Do site JorNow
Nessa semana, quem tem filhos, quem cuida de crianças e acompanha seu crescimento e desenvolvimento começa a se preparar para sexta-feira, dia 12 de outubro. É feriadooooooooooooo. Yessssssssssssssss.
11/10/2018
Sim, mas, além disso, é o Dia das Crianças. Muito além da comemoração, da questão comercial, vamos aproveitar para refletir a respeito do tema?
E após muito pensar, depois de analisar, tentando avaliar o que aconteceu com o mundo e com a infância desde que eu fui criança (tá, ainda tenho muito disso, faz muito tempo, mas ainda me recordo), relembrando esses meus muitos anos de vida, fiquei um pouco triste com a “minha” conclusão:
As crianças estão “adultescendo” muito cedo e muito rapidamente. E somos nós que estamos permitindo isso. E até mais: nós somos os responsáveis por esse “adultescimento precoce infantil”.
Pior é analisar como eu percebi isso. Desde 2015, foram publicados documentos importantes que, se observados com atenção, seriam inimagináveis e desnecessários há 40, 30 ou até 20 anos atrás. Mas hoje...
RECEITE UM LIVRO – Fortalecendo o desenvolvimento e o vínculo (2015) – Uma ótima iniciativa da Sociedade Brasileira de Pediatria em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e Fundação Itaú Social. Site da SBP(clique no link) – para “incentivar” a leitura.
SAÚDE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ERA DIGITAL (2016) – Departamento de Adolescência da SBP (Link) – para alertar sobre os benefícios e os muitos riscos da introdução precoce das crianças no assim chamado “mundo digital” e limitar a sua participação tão intensa, tão cedo na vida deles.
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA (2017) – Documento Científico do Grupo de Trabalho em Atividade Física da SBP. Entrevista e Link ressaltando a importância do sedentarismo gerando obesidade infantil, com “dicas” sobre “atividades” para crianças por faixas etárias (0 a 2 anos, 3 a 5 anos e 6 a 19 anos).
A CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS E O MUNDO DIGITAL (2018) - Fernandes, Claudia Mascarenhas, Evelyn Eisenstein, and Eduardo Jorge Custódio da Silva. "A CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS E O MUNDO DIGITAL." - Link (do site da SBP) – que conclui que “o uso de mídias digitais por crianças de 0 a 3 anos de idade num período fundamental de crescimento e desenvolvimento cerebral e mental é prejudicial e portanto, não se recomenda o oferecimento de telefone celular ou smartphone como um “brinquedo” ou “distração”.
O poder do brincar: um papel pediátrico no aumento do desenvolvimento de crianças pequenas (The Power of Play: A Pediatric Role in Enhancing Development in Young Children - 2018) - Link – reforçando o quanto é importante brincar para o vínculo familiar, para o desenvolvimento da criança e recomendando que essa atividade seja “prescrita pelo pediatra em consulta” (Oi?).
GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS ATÉ 2 ANOS DE IDADE (2018 / 2019 – Link da Consulta Pública encerrada em julho/2018 com previsão de lançamento para 2019) – em que existem recomendações e orientações para público em geral e profissionais de saúde possam oferecer às crianças até 2 anos de idade uma alimentação saudável, entre as quais, leite materno exclusivo até 6 meses, complementado até 2 anos ou mais, ZERO AÇÚCAR de adição, até os 2 anos e cuidados com a publicidade de alimentos infantis, que fazem parte dos agora DOZE PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL (antes eram DEZ em 2014).
O que aconteceu nesse tempo (últimos 10 anos, vai) que se faz necessário e importante que o pediatra alerte a família de uma criança de meses ou de 2, 3 ou 6 anos, durante uma consulta de rotina, a respeito de comer direito e cuidados com a propaganda de alimentos, de “ter que brincar”, de ter atividade física “fora de casa” como correr, andar de bicicleta, empinar pipas, não ficar na TV, computador, tablet ou celular.
Não se vê mais pais chamando seus filhos (às vezes até “correndo atrás deles”) na rua, nos parques, para virem pra casa tomar banho, comer com a família, ler (e reler, e reler...) uma história na hora de deitar, antes de dormir.
Ao invés disso, vemos, cada dia com mais “naturalidade”, os eletroeletrônicos tomam conta da vida e das crianças que “precisam” assistir TV, ou desenhos no tablet, ou no celular para se sentarem e comerem (frase que ouvi: o celular é a nova chupeta). Crianças e adolescentes ficam fechados em seus quartos por horas a fio, mesmo aos finais de semana, mesmo tarde da noite, com seus amigos virtuais (ou até reais), ao invés de encontrar e trocar experiências, emoções, afetos.
Livros, cinemas, teatros, clubes, passeios, músicas infantis fazem parte de um passado tão remoto...
Sugestões de presentes para o Dia das Crianças:
- Vínculo.
- Olhares atentos trocados.
- Beijos, beijos, muitos beijos.
- Muito colo. Muito abraço.
- Vozes, conversas.
- TEMPO.
Sem esquecer os já tradicionais:
- Ler juntos;
- Cantar e dançar juntos (sim, isso ainda espanta os males);
- Passear juntos;
- Brincar muuuitoooo juntos;
- Comer juntos;
- Filmes, peças, shows... juntos lógico.
- FAMÍLIA.
Será que ainda dá tempo de resgatar a criança de hoje e juntar com a “nossa criança” que ainda anseia por isso (como Peter Pan, lembra dele?), mas que ficou muito séria, muito ocupada, muito preocupada, muito “adulta”?
Que tal “desadultescer” as crianças e até nós mesmos, nesse dia 12, e brincarmos de roda mais um pouco?
Uni duni tê, salame minguê, um sorvete colorê, o escolhido...
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545