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Pediatras tentam lidar com problemas de saúde dos pais, mas são limitados por barreiras

Do site JorNow

Organizações profissionais, como a Academia Americana de Pediatria, recomendam que os pediatras abordem questões de saúde dos pais, como uso de tabaco, status das vacinas e violência sofrida pelo parceiro, devido ao seu forte impacto nos resultados da saúde infantil.

por Márcia Wirth

28/06/2018

Uma pesquisa nacional com mais de 200 médicos de cuidados primários pediátricos constatou que mais de três quartos abordaram pelo menos um problema de saúde parental, como depressão materna ou uso de tabaco pelos pais, durante as consultas de saúde infantil. A maioria dos profissionais reconheceu o impacto de tais problemas na saúde das crianças, mas poucos se sentiam à vontade ou responsáveis para abordá-los.

As descobertas, publicadas no Clinical Pediatrics e no Journal of Pediatrics sugerem que enquanto os médicos da atenção primária enfrentam barreiras na prática para se envolverem na promoção da saúde dos pais (incluindo falta de tempo e dificuldades de encaminhar os pais para serviços relevantes), as atitudes em relação à promoção da saúde dos pais, durante as consultas rotineiras dos filhos, também podem influenciar o comportamento do provedor.

“Os resultados mostram que os pediatras entendem como os problemas de saúde dos pais influenciam a saúde das crianças, mas sugerem que abordá-los adiciona uma camada de complexidade às suas próprias práticas, o que pode limitar compreensivelmente a capacidade ou a disposição de resolver esses problemas”, explica o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Organizações profissionais, como a Academia Americana de Pediatria, recomendam que os pediatras abordem questões de saúde dos pais, como uso de tabaco, status das vacinas e violência sofrida pelo parceiro, devido ao seu forte impacto nos resultados da saúde infantil.

Em um esforço para documentar as práticas atuais e descobrir até que ponto os médicos encaravam uma questão de saúde parental como relevante para a saúde infantil e se eles consideravam sua a responsabilidade de abordar a questão, os pesquisadores convidaram uma amostra de 1.000 pediatras para participar do estudo. 

Somente médicos que realizavam consultas ambulatoriais, no momento da pesquisa, eram elegíveis. Um total de 239 médicos respondeu à pesquisa; quase 63% eram pediatras e o restante era médicos de família.

A pesquisa se concentrou em práticas e atitudes em relação a seis questões de saúde dos pais, selecionadas com base nas diretrizes atuais de cuidados preventivos das organizações profissionais pediátricas: 
1. Depressão materna; 
2. Uso de tabaco; 
3. Violência sofrida pelo parceiro;
4. Status de imunização para dTpa (tétano, difteria e coqueluche – tríplice acelular);
5. Status de seguro de saúde; 
6. Planejamento familiar.

Além de descrever a frequência com que abordavam essas questões, os médicos foram questionados sobre as barreiras gerais à promoção da saúde dos pais enfrentadas pelos pediatras e pediram que indicassem em uma escala de cinco pontos o quanto concordavam ou discordavam das afirmações "Acredito que a questão é importante para a saúde infantil", e "Acredito que é minha responsabilidade abordar esta questão”.

Quase 80% dos entrevistados abordaram pelo menos um dos problemas de saúde dos pais em 25% ou mais consultas de crianças saudáveis. Mais comumente, eles abordaram depressão materna (82,8%) e uso de tabaco (92,4%) por meio de triagem e orientação aos pais. 

Menos da metade, no entanto, abordou a violência sofrida pelo parceiro (44,4%), o planejamento familiar (33,8%) e o seguro saúde (45,9%). A grande maioria (mais de 85%) endossou a falta de tempo como uma barreira, enquanto mais da metade indicou que questões relacionadas a esses temas eram barreiras para lidar com a saúde dos pais.

Mais de 90% dos entrevistados concordaram que a depressão materna, o tabagismo, a violência sofrida pelo parceiro e o status de imunização para dTpa eram importantes para a saúde infantil, enquanto poucos concordavam que o planejamento familiar e o seguro saúde eram (59,2% e 53,6%, respectivamente). 

As percepções de responsabilidade seguiram um padrão semelhante: a maioria também concordou que era sua responsabilidade abordar a depressão materna (85,7%), o uso de tabaco (93,3%), o status de imunização para dTpa (81,8%) e a violência sofrida pelo parceiro (62,8%). 

Uma minoria (31,9 e 22,6%, respectivamente) concordou que eles eram responsáveis por abordar também questões de planejamento familiar e seguro de saúde.

No geral, apontam os pesquisadores, mais entrevistados em cada categoria concordaram que os problemas de saúde dos pais tiveram um impacto importante na saúde de seus filhos do que concordaram que era sua responsabilidade trabalhar neles. Essa diferença entre relevância percebida e responsabilidade foi mais notável para a violência sofrida pelo parceiro (diferença de 30,5%), planejamento familiar (24,4%) e seguro saúde (31,0%).

“Pesquisas como esta não apenas destacam o escopo da promoção da saúde dos pais, que já ocorre nos ambientes de atenção primária pediátrica, mas também reforçam a necessidade de compreender melhor como os sistemas de saúde podem apoiar as práticas atuais e quais fatores influenciam as atitudes dos pediatras em relação a essas atividades”, destaca Moises Chencinski.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545