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Desde a Grécia Antiga, Hipócrates já ensinava que existiam duas formas de tratamento: pelo princípio dos contrários e pelo princípio dos semelhantes
por Márcia Wirth
14/01/2019
Após investigação feita pelo Senado Australiano, o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália (NHMRC) assumiu, recentemente, que não seguiu padrões ou protocolos científicos reconhecidos na revisão que realizou sobre as evidências científicas em homeopatia, em 2015, a qual, à época, concluiu não existirem evidências que respaldassem o método homeopático de tratamento das doenças. Esta revisão, sem fundamentação científica, foi utilizada para justificar a remoção do reembolso do seguro-saúde para essa terapia.
“Em março de 2015, o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália (NHMRC) publicou um Information Paper sobre homeopatia, comumente chamado de ‘O Relatório Australiano’. Este documento conclui que ‘... não há condições de saúde para as quais haja evidências confiáveis de que a homeopatia é eficaz’. O relatório provocou manchetes em todo o mundo, sugerindo que o NHMRC descobriu que a homeopatia não funciona em nenhuma condição”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski.
Uma extensa investigação, conduzida por Gerry Dendrinos, da Associação Australiana de Homeopatia (AHA), sobre a conduta do NHMRC, combinada com uma análise científica aprofundada do relatório, revelou evidências de má conduta processual e científica na produção deste documento, tais como:
O NHMRC fez a revisão sobre homeopatia, duas vezes, produzindo dois relatórios, um em julho de 2012, e o divulgado ao público, em março de 2015;
A existência do primeiro relatório nunca foi divulgada, só foi descoberta através de solicitações da lei Freedom of Information (FOI), semelhante à LAI: A Lei de Acesso à Informação;
O NHMRC alegou que rejeitou o primeiro relatório devido à sua má qualidade, apesar de ter sido realizado por um cientista respeitável e autor das próprias diretrizes do NHMRC sobre como realizar revisões de evidências;
As solicitações da lei Freedom of Information (FOI) revelaram que um membro do comitê de especialistas do NHMRC, que supervisiona o processo de revisão - Fred Mendelsohn - confirmou que a primeira revisão é de alta qualidade, dizendo: “Estou impressionado com o rigor, meticulosidade e abordagem sistemática dada a esta avaliação. No geral, um trabalho excelente foi feito para se chegar às conclusões dessa revisão e os resultados são apresentados de maneira sistemática, imparcial e convincente”;
O NHMRC alegou que os resultados do segundo relatório, publicado em 2015, foram baseados em uma "avaliação rigorosa de mais de 1.800 estudos". Na verdade, os resultados foram baseados em apenas 176 estudos;
O NHMRC usou um método que nunca foi usado em nenhuma outra revisão, antes ou depois. O NHMRC decidiu que, para os testes serem "confiáveis", eles precisavam ter pelo menos 150 participantes e atingir um limiar anormalmente alto de qualidade. Isso ocorreu apesar do fato de o próprio NHMRC conduzir rotineiramente estudos com menos de 150 participantes;
Essas regras sem precedentes e arbitrárias significaram que os resultados de 171 estudos foram completamente desconsiderados como sendo "não confiáveis", deixando apenas 5 estudos considerados pelo NHMRC como "confiáveis". Como eles avaliaram todos os cinco estudos como negativos, isso explica como o NHMRC concluiu que não havia evidências "confiáveis";
O professor Peter Brooks, presidente do comitê do NHMRC, que conduziu a revisão de 2015, assinou um formulário de conflito de interesses declarando que ele não era “afiliado ou associado a nenhuma organização cujos interesses são alinhados ou contrários à homeopatia”, apesar de ser membro de em grupo de lobby contrário à homeopatia, Amigos da Ciência em Medicina;
As diretrizes do NHMRC afirmam que tais comitês para revisão de estudos devem incluir especialistas no assunto que está sendo revisado, mas não há nenhum especialista em homeopatia nesse comitê.
