Do site Bebê Mamãe
Cena da novela “O Outro Lado do Paraíso” possui uma série de desinformações sobre amamentação
por Bruna Romanini
28/03/2018
Uma cena da novela “O Outro Lado do Paraíso” da Rede Globo está dando o que falar e não é à toa. Na cena há uma série de desinformações sobre a amamentação e o estímulo a uma prática que apresenta riscos para o bebê.
Primeiramente, a cena que foi ao ar na terça-feira (27/3) começa com o médico e diretor do hospital, Samuel (Eriberto Leão), afirmando que Karina (Malu Rodrigues) não tinha leite suficiente para o filho que havia acabado de dar à luz. “Nós estamos sabendo que a sua nora não tem leite suficiente pra amamentar e vocês sabem que o leite materno é bem importante”, disse o diretor do hospital.
Ai está o primeiro erro, a jovem tinha ACABADO DE TER O FILHO, de modo que não é possível afirmar neste momento que ela não tem leite suficiente. “Péssima informação, isso é uma das coisas que a gente diz que vão contra a força de vontade dessa mãe de amamentar. O leite inicial é um colostro, o volume que cabe por mamada de um bebê nascido a termo é apenas 5 ml por mamada, além disso o bebê nasce com um estoque para até dois dias. Não foi nem dado menção de que o bebê foi colocado ao seio e nenhuma outra menção de que a mãe foi orientada. Em relação a questão da amamentação, imaginando-se que aquele é um diretor de hospital, a ultima coisa que ele deveria dizer para essa mãe é isso”, explica o pediatra Dr. Moises Chencinski, Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Após isso, há outro grande erro. O diretor do hospital então sugere que sua esposa, Suzy (Ellen Rocche), que na trama havia dado à luz recentemente, amamente o filho de Karina. “O que eu queria dizer é que a minha mulher, a Suzy, ela tem muito leite, então ela poderia amamentar o neto de vocês se vocês quiserem”, disse o diretor do hospital.
O que o diretor do hospital sugere é a amamentação cruzada, quando uma mulher amamenta o filho de outra. A amamentação cruzada é uma prática que pode colocar em risco a saúde dos bebês. Por isso, tanto o Dr. Moises Chencinski quanto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiram notas destacando os riscos da prática sugerida pela novela e explicando os erros na trama.
Um trecho da nota da SBP diz: “A SBP alerta que na novela ‘O outro lado do Paraíso’ (TV Globo), em capítulo exibido no dia 27/03/2018, foi apresentada uma cena onde se recomenda a “amamentação cruzada” (uma mulher amamenta o filho de outra mulher). Contudo, afirmam os especialistas da entidade, essa prática é contraindicada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois oferece risco de transmissão de doenças infectocontagiosas, como o HIV/AIDS, sobretudo para as crianças”.
A nota continua dizendo: “’Toda a população deve dar suporte para as mães que amamentam e os pediatras devem ser valorizados por serem fundamentais ao orientar sobre o tema. Contudo, para tanto, é preciso evitar que práticas não recomendáveis, como é a amamentação cruzada, sejam difundidas, o que pode confundir e causar problemas de saúde graves. Os pediatras pedem, assim, que todos os veículos de comunicação, em especial a emissora responsável pela novela onde as cenas foram exibidas, ajudem a disseminar de modo correto as vantagens do aleitamento junto aos brasileiros’, disse a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva”.
Os pediatras da SBP também ressaltaram na nota que o bebê pode receber sim o leite materno de outra mulher, porém, este leite deve vir de uma doação a um banco de leite humano. “Os pediatras lembram ainda que uma criança pode, sim, receber leite de outra mulher. No entanto, ressaltam, ‘esse leite deve ser oriundo de uma doação a um banco de leite humano, onde recebe tratamento que o deixa livre de qualquer possibilidade de transmissão de doenças’”, observa a nota.
Em sua nota, o pediatra Moises Chencinski ressaltou que mesmo quando a mãe apresenta exames normais, a amamentação cruzada continua não sendo orientada. “Não se recomenda que uma mãe amamente o bebê de outra mãe, mesmo com exames normais. Não se pode aceitar que, em pleno século XXI, qualquer órgão de Imprensa passe informações ou orientações que coloquem em risco a saúde e a vida de milhares de lactentes. É fundamental uma retratação rápida, com pelo menos o mesmo destaque dado à essa desinformação”, disse o pediatra na nota.
