Do site Vida & Ação
Eles têm pressa de vir ao mundo. Mas só quem vive o drama de ter que sair da maternidade deixando para trás o filho numa UTI Neonatal sabe o quanto é difícil ver aquele "serhumaninho" ali, muitas vezes todo entubado, aguardando os dias para estar nos braços da mãe.
24/11/2017
Fonte: ONG Prematuridade.Com, Perinatal, Hospital Moinhos de Vento e Dr. Moises
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 15 milhões de bebês nascem prematuramente a cada ano e o Brasil é o décimo país neste ranking. O número de nascimentos de bebês com menos de 37 semanas de gestação, segundo o Ministério da Saúde, corresponde a 12,4% do total de partos, o equivalente ao dobro dos países europeus.
O nascimento antes da hora é a principal causa de morte no primeiro ano de vida. Apesar disso, a mortalidade infantil tem diminuído progressivamente no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o óbito de crianças com menos de um ano caiu 68,3% entre 1990 e 2012. Parte dessa redução pode ser atribuída aos grandes avanços das últimas décadas no cuidado com o bebê prematuro.
“O desenvolvimento da medicina neonatal e das terapias de suporte nessa área proporcionou a diminuição da mortalidade de bebês que nascem muito abaixo do peso”, pontua a pediatra Desirée Volkmer, chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). De acordo com a especialista, o surgimento de novos tratamentos e técnicas de oxigenação foram ganhos importantes para aumentar as chances de sobrevivência dessas crianças.
Embora o cuidado neonatal tenha avançado nos últimos anos, ainda é preciso investir na prevenção da prematuridade. E o mês de novembro é dedicado a estimular este debate. Afinal, será que é possível evitar um parto prematuro? “A prevenção é possível, mas a abordagem adotada deve ser avaliada caso a caso”, destaca Luciana Cima, ginecologista e obstetra da Perinatal, no Rio de Janeiro.
Na prática, quanto mais informação e acompanhamento médico a mulher busca antes e durante a gravidez, maiores são as chances de uma gestação saudável. “Fatores como pressão alta, diabetes, distúrbios da tireoide, infecções, idade materna e uso de drogas e bebidas alcoólicas são alguns dos fatores de risco para o parto prematuro”, elenca Desirré.
Adotar um estilo de vida desregrado durante a gravidez pode trazer consequências gravíssimas para saúde do bebê, incluindo a prematuridade. Segundo a Dra. Luciana, se a mulher possui alguma doença, como hipertensão ou diabetes, o controle clínico deve ser redobrado. Também é preciso ficar atenta à obesidade.
“Pesquisas mostram que o aumento do IMC (Índice de Massa Corporal) eleva as chances de parto prematuro, por isso é fundamental esse controle”, acrescenta a médica. O tabagismo também é um agravante, assim como estresse. “Abandonar certos hábitos e vícios é importante para que a gestante tenha uma gravidez tranquila e o bebê nasça no tempo certo e com saúde”, afirma Dra. Luciana.
Segundo a obstetra da Perinatal, a prematuridade não tem uma causa única. Para não correr esse risco é essencial que a mulher faça seu pré-natal corretamente.“Para garantir a saúde materna e do bebê, é importante incentivar a mulher a fazer o pré-natal até o final da gravidez. Além disso, é essencial promover a orientação e acompanhamento médico de gestantes adolescentes”, endossa Denise Suguitani, diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares e Cuidadores de Prematuros (ONG Prematuridade.com).
“A partir de 20 semanas podemos solicitar uma ultrassonografia transvaginal para medida do colo uterino, o que faz parte do rastreamento de risco para parto prematuro, a partir daí tomamos medidas preventivas, caso seja necessário. O acompanhamento médico vai permitir o diagnóstico e abordagem para cada caso, em tempo hábil”, diz Dra Luciana. Por isso, é fundamental que a mulher faça exames e procure um profissional ainda no início da gravidez.
Mas alguns fatores acometem as mulheres mesmo com todos os cuidados. Um exemplo é a incompetência istmo-cervical, que ocorre quando o colo útero se abre e dilata precocemente, acarretando o nascimento prematuro ou até mesmo no aborto. Segundo a Dra. Luciana, uma grávida pode ter esse tipo de complicação por vários motivos. “A incompetência istmo-cervical se dá por conta de uma alteração própria no colo do útero da mulher ou até mesmo por cirurgias uterinas realizadas anteriormente. É preciso sempre conversar com o seu médico para definir o melhor a se fazer”.
De acordo com a obstetra, na maioria dos casos, é aconselhável que o bebê seja mantido na barriga da mãe. “O ideal é que nenhum bebê nasça com menos de 37 semanas, principalmente com menos de 34 semanas quando a maturação pulmonar fetal ainda não está completa”, afirma. No entanto, esse prolongamento da gestação, em quadro de risco de parto prematuro, só deve ser considerado caso não haja nenhum risco maior para mãe e o bebê. Em quadros de infecção, passíveis de transmissão ao feto, e pré-eclampsia, por exemplo, essa prática não é recomendada.