Em agosto de 2016, a análise científica aprofundada do relatório foi usada como parte de uma denúncia apresentada à Commonwealth Ombudsman (Ouvidoria Estatal), feita por entidades médicas, Complementary Medicines Australia, Australian Homoeopathic Association e Australian Traditional Medicine Society.
“Uma avaliação inicial considerou que a queixa tinha mérito suficiente para justificar uma investigação completa sobre a conduta do NHMRC. Nos meses seguintes, esse processo envolveu contribuições contínuas de ambas as partes, já que o NHMRC responde às acusações de preconceito, conflito de interesse e má conduta científica”, afirma Moises Chencinski.
Como as investigações estão em andamento, a análise completa - cerca de 60 páginas - não pode ser compartilhada ainda, mas os dados do relatório forneceram detalhes que demonstram os seguintes fracassos científicos da NHMRC que exigem a retratação do Relatório Australiano:
- Uso de método científico inapropriado;
- Falha ao usar métodos padronizados e aceitos;
- Falha na obtenção de dados suficientemente precisos para realizar uma revisão significativa;
- Não realizar uma consulta preliminar e pública eficaz;
- Mudanças post-hoc significativas no protocolo de pesquisa;
- Impacto de método incomum do NHMRC nos resultados da revisão;
- Evidência de preconceito e falta de informação;
- Relatórios pobres - falta de clareza, inconsistências e erros;
- Evidência de que se tratava de um viés deliberado, não de erro científico.
“As entidades reclamantes estão agora à espera de uma resposta do Provedor de Justiça sobre sua representação. Como a revisão sobre homeopatia imprecisa do NHMRC teve um impacto significativo no campo da pesquisa de homeopatia, em todo o mundo, todas as novidades sobre a queixa serão divulgadas à medida que o caso avança”, diz o médico.
A investigação do NHMRC sobre a Homeopatia aconteceu entre 2010-2015. O NHMRC trabalhou inicialmente com um contratante externo - de abril de 2012 a agosto de 2012 - para produzir uma revisão das evidências sobre homeopatia e informar o público australiano.
O relatório produzido foi chamado de "Uma Revisão Sistemática da Evidência de Eficácia da Homeopatia". Esta revisão, paga pelos contribuintes australianos, nunca foi tornada pública e o NHMRC continua a se recusar a liberá-la, apesar dos repetidos pedidos via Freedom of Information (FOI).
Após o término do contrato com a primeira equipe de revisão, uma segunda equipe externa foi contratada - a OptumInsight - para fazer a revisão da homeopatia novamente, entre dezembro de 2012 a março de 2015.
Críticas à precisão das descobertas do NHMRC
“Solicitações via Freedom of Information (FOI) trouxeram à luz que dois especialistas independentes também levantaram preocupações sobre as conclusões do relatório de 2015, durante a revisão, por pares, antes da publicação final”, relata o médico.
O Centro Austral Austríaco Cochrane comentou que, para algumas condições, “… "nenhuma evidência confiável" não parece um reflexo preciso do corpo de evidências "; um segundo especialista sentiu-se “incerto quanto à natureza definitiva das conclusões do Relatório”. O NHMRC optou por não agir com base nesse feedback e não alterou suas conclusões.
“Ao contrário das descobertas do NHMRC, existem estudos de boa qualidade e bem desenhados com participantes suficientes para um resultado significativo” (para usar a descrição do NHMRC de um estudo confiável) que mostram que certos tratamentos homeopáticos são eficazes para certas condições como febre do feno, sinusite, infecções do trato respiratório superior, diarreia em crianças e dor lombar. O fato de os resultados de tais estudos terem sido dispensados, injustificadamente, significa que o NHMRC enganou o público ao declarar erroneamente as evidências de ineficácia da homeopatia”, explica o médico homeopata.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545