Do site do Jornal Folha Regional
Crianças com doença hepática gordurosa reduziram drasticamente a quantidade de gordura e a inflamação em seus fígados, cortando refrigerantes, sucos de frutas e alimentos com adição de açúcares
por Márcia Wirth
15/08/2019
Crianças com sobrepeso com doença hepática gordurosa reduziram drasticamente a quantidade de gordura e a inflamação em seus fígados cortando refrigerantes, sucos de frutas e alimentos com adição de açúcares de suas dietas, segundo um novo estudo.
A nova pesquisa, publicada no JAMA, sugere que limitar alimentos e bebidas açucarados pode ser uma estratégia de estilo de vida promissora para ajudar a aliviar uma condição devastadora ligada à crise de obesidade que está se espalhando rapidamente em adultos e crianças. Estima-se que 80 a 100 milhões de americanos tenham doença hepática gordurosa não alcoólica, o que faz com que o fígado inche com níveis perigosos de gordura. Cerca de sete milhões são crianças e adolescentes.
“A doença hepática gordurosa geralmente apresenta poucos sintomas, e muitas pessoas que a têm não sabem disso. Ela aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, e pode evoluir para uma condição mais grave chamada esteato-hepatite não alcoólica, ou DHGNA, que é uma das principais causas de câncer de fígado, cirrose e transplante de fígado”, explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
As diretrizes atuais pedem que as crianças com doença hepática gordurosa se exercitem e sigam uma dieta saudável, embora não especifiquem que alimentos são esses. Mas alguns especialistas já aconselham seus pacientes com fígado gorduroso a evitar açúcares adicionados, que os fabricantes comumente acrescentam a alimentos altamente processados, e que são diferentes dos açúcares que estão presentes naturalmente em alimentos como frutas. Açúcares adicionados são tipicamente ricos em frutose, o que pode aumentar a produção de gordura quando é metabolizada pelo fígado.
“O padrão atual de atendimento das crianças com fígado gorduroso é muito semelhante ao que recomendamos para qualquer criança que está com sobrepeso. Infelizmente, essa recomendação geral não melhorou a doença, e não havia grandes ensaios randomizados sobre qual dieta é a melhor para o fígado gordo”, explica o pediatra.
O novo estudo
Para o novo estudo, os pesquisadores recrutaram 40 crianças, com cerca de 13 anos de idade, que tinham doença hepática gordurosa. A maioria era hispânica, um grupo que tem uma prevalência particularmente alta desse quadro, com uma média de 21-25% de gordura hepática, mais de quatro vezes o limite normal.
Os pesquisadores então distribuíram, aleatoriamente, as crianças em dos dois grupos de dieta durante oito semanas. Um grupo limitou os açúcares adicionados, e o segundo grupo de crianças, que serviu como controle, permaneceu em suas dietas usuais. Eles não receberam instruções especiais para evitar ou diminuir o açúcar.
Para tornar a dieta mais fácil e prática para as crianças do grupo com açúcar limitado, os pesquisadores pediram que suas famílias a seguissem também. Eles adaptaram a dieta às necessidades de cada família, examinando os alimentos consumidos em uma semana típica e, em seguida, trocando por alternativas com níveis de açúcar mais baixos. Se uma família rotineiramente comia iogurtes, molhos, molhos para salada e pães que continham açúcar adicionado, por exemplo, os pesquisadores lhes forneceram versões desses alimentos que sem açúcar.
Sucos de frutas, refrigerantes e outras bebidas doces eram proibidas. Eles foram substituídos por chás gelados sem açúcar, leite, água e outras bebidas não-alcoólicas. Nutricionistas preparavam e distribuíam as refeições para as famílias, duas vezes por semana, o que os ajudava a manter seus programas.
Em última análise, a dieta baixa em açúcar não era terrivelmente restritiva. Não foi low-carb, nem foi limitadora de calorias. As crianças podiam comer frutas, amidos e massas, por exemplo, o quanto quisessem. Mas o objetivo era manter a ingestão