Do site Estilo - UOL - Gravidez e filhos
Meu filho vai largar o peito? E se ajudar a acalmar? Os dentes ficarão tortos? A criança pode ter problemas na fala? Mas e para tirar depois? Esses são apenas alguns de muitos questionamentos que passam pela cabeça dos pais quando o assunto é chupeta
por Thais Carvalho Diniz Do UOL, em São Paulo
10/08/2017
A seguir, veja as diferentes visões sobre o uso do acessório que faz parte da vida –e pensamento-- de tantas famílias.
- De acordo com o nono passo --dos dez-- para o Sucesso do Aleitamento Materno da Unicef "não deve-se dar bicos artificiais ou chupetas para crianças amamentadas". O pediatra Moises Chencinski, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo), é categórico ao afirmar que não há nada de bom no uso do acessório. O especialista classifica como um "hábito desnecessário"
"A recomendação é não iniciar a amamentação com o bebê usando a chupeta. Ela trabalha a sucção não nutritiva e o bebê não precisa disso. A recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) é aleitamento exclusivo desde a sala de parto e em livre demanda por no mínimo seis meses para alimentação e hidratação".
- O médico cita o decreto de novembro de 2015 do Governo Federal que regulamenta a comercialização de produtos de bicos e leite artificial, entre outros. “Se tem que ser regulamentado é porque não é bom. Alguma base a lei tem para justificar a proibição e, nesse caso, é que aumenta o risco de desmame.”
- A fonoaudióloga Gabriela Buccini defendeu na USP (Universidade de São Paulo), em fevereiro de 2017, sua tese de doutorado sobre a “Evolução do uso de chupeta e sua influência no aleitamento materno exclusivo no Brasil, 1999-2008, que analisou cerca de 1.480 artigos sobre o assunto. O trabalho concluiu que “o uso da chupeta é um fator de risco associado à interrupção do AME (Aleitamento Materno Exclusivo) e estratégias preventivas para a redução deste hábito em crianças amamentadas poderiam melhorar as taxas de aleitamento no Brasil, rumo às recomendações internacionais”.
Entretanto, Gabriela e Chencinski não fecham os olhos para a realidade da maioria de mães que dão a chupeta por falta de orientação, pressão familiar e social. "Não podemos generalizar as orientações. Nem todos os bebês terão confusão de bico, por exemplo, mas com a chupeta, o risco é maior”.
"Qual é o papel da chupeta para essa família?”, “O que levou à introdução do acessório?”, “Como a família tem usado a chupeta?”. Essas são as três questões-chave que auxiliam a fonoaudióloga a determinar como será sua intervenção na vida das famílias que a procuram. Para ela, o grande desafio dos profissionais de saúde é mostrar os contras sem deixar os cuidadores culpados, mas para que possam refletir e, quem sabe, mudar o posicionamento.
Mãe de João, de um ano e um mês, Jaqueline Moraes, 24, teve muita dificuldade no início da amamentação. A pega do bebê não estava certa e isso fez os seios ficarem bem machucados, com obstruções de 1 cm em cada mama.
"Sou totalmente contra o uso da chupeta por tudo que já li a respeito. Mesmo com todos os familiares dizendo que eu deveria dar por conta da situação das minhas mamas, que eu não ia aguentar ele chorando e querendo ficar no meu pe, não dei”.
A designer chegou a perder a amizade da melhor amiga por conta da chupeta. "Uma amiga, que já tem um filho e usa chupeta, achou o fim do mundo o meu ‘radicalismo’. Mas não era uma questão de ideologia, apenas de escolha pelas informações que eu tinha a respeito. Ela se sentiu ofendida, achou que eu estava menosprezando a decisão dela e nunca mais falou comigo.”
Jaqueline ultrapassou os palpites e nunca utilizou o acessório. João –que é superagitado, segundo a mãe-- está na escola há quatro meses e ela continua amamentando. "Já acordei mais de seis vezes de madrugada e eu simplesmente amamento. Quanto aos choros durante o dia, ele se acalma com colo, beijinhos e abraços."
- De acordo com a Academia Americana de Pediatria, não existem provas científicas suficientes de que o uso da chupeta seja prejudicial para o bebê ou esteja diretamente ligado ao desmame precoce.
- Em outubro de 2016, a mesma Academia se pronunciou novamente sobre o assunto e disse que “na verdade, há evidências de que o acessório pode ajudar a reduzir o risco de SIDS (síndrome de morte súbita infantil)”. Para a segurança do bebê, a AAP recomenda o uso do acessório que seja de uma só peça, sem argola.
“Os modelos de duas peças, com argola, podem se separar e representam um risco de asfixia. Nunca amarre uma chupeta ao berço do seu filho ou ao pescoço ou mão do seu filho. Isso pode causar sérias lesões”, diz o órgão.