Veja a seguir as duas notas na íntegra:
“A divulgação de informações equivocadas sobre o aleitamento materno em programa de televisão de grande audiência levou a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a divulgar, nesta quarta-feira (28), uma nota de esclarecimento sobre o tema. A entidade espera sensibilizar os veículos de comunicação para evitar a disseminação de atitudes incorretas durante a amamentação, como a chamada “amamentação cruzada”, o que pode colocar a saúde das crianças em risco.
A SBP alerta que na novela “O outro lado do Paraíso” (TV Globo), em capítulo exibido no dia 27/03/2018, foi apresentada uma cena onde se recomenda a “amamentação cruzada” (uma mulher amamenta o filho de outra mulher). Contudo, afirmam os especialistas da entidade, essa prática é contraindicada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois oferece risco de transmissão de doenças infectocontagiosas, como o HIV/AIDS, sobretudo para as crianças.
“Toda a população deve dar suporte para as mães que amamentam e os pediatras devem ser valorizados por serem fundamentais ao orientar sobre o tema. Contudo, para tanto, é preciso evitar que práticas não recomendáveis, como é a amamentação cruzada, sejam difundidas, o que pode confundir e causar problemas de saúde graves. Os pediatras pedem, assim, que todos os veículos de comunicação, em especial a emissora responsável pela novela onde as cenas foram exibidas, ajudem a disseminar de modo correto as vantagens do aleitamento junto aos brasileiros”, disse a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva.
Na nota, a SBP informa ainda que a sugestão feita, na novela, de que existe leite materno “fraco” também não está correta. “É importante destacar que a amamentação deve ser estimulada, pois é o único processo natural que garante acesso ao alimento completo e mais adequado para as crianças. Por isso, deve ser oferecido, de modo exclusivo, nos seis primeiros meses, podendo ser complementado a partir de então”, orienta a Sociedade.
Os pediatras lembram ainda que uma criança pode, sim, receber leite de outra mulher. No entanto, ressaltam, “esse leite deve ser oriundo de uma doação a um banco de leite humano, onde recebe tratamento que o deixa livre de qualquer possibilidade de transmissão de doenças”.
“Esclarecimentos referentes à informação transmitida pela TV Globo, no capítulo do dia 27/03/2018, de sua novela, “O outro lado do Paraíso”. O “diretor do hospital”, sugeriu que sua mulher amamentasse bebê de outra mulher, como um gesto de amor.
Antigamente, essa era uma atitude comum no Brasil, na época das amas de leite.
Hoje, conhecida como “amamentação cruzada”, a prática tem contraindicação absoluta pelos órgãos oficiais de saúde.
A Portaria n° 1.016, de 26 de agosto de 1993, em seu artigo VIII, estabelece:
Atribuições da equipe de saúde:
A FIOCRUZ, em seu artigo, Os perigos da amamentação cruzada, também explica os riscos de doenças graves com essa prática, como a AIDS, hepatite B entre outras.
Desde 1985 a OMS, o Ministério da Saúde no Brasil contraindica a amamentação cruzada. Há diferenças entre o leite oferecido diretamente pela mãe e o que é doado para o Banco de Leite Humano (BLH), onde ele é analisado e tratado.
Não se recomenda que uma mãe amamente o bebê de outra mãe, mesmo com exames normais.
Não se pode aceitar que, em pleno século XXI, qualquer órgão de Imprensa passe informações ou orientações que coloquem em risco a saúde e a vida de milhares de lactentes.
É fundamental uma retratação rápida, com pelo menos o mesmo destaque dado à essa desinformação.
Espera-se da Rede Globo, no mínimo, a dignidade de assumir seu erro e divulgar a importância de:
1) INCENTIVAR A DOAÇÃO DE LEITE MATERNO AOS BANCOS DE LEITE HUMANO DO PAÍS.
2) INFORMAR QUE A AMAMENTAÇÃO CRUZADA NÃO É RECOMENDADA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL E PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA”.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545