Do site R7
Brasil dispõe da maior e mais complexa rede de banco de leite do mundo, mas, mesmo assim, falta leite para bebês prematuros que estão nas UTIs
por Gabriela Lisbôa
18/05/2018
O Ministério da Saúde lança nesta sexta-feira (17), em parceria com a Rede Global de Bancos de Leite Humano, uma campanha nacional para incentivar a doação de leite materno.
A data não foi escolhida à toa. No sábado (19), comemora-se o Dia Mundial de Doação de Leite Humano.
O objetivo é divulgar a prática da doação e, desta forma, aumentar o número de doadoras e o volume de leite arrecadado.
O Brasil conta com 219 bancos de leite em todo o território nacional, além de 196 postos de arrecadação de leite. É a maior e mais complexa rede de banco de leite do mundo.
No entanto, esta rede não consegue suprir a demanda e muitas crianças ficam sem leite.
Para o pediatra Moises Chencinski, do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o que falta é a consciência da importância da doação:
“Apesar de o povo brasileiro ser extremamente generoso e solidário, a consciência da importância da doação de leite não está estabelecida. A rede de doação é grande, mas, apesar disso, falta leite para os bebês prematuros que estão nas UTIs”.
De acordo com dados da Rede Paulista de Bancos de Leite Humano, em 2015, 632 mil crianças nasceram vivas no estado de São Paulo. Destas, 67 mil eram prematuras e precisaram de leite doado, mas apenas 27 mil receberam.
As outras crianças tiveram que ser alimentadas de outras formas, não tão significativas para a saúde.
As doações ajudam recém-nascidos prematuros ou de baixo peso, com menos de 2.500g que estão internados nas unidades neonatais. Normalmente, as mães que tiveram um parto prematuro também não conseguem produzir leite porque o bebê nasceu antes que o organismo da mãe estivesse pronto para isso.
Para a presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno, a pediatra Ela Giugliani, muitas mulheres não sabem que podem doar leite sem prejudicar a produção e a alimentação do seu próprio bebê.
“A produção de leite de uma lactante depende da demanda. Se a mulher amamenta o seu filho e doa leite, ela terá leite para as duas coisas. Inclusive, pode incorporar a retirada de leite para doação na sua rotina diária, sem dificuldades”, explica.
Segundo dados da Rede Brasileira de Bancos de Rede Humana, desde o início do ano, 52.142 crianças receberam leite dos bancos que foram abastecidos por 46.480 mulheres.
Toda a mulher que amamenta é uma potencial doadora, desde que esteja em perfeitas condições de saúde e não faça uso de medicação que possa interferir na amamentação. Na dúvida, o ideal é conversar com um médico sobre esta possibilidade.
Quem estiver amamentado e quiser doar basta procurar o banco de leite materno mais próximo ou ligar para o Disque Saúde, no número 136.
O leite doado não é repassado para as crianças logo em seguida. Antes disso ela passa por uma análise. São feitos testes que identificam possíveis infecções.
Se o leite for considerado bom para doação, ele passa por um processo de pasteurização, ou seja, é submetido a uma temperatura muito alta e, em seguida, a uma temperatura muito baixa. Essa variação é capaz de matar germes e bactérias que estejam no leite.
O pediatra Moises Chencinski explica que este processo é fundamental para proteger a saúde dos bebês.
A amamentação cruzada, quando uma mulher amamenta o filho de outra diretamente no peito, deixou de ser uma prática recomendada.
“O Brasil tinha a cultura da ama de leite. Este é um ato caridoso, generoso, mas desde o advento do HIV, esta prática deixou de ser recomendada porque pode acarretar riscos para a saúde do bebê. Por meio da amamentação, a mulher pode transmitir para a criança estes e outros vírus. Por isso, o mais indicado é a doação leite para um banco”, alerta o pediatra.
Não existe quantidade mínima de leite para fazer a doação.
Um pote de leite materno doado, por exemplo, é capaz de alimentar até dez recém-nascidos internados por dia – o número depende do peso de cada bebê. A criança prematura recebe cerca 1 ml de leite, dez vezes por dia.
Antes de retirar o leite, é aconselhável que a doadora faça uma higiene pessoal, cobrindo os cabelos com lenço ou touca, usando pano ou máscara sobre o nariz e a boca, lavando bem as mãos e os braços, até o cotovelo, com bastante água e sabão.
As mamas devem ser lavadas apenas com água e, em seguida, secadas com toalha limpa. O leite deve ser coletado em local limpo e tranquilo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o leite materno seja a única fonte de alimentação até que o bebê complete seis meses. A partir desta idade, até os dois anos, a recomendação é que o leite materno seja associado a outros alimentos até que a criança complete dois anos.
De acordo com o ministério, a amamentação é uma proteção eficaz, capaz de reduzir a mortalidade infantil porque causa grande impacto na saúde da criança. O leite materno pode diminuir a ocorrência de diarreias e infecções, principais causas de morte em recém-nascidos.
Chencinski explica que, se para uma criança que nasceu dentro do tempo normal de gestação, o leite materno já é importante, para uma criança prematura é ainda mais.
“Além de ajudar o bebê prematuro de baixo peso a chegar ao tamanho adequado, o leite materno vai trazer anticorpos, condições para que o bebê consiga aumentar a sua própria proteção”.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545