Do site Bem Paraná
“Sentados”, este é um mantra das salas de aula... Mas isso está mudando à medida que as evidências mostram que fazer breves intervalos de atividade, durante o dia, ajuda as crianças a aprender e a serem mais atentas na sala de aula.
por Márcia Wirth
08/04/2019
“Precisamos reconhecer que as crianças ‘são movimento’. Nas escolas, às vezes, agimos contra a natureza humana, pedindo-lhes para ficar quietas e sentadas o tempo todo. Caímos na armadilha de pensar que se as crianças estão em suas mesas, com suas cabeças para baixo, silenciosas e escrevendo, estão aprendendo. Mas o que descobrimos é que o tempo ativo usado para energizar o cérebro torna os momentos de aprendizagem ainda melhores”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Um relatório de 2013 do Instituto de Medicina concluiu que as crianças que são mais ativas “demonstram maior atenção, têm velocidade de processamento cognitivo mais rápido e melhor desempenho em testes acadêmicos padronizados do que crianças que são menos ativas”. E um estudo, publicado em janeiro, pela Universidade de Lund, na Suécia, mostra que os alunos, especialmente os rapazes, que faziam educação física diariamente tinham melhores resultados na escola.
“A atividade física diária é uma oportunidade para a escola média se tornar uma escola de alto desempenho. A atividade ajuda o cérebro de muitas maneiras: estimula mais vasos sanguíneos no cérebro para suportar mais células cerebrais. E há evidências de que crianças ativas se saem melhor em testes padronizados e prestam mais atenção na escola”, destaca o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O movimento ativa todas as células cerebrais que as crianças estão usando para aprender, acorda o cérebro. Além disso, faz com que as crianças queiram ir mais à escola - é divertido fazer essas atividades. Mas, mesmo diante das evidências científicas, as escolas ainda apostam a maior parte do tempo nas atividades acadêmicas. É raro encontrar escolas que ofereçam aulas diárias de educação física.
Menos tempo na cadeira
“As crianças, assim como os adultos, não devem ficar sentadas o dia todo, recebendo informações”, observa o médico. Nos EUA, a National Association of Physical Literacy produziu uma série de vídeos de três a cinco minutos chamados “BrainErgizers” que estão sendo usados em escolas em 15 estados americanos, no Canadá, no México, na Irlanda e na Austrália. Uma versão do programa está disponível para as escolas sem nenhum custo.
O programa é projetado para que de três a cinco vezes por dia, os professores possam reservar alguns minutos para que os alunos assistam a um vídeo e sigam as dicas dadas pelos instrutores. Em um vídeo típico, os instrutores são estudantes da Universidade de Connecticut que fazem um aquecimento rápido e depois propõem que as crianças participem de um mini-treino envolvendo movimentos de vários esportes: beisebol, basquete e um triatlo.
“Ao final de uma semana, as crianças têm uma hora ou mais de movimento. E tudo é feito na sala de aula sem equipamentos especiais. A proposta não é substituir as aulas de educação física, o objetivo é oferecer às crianças mais minutos de movimento por semana. A introdução dos vídeos dá às crianças uma chance de experimentar esportes que elas nunca tenham experimentado antes. Esta é uma geração digital que espera se divertir, e a proposta desse movimento é usar a tecnologia para que as crianças se movam mais e se mantenham entretidas”, explica Moises Chencinski.
Mais que aulas de educação física
Nas aulas de educação física, muitas vezes, as crianças se movem por cerca de 15 minutos, durante um período de 50 minutos. Se acrescentarmos essa atividade na sala de aula, algumas vezes por dia, isso pode render pelo menos 60 minutos a mais de movimento por semana.
Já em 1961, o presidente Kennedy defendia que as crianças precisavam de atividade física nas escolas para se desenvolver. Michelle Obama tinha a mesma intenção ao criar o movimento “Let’s Move – Active Schools”.
“Precisamos conhecer essas novas experiências, pois, nos últimos 20 anos, as escolas estão cedendo apenas à pressão acadêmica. Não estamos pensando em como a atividade física pode ajudar as crianças a lidarem com o estresse para beneficiá-los na sala de aula”, defende o médico.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545