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Como o carinho vai ajudar bebês que herdaram dependência química ainda no útero?

Do site Bolsa de Mulher

Tremores e deficiência cardíaca e respiratória estão entre os principais sintomas que acometem crianças que nascem com dependência química. Nos Estados Unidos, alguns hospitais criaram programas para amenizar as consequências dessa condição. Como? Recrutando voluntários para dar carinho a esses bebezinhos.

por Beatriz Helena

02/02/2017

Apelidada de “mutirão do carinho”, a ação visa dar qualidade de vida a bebês que sofrem com crises de abstinência e estão em tratamento por dependência química decorrente da transmissão de substâncias através da mãe.

Por que o bebê fica intoxicado? O que é a síndrome de abstinência neonatal?

De acordo com o pediatra Dr. Moisés Chencinski, da Sociedade Brasileira de Pediatria, determinadas substâncias – lícitas ou ilícitas -, se usadas durante a gestação, podem chegar, através das trocas sanguíneas ao bebês. Algumas delas, quando ingeridas em grande quantidade e por muito tempo, podem causar uma dependência química, assim como acontece com os adultos.

Ao nascer e, consequentemente, parar de receber essas substâncias, o organismo sente a falta delas e apresenta uma série de sintomas. “É como impedir repentinamente que um usuário tenha acesso à droga, ele corre o risco de sofrer com crises de abstinências”, compara o médico.

Casos no Brasil

Embora o “mutirão do carinho” seja prática comum nos Estados Unidos, o Brasil também tem muitos casos de síndrome de abstinência neonatal. “O que mais temos aqui são intoxicações por drogas como maconha, cocaína e crack”, comenta o pediatra.

O uso de analgésicos pode intoxicar o bebê?

Dos casos americanos, de acordo com informações das unidades de saúde, muitos são causados por analgésicos – além de heroína e metadona. No entanto, Dr. Chencinski explica que essas situações decorrem do uso dos medicamentos sem prescrição e controle médico. “Existem indicações do uso de substâncias durante a gestação e amamentação. No Brasil, existem documentos do Ministério da Saúde que mostram quais substâncias são permitidas e quais não devem ser usadas nesses períodos”, explica.

Portanto, a intoxicação por medicamento, como o profissional explica, acontece quando a mulher cria uma dependência a determinadas substâncias antes da gestação e continua seu uso enquanto gesta o bebê sem consultar um médico.

O que o bebê sente?

A “crise de abstinência do bebê” varia muito de acordo com a substância utilizada pela mãe, quantidade, tempo e características do feto – peso e idade gestacional. “É comum que o uso de drogas durante a gravidez gere partos prematuros, por isso, muitas vezes até poucas quantidades podem afetar o bebê”, explica Dr. Chencinski.

No geral, tremores e depressão cardíaca e respiratória são os primeiros sintomas. Normalmente, quando a mãe faz acompanhamento pré-natal, a equipe já tem conhecimento da situação e informa o pediatra neonatologista. Então, esse bebê já é observado e passa por exames”, comenta o médico.

Como é o tratamento?

O processo de desintoxicação, assim como os sintomas, variam de acordo com cada caso. Mas, ainda assim, o corpinho do bebê pode demorar semanas para ficar completamente livre dos efeitos das substâncias.

“É preciso fazer avaliações com equipes multidisciplinares, acompanhamento neurológico, cardíaco, porque depende muito do tipo de substâncias e das características do bebê. Alguns precisam de respirador, outros até de medicamentos específicos”, explica o Dr. Chencinski.

No entanto, mesmo com tratamento, não é possível evitar as possíveis sequelas. “O bebê está com todo os seus sistemas em formação. Essa impregnação por substâncias químicas afeta a sua formação”, diz o médico.

Como o carinho ajuda?

De fato, o carinho nesse momento pode ser muito importante. De acordo com o pediatra, a explicação vem dos diversos estudos que mostram os benefícios associados às práticas de contato e carinho, entre os principais deles o contato pele a pele logo depois do parto e aleitamento na primeira hora de vida do bebê. “Esse contato nas primeiras horas de vida é tão ou mais eficaz do que a incubadora para recém-nascidos. Diminui e estabiliza a frequência cardíaca, acalma, deixa a respiração mais tranquila. Então, é claro que faz bem”, comenta.

Por isso, quando as mães por algum motivo não estão disponíveis, o bebê, só de perceber que está com alguém, sendo abraçado, apresenta melhoras. "Ele normalmente ficaria em uma incubadora, sozinho, recebendo soro e enfrentando situações difíceis. Agora, ele passa a ter colo, abraço. O contato é sempre favorável”, exemplifica o médico.

O ideal, como Dr. Chencinski explica, é que esse contato viesse das mães. E que essas mães também recebessem colo. “Ela também precisa de apoio. Naquele momento, ela sofre com uma doença crônica, que é a dependência química”, comenta. Por isso, é essencial deixar, sempre que possível, os dois juntinhos. “A gestação e o parto muitas vezes são fatores que colaboram para que a mulher tenha uma diminuição ou suspensão do uso de substâncias químicas. Se essa mãe puder ter seu bebê no colo, com toda certeza essa relação vai trazer um ritmo melhor e mais favorável, tanto para o bebê como para a mãe”, acrescenta.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545