Do blog PEDIATRA ORIENTA
A doação de leite é um gesto simples de generosidade que pode ajudar crianças prematuras.
Relatores:
Dra. Andrea Penha Spinola Fernandes
Dr. Moises Chencinski
19/05/2019
O brasileiro é generoso. Basta chegar o frio e lá vai ele doar roupas e cobertores para quem não conhece, mas sabe que precisa. Chega notícia de uma catástrofe e ele coleta água, alimentos não perecíveis e encaminha aos necessitados. Então, o que falta para que essa generosidade se estenda aos prematuros?
O Brasil tem a maior rede de bancos de leite humano (rBLH) do mundo e até exporta tecnologia para mais de 30 países. Mas você sabia que falta leite em nossos estoques no País todo?
São Paulo é o estado com a maior concentração de Bancos de Leite Humano (59 unidades). Nos últimos 10 anos, apesar de termos um aumento de volume de leite humano coletado e de 16% no número de doadoras, a oferta foi menor do que a necessidade dos prematuros em nosso Estado (60.000 bebês/ano). Os estoques de leite humano se mantêm baixos, principalmente em época de férias.
O trabalho das equipes dos bancos de leite é árduo e não para nunca: eles capacitam os profissionais, sensibilizam os gestores hospitalares, precisam do apoio da rede básica de atenção à saúde e colaboram com o cumprimento das leis de proteção ao aleitamento materno, surgindo como política pública de saúde, com necessidade de investimento para ampliação e manutenção da Rede de Bancos de Leite Humano.
Vale sempre lembrar que o leite em excesso que uma mãe tem ou é “jogado fora” (ai que dó!) ou, se ficar parado nas mamas, pode levar a ingurgitamento mamário (leite empedrado), ducto bloqueado, mastite e abscesso mamário (ai que dor!), correndo risco até de desmame precoce.
A informação sobre doação de leite precisa ser divulgada, começando no pré-natal, passando por uma consulta com o pediatra a partir da 32° semana de gestação, nas maternidades, quando o bebê nasce, junto com a adequada orientação da mamada. Depois, nas consultas de puericultura (acompanhamento do bebê saudável) nos consultórios e nas unidades de saúde, os profissionais devem orientar sobre a importância da doação.
Acompanhe o raciocínio e veja se isso não aconteceu com você ou alguém que você conhece:
Uma mulher trabalhadora que amamenta vai voltar ao trabalho (não importa se aos 2, 3, 4 ou 6 meses após o parto). Aí ela é orientada a retirar seu leite para deixar em casa (12 horas na geladeira e/ou 15 horas congelado). Ela está ansiosa, não tem orientação adequada. Vai à internet, às redes sociais, ao Google e lê ou vê vídeos sobre como fazer. Ela tenta. E… sai muito pouco, ou não sai.
Resultado?
1. Ansiedade, tristeza, desânimo. Ela acha que não vai ter leite suficiente para deixar para seu bebê;
2. Ela não quer nem imaginar que seu bebê possa passar fome;
3. Sem apoio e sem orientação, ela oferece, com muita dor no coração, até mesmo antes da volta ao trabalho, mamadeira com fórmula infantil (que é leite de vaca ou cabra).
Vamos analisar outra situação:
Uma mulher trabalhadora que amamenta recebe informações sobre doação de leite e apoio desde o pré-natal. Na maternidade é orientada sobre como retirar o seu leite, nas consultas de Puericultura ela tira suas dúvidas sobre a doação e é preparada até pelo banco de leite (que trabalha de portas abertas, recebendo mulheres para esclarecimentos). Ela entendeu que a doação é do excesso de leite, após amamentar seu filho, e muitos bancos de leite vão até a sua casa, orientam, avaliam e buscam, periodicamente, o leite que foi armazenado.
Quinze dias antes dessa mulher-mãe voltar ao trabalho, sabendo a técnica adequada, tendo a certeza de que ela tem leite para seu filho e ainda para doação (de qualquer quantidade de leite que seja), recebendo informação e apoio, ao invés de doar o leite para o BLH ela passa a reservar para seu filho.
Em qual dessas situações parece mais provável que a amamentação possa se manter exclusiva até o sexto mês, com a mãe saindo para trabalhar mais segura e mais confiante?
Então vamos celebrar o dia 19 de maio, Dia Mundial da Doação de Leite Humano, como mais um ato de brasileiros que têm a generosidade no seu sangue e no seu leite.
Para se tornar doadora é muito simples. Se a mulher é saudável, se está amamentando seu bebê e sobra leite nas mamas, ao invés de desprezar o excedente, pode seguir as normas higiênico-sanitárias para coleta de leite humano:
• usar um recipiente de vidro esterilizado,
• armazenar em congelador por até 15 dias,
• ligar para o banco de leite humano mais próximo de sua residência.
A lista completa dos BLH do Brasil está no site www.rblh.fiocruz.br junto com orientações para coleta.
Vamos repetir como um mantra o tema deste ano:
DOE LEITE MATERNO. ALIMENTE A VIDA!
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545