Quanto mais precoce for o parto, maior é o desafio do cuidado com o bebê. Como os pulmões são os últimos órgãos a “amadurecerem” no útero da mãe, é muito comum que a criança tenha a chamada Síndrome do Desconforto Respiratório. “A doença ocorre devido à deficiência de surfactante pulmonar, uma lipoproteína importante para garantir a expansão adequada dos pulmões”, explica Desirée.
Essa condição era muito mais preocupante até a década de 90, quando tornou-se possível administrar surfactantes pulmonares ao bebê, até que seu organismo conseguisse produzir a substância sozinho. Hoje, essa classe de medicamento conta com duas opções de tratamento: o alfaporactanto e o beractanto. “Na mesma época, também teve início a terapia com corticoides em gestantes com riscos de parto prematuro. O medicamento induz a produção de surfactantes na criança, acelerando a maturação dos pulmões e outros tecidos fetais”, diz a pediatra.
Aliadas às técnicas de ventilação não invasivas, usadas desde a década de 70, essas terapias trouxeram mais chance de sobrevivência e qualidade de vida a crianças nascidas prematuras. “Hoje, no nosso serviço, consideramos que é possível tratar bebês a partir de 23 semanas de idade gestacional”, conta Desirée.
A recuperação do bebê também ganha quanto mais humanizado e multidisciplinar for o cuidado. “A presença dos pais ao lado da criança traz grandes melhoras na resposta ao tratamento”, diz a médica. “Além disso, também é importante garantir apoio psicológico aos pais, já que o ambiente da UTI é estressante”, orienta. Dessa forma, é possível incentivar o vínculo entre os pais e o bebê, fortalecendo a família para a tão sonhada alta hospitalar.
O toque é a primeira forma de experimentar o mundo aqui fora para os bebês, sejam eles nascidos a termo ou prematuros. As primeiras experiências de toque do bebê têm efeitos duradouros sobre o modo como seus cérebros respondem ao toque gentil, quando eles vão para casa. Foi o que descobriram pesquisadores que mediram as respostas cerebrais de 125 crianças – incluindo bebês que nasceram prematuramente e outros que nasceram a termo.
Os resultados, relatados em Current Biology, são mais uma lembrança da importância do toque gentil para o desenvolvimento sensorial normal dos bebês. Eles têm implicações particulares para o cuidado dos bebês nascidos prematuramente, que devem passar longos períodos de tempo em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs).
“Certificar-se de que os bebês prematuros recebam um contato positivo e de apoio, como o contato pele a pele dos pais, é essencial para ajudar seus cérebros a responderem ao toque gentil de maneira semelhante à dos bebês que nasceram a termo. Quando os pais não conseguem fazer isso, os hospitais podem determinar que terapeutas ocupacionais ou outros profissionais mantenham a experiência de toque cuidadosamente planejada aos prematuros”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores recrutaram 125 bebês nascidos prematuros com idade gestacional de 24 a 36 semanas e bebês nascidos de 38 a 42 semanas. Antes que esses bebês tivessem alta do hospital, os pesquisadores fizeram um eletroencefalograma para medir as respostas cerebrais dos bebês a um sopro de ar em comparação com um sopro “falso”.
De um modo geral, essas medidas mostraram que os bebês prematuros eram mais propensos que os bebês nascidos a termo a ter uma resposta cerebral reduzida ao toque suave. Outras análises mostraram que a resposta do cérebro ao toque foi mais forte quando os bebês das UTINs passaram mais tempo em contato gentil com seus pais ou prestadores de cuidados de saúde. Em contraste, bebês prematuros que foram submetidos a procedimentos médicos mais dolorosos, mostravam menos resposta ao toque suave mais tarde. Isso foi verdade, apesar do fato de os bebês terem recebido medicamentos contra a dor e açúcar para tornar esses procedimentos mais fáceis de suportar.
“Certamente, experiências de contato mais positivas no hospital ajudam os bebês a ter uma percepção de toque mais típica quando eles forem para casa. Mas, os pesquisadores ficaram muito surpresos ao descobrir que se os bebês experimentam procedimentos mais dolorosos no início da vida, sua reação ao toque suave pode ser afetada”, diz Chencinski.
Com base nas novas descobertas, os pesquisadores estão criando novas formas de proporcionar um contato positivo nas UTINs. Eles também estão investigando como a resposta cerebral do bebê ao toque interage com a resposta do cérebro ao som da voz de uma pessoa. “Para os novos pais, incluindo aqueles cujos filhos pequenos devem sofrer procedimentos médicos difíceis, é importante saber: seu toque importa mais do que podemos pensar”, destaca o pediatra.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545