- Sergio Marba, professor de neonatologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que colocar sobre a chupeta o peso do desmame precoce é algo injusto. “O principal motivo do desmame é a falta de informação. As pessoas ainda não têm claro a importância da amamentação e pensam estar ‘tudo bem’ ao trocar o leite materno pelo artificial. Falta conhecimento aos pais, médicos e enfermeiros que orientam essas famílias”.
Ele atenta para o fato de que a chupeta não deve substituir o vínculo com a mãe ou a alimentação, mas que quando bem utilizada e orientada “tem seu valor”. “Não sou contra a chupeta. O que se sabe hoje é que ela será prejudicial se mãe e bebê não estiverem adaptados à rotina da amamentação, o que acontece, geralmente, nas primeiras semanas de vida”, afirma o médico pediatra.
- A odontopediatra Adriana Mazzoni membro do Grupo de Trabalho de Saúde Oral da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo), não é radical quanto à utilização a chupeta. Segundo ela, o acessório é capaz de acalmar graças ao efeito que a sucção causa quando o bebê está na fase oral.
“Se os pais conseguem a orientação correta os danos são muito menores. Muito pior do que a chupeta é a criança chupar o dedo. A sucção digital tem um enorme agravante que é a deformidade do dedo sugado. O peso do braço também força a mandíbula ao crescimento para baixo assim como a musculatura oral e lábio inferior. Por estes motivos, a maloclusão causada pela sucção digital é bem pior que a da chupeta e retirar este hábito é bem mais difícil, pois o dedo faz parte do corpo da criança”.
Marcia Gauer, 25, é mãe de Joaquim, de apenas quatro meses. Estudante do último semestre de enfermagem, participou de projetos de amamentação e “desde sempre abominou a ideia” de dar chupeta para o filho. Mas o processo de amamentação foi difícil e o bebê só pegou o peito no terceiro dia de vida. Além disso, na volta para casa, já com aleitamento materno exclusivo, Joaquim só pegava no sono quando estava no colo --e no peito.
“Se tirava do peito, ele chorava, então eu voltava, amamentava mais e ele vomitava de encharcar, trocar de roupa, etc. Quando víamos, já era altas madrugadas, exaustão física, um ciclo sem fim.... Um belo dia, tirei do peito, coloquei uma chupeta que minha irmã me deu –e cheguei a brigar feio com ela e outros familiares por conta disso— e ele dormiu a noite toda. Meu coração partiu ao meio pela contradição, mas hoje o ‘amigo bico’ salva nossas noites. O que concluo é: antes de ser mãe todas são perfeitas. Eu era e hoje faço parte das que falam ‘dei, não morreu e, principalmente, não desmamou".
No caso de Elisângela Marques, não dar chupeta nunca foi opção. Por conta disso, ela teve que lidar com a pressão dos palpites quando comprou a chupeta e levou para o hospital como parte do enxoval dos dois filhos.“Diziam que eu ia ma arrepender, pois é muito difícil para tirar, e que atrapalharia na amamentação, mas nunca tive dificuldade”.
Os meninos de Elisângela, de três e dois anos, e ainda usam o acessório. Para o mais velho, o mamá no peito terminou quando ele completou um ano e a mãe descobriu que esperava o irmão, que ela amamenta até hoje.
Quando a criança está entre os dois e três anos, chegou a hora de tirar. Para isso, os cuidadores têm de estar cientes, em primeiro lugar, de que será um processo que demanda tempo e paciência. Segundo Adriana, o ideal é que seja apenas para dormir desde sempre. Mas se a criança usa em outros momentos do dia, o primeiro passo é que passe a ser algo do momento do sono.
"Outra dica é não guardá-la sempre no mesmo lugar ou a criança sentirá falta sempre que olhar para aquele local. O melhor jeito é conscientizá-la todo dia, mas sem culpá-la por não conseguir. Tem que ser aos poucos, algo combinado (e cumprido, claro)”.
A odontopediatra reforça que é um momento difícil, mas que os cuidadores precisam ser fortes e cumprir o que falarem. “O processo não deve ocorrer se a criança tiver passado por grandes mudanças naquele período. Mas a partir do momento que retirar, nunca mais voltar atrás, mesmo que tenha choro."
Na casa de Mariana Wolff, 32, a chupeta entrou quando Isabela, 2 anos e oito meses, tinha 50 dias. Há quase quatro meses, o acessório não faz mais parte da família e a menina ainda mama no peito. "Não queria, dei a chupeta chorando, mas ajudou muito com o sono. Não existe regra, para cada família funciona de um jeito. Na Páscoa desse ano combinamos de dar para o coelhinho e ela largou a chupeta."
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545