Do portal SEGS
O recreio é um componente crucial e necessário do desenvolvimento de uma criança e, como tal, não deve ser usado por razões punitivas ou acadêmicas
por Márcia Wirth
29/05/2019
Quando se trata de disciplina em sala de aula, cada escola tem seu próprio conjunto de regras - mas uma “resposta universalmente popular ao mau comportamento” é proibir que as crianças participem do recreio.
O problema é que muitas pesquisas vêm mostrando que o recreio beneficia a saúde mental e física das crianças. Assim, quando o tempo para brincar e aproveitar o ar fresco é eliminado como uma “tática disciplinar”, as consequências podem ser piores do que o pretendido.
Embora agora em declínio, a proibição de ir ao recreio foi prática comum. Os administradores escolares argumentavam, no passado, que tirar o tempo de brincadeira livre era uma forma eficaz de coibir o mau comportamento dos estudantes. Uma pesquisa da Fundação Robert Wood Johnson, realizada em 2010, revelou que 77% dos diretores americanos relatavam a suspensão do recreio como punição. Isso é um pequeno decréscimo em relação aos resultados de um estudo de 2006, publicado no Journal of School Health, que descobriu que mais de 81% das escolas americanas adotavam a política de tirar o recreio escolar.
“Mas hoje, cada vez mais, os funcionários das escolas estão reconhecendo que tirar o recreio faz mais mal do que bem à saúde física, emocional e comportamental de uma criança. Como resultado, muitas escolas não adotam mais esta prática. A atividade física e brincadeira desestruturada não são luxos para as crianças, e sim partes fundamentais do seu aprendizado e crescimento”, afirma o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
Em um documento de 2012, a Academia Americana de Pediatria afirmou que um tempo de recreio seguro e supervisionado beneficia o desenvolvimento cognitivo, social, emocional e físico do aluno, dando-lhe uma pausa dos “desafios acadêmicos concentrados na sala de aula. O recreio é único. É um complemento da educação física - não um substituto para ela”.
Múltiplos estudos mostraram que, quando as crianças têm pelo menos 20 minutos de recreio - o tempo recomendado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA -, elas se tornam mais atentas e produtivas nas aulas. “A pesquisa também provou que o brincar pode ajudar as crianças a desenvolver habilidades de comunicação, como solução de problemas e cooperação. Também é fato que o brincar ajuda nas habilidades de enfrentamento, como autocontrole e determinação”, destaca o médico.
De fato, um estudo da Universidade do Colorado, publicado no Frontiers in Psychology, descobriu que estudantes de 6 anos de idade que participavam de brincadeiras livres e outras atividades não estruturadas com mais frequência, apresentavam habilidades maiores para funções executivas, tais como gerenciamento de tempo e tomada de decisões.
“Não há como negar que o recreio desempenha um papel crucial na vida de uma criança. Vamos torcer que mais escolas percebam que tirá-lo é mais prejudicial do que educativo”, defende o pediatra.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545