quando a criança é amamentada e, posteriormente, para seu desenvolvimento. Para as mães que amamentam, também há benefícios, pois a amamentação diminui o risco de câncer de mama e diabetes.
Outro estudo publicado no JAMA Psychiatry identificou forte evidência de que a amamentação por longo tempo aumenta o desenvolvimento cognitivo da criança. Metanálise feita por um investigador reconhecido, Cesar Victora, e publicada pela OMS em 2013, mostrou que a amamentação eleva o coeficiente de inteligência em média 3,5 pontos na infância e adolescência.
Um dos objetivos analisa a água limpa e o saneamento. Qual seria a relação com a amamentação?
O aleitamento materno em livre demanda oferece à criança tudo aquilo que ela necessita, diferente da fórmula que exige água potável, higiene e saneamento. Estudo recente verificou que, para alimentar uma criança por 6 meses, são necessários 135 litros de leite fluido ou 44 litros de fórmula infantil. O aleitamento materno reduz o consumo de água, gás e de outros combustíveis fósseis; a fabricação das fórmulas, sejam líquidas ou em pó, consome energia das indústrias.
Isso também pode ser refletido em outro objetivo: empregos e crescimento econômico. Estudo publicado em 2016 no Lancet, também da equipe do Dr. Victora, demonstrou que a não amamentação está associada a perdas econômicas de 302 bilhões de dólares por ano. Uma criança que não é amamentada adoece mais, o que leva a mãe a se ausentar do trabalho, podendo ser demitida. Será necessário que a empresa contrate e treine um novo funcionário, o que gera custos.
E sobre o objetivo de cidades e comunidades sustentáveis, como pode ser feita a relação com o aleitamento materno?
Quando uma mãe está amamentando, ela utiliza somente a própria mama. Quando utiliza fórmulas artificiais, ela terá de descartar plásticos, alumínio, papelão, latas etc. Esses materiais são direcionados para algum lugar, o que provoca a contaminação do meio ambiente.
Uma das questões recentemente comprovada é que o gás metano é o segundo maior contribuinte para o aquecimento do planeta; 70% das emissões desse gás ocorrem por conta da criação do gado bovino. É também necessário maior desmatamento para ampliar a área de pasto para criar mais vacas. De acordo com a FAO (Food And Agriculture Organization), entre 2000 e 2010, o mundo perdeu 130 milhões de hectares de florestas, e a principal causa dessa devastação é para a criação de pasto. Não é necessário desmatar para amamentar, de modo que o aleitamento materno é mais ecológico.
Qual a situação atual do aleitamento materno no Brasil?
Estudo nacional publicado em 2008 mostrou índice de 40% de aleitamento materno exclusivo por 6 meses. Em 2012 o DATASUS publicou que, nas capitais, era de apenas 9% a taxa de aleitamento materno exclusivo aos 6 meses, e que em sala de parto ficava em torno de 66%.
Há muito ainda a fazer, um longo caminho a percorrer. Em 2105 foram iniciados os trabalhos de elaboração de leis que permitam às mães amamentar em qualquer lugar sem serem constrangidas. Algumas cidades já aprovaram tais leis, mas isso deve acontecer em nível nacional. O aleitamento materno é a base da saúde da criança.
Assim, é importante destacar que sustentabilidade requer continuidade, cidadania, ética, responsabilidade do governo, da mídia e da sociedade. Cada um de nós é responsável por permitir o crescimento de crianças sadias, e o começo mais democrático e saudável para todos é o aleitamento materno.
Em maio de 2015, lancei o movimento Eu apoio leite materno e, em maio de 2016, foi feita uma celebração na Av. Paulista, para comemorar o primeiro ano do movimento e reforçar o assunto amamentação.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545