Do site JorNow
Se as coisas fossem simples, já teríamos caminhado muito na direção do controle daquela que ainda é considerada a Doença Crônica Epidêmica Não Transmissível (DCENT) mais frequente dos séculos XX e XXI: A OBESIDADE.
por Marcia Wirth
14/09/2016
E quando ela afeta as crianças, o mundo muda, promovendo transformações mais definitivas e permanentes.
“A obesidade é uma questão multifatorial e assim deve ser abordada. Não há culpados, não há um fator isolado que deva ser analisado. Isso pode ser comprovado pela enxurrada diária de novos artigos e abordagens sobre o tema. Aqui, abordamos alguns estudos recentes sobre a influência da vida da mãe no maior risco de sobrepeso e obesidade de seus filhos. E esses seriam fatores controláveis, desde que diagnosticados precocemente e acompanhados de forma adequada”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Esse estudo publicado no site do CDC (Central for Disease Control and Prevention) é um relatório sobre características de IMC (Índice de Massa Corporal) das mulheres antes de engravidarem, que tiveram seus bebês incluídos nos dados de Certificados de Nascimentos de 2014 (96% de todos os partos).
Os dados mostram que cerca de 50% das mulheres apresentavam sobrepeso ou obesidade, antes de engravidarem, e essa situação é a mais grave de todos os tempos já relatada nos Estados Unidos e que esse é um dos fatores que contribuem para a epidemia de obesidade no país.
"Entre as principais consequências diretas desse fato estão maiores chances de diabetes gestacional e hipertensão arterial, que podem aumentar as chances de parto cesariana, que pode trazer mais complicações posteriores para as mães e para os bebês”, observa Moises Chencinski.
Que o tipo de parto (vaginal ou cesariana) pode mostrar uma colonização intestinal diferente no bebê já é fato conhecido. Isso pode determinar riscos maiores de sobrepeso e obesidade em crianças em faixas etárias posteriores.
O surpreendente nesse estudo, publicado no Genome Medicine, foi a observação que as gestantes que ingerem maiores quantidades de gordura do que a desejável também podem interferir na formação da microbiota intestinal dos bebês e, assim, afetar o desenvolvimento do sistema imune e a evolução de peso do bebê.
Enquanto o Institute Of Medicine (IOM) indica uma média de 20-35% de ingestão de gordura, em mais de 150 gestantes que fizeram seu recordatório alimentar a taxa variava entre 14-55% (média de 33%).
“Os bebês de gestantes de alta taxa de ingestão de gordura apresentavam, em sua flora bacteriana intestinal avaliada, tanto ao nascimento, quanto semanas após o parto, menos Bacteroides (“flora do bem”) do que as que tinham uma ingestão de gorduras mais adequada”, informa o médico, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
A formação da microbiota intestinal das crianças nascidas de parto via vaginal é mais adequada e protege tanto contra infecções, quanto alergias, mas também, em relação ao risco de sobrepeso e obesidade na infância e na adolescência.
Estudo recente, publicado no JAMA Pediatrics (Journal of American Medical Association), mostra um acompanhamento surpreendente, realizado entre setembro de 1996 a dezembro de 2012 entre os participantes do Growing Up Today Study. Foram avaliados pouco mais de 22.000 partos de 15.271 mães, seguidos em um questionário entre as idades de 9-14 anos até 20-28 anos.
“Os dados comprovaram, nesse estudo, um risco 15% maior de sobrepeso e obesidade em crianças nascidas por parto cesariana. Em famílias onde irmãos nasceram por vias diferentes (um via vaginal e o outro via cesariana), os que nasceram por parto cesariana tiveram 64% mais de chances de sobrepeso e obesidade do que os nascidos por parto normal”, destaca o pediatra.
Entre esses partos considerados na pesquisa, a maioria deles ocorreu em cesarianas sem indicação clínica (por opção do médico ou da mãe). Outros fatores também podem contribuir para esse desfecho (obesidade / sobrepeso) como a dieta da mãe, se houve diabetes gestacional ou não e se o bebê foi amamentado ou não. Mas esses fatores foram estatisticamente corrigidos na pesquisa.
De acordo com uma nova pesquisa publicada no jornal on-line Diabetologia, realizada em 12 países (África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Estados Unidos, Finlândia, Índia, Quênia, Portugal, Reino Unido), mulheres com diabetes gestacional aumentam em 53% o risco de obesidade e sobrepeso em seus filhos entre 9-11 anos. De acordo com critérios da American Diabetes Association e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência de diabetes gestacional nessa amostragem foi de 4,3% dos partos.
Segundo os pesquisadores, o mecanismo pelo qual a exposição ao quadro de diabetes intra-útero aumenta os riscos de sobrepeso nos bebês não está completamente esclarecido. “Possivelmente, o crescimento fetal no útero desses bebês, submetidos a índices mais altos de glicemia materna, levando a um aumento de níveis hormonais fetais pode estar envolvido no processo. O diabetes mellitus gestacional pré-natal também pode ter influência na expressão dos genes do feto (epigenética) que dirigem o acúmulo de gordura corporal ou o mecanismo metabólico relacionado”, explica Moises Chencinski.
“Pesquisas e mais pesquisas sobre a obesidade são necessárias, pois essa história de comer menos, se exercitar mais e fornecer uma dieta pronta para todos não está funcionando. Estamos perdendo a batalha contra a obesidade. Os profissionais de saúde precisam se certificar de que os pacientes compreendem perfeitamente os diversos fatores que contribuem para o excesso de peso, incluindo genética, composição dos alimentos, saciedade, dentre tantos outros”, defende o pediatra.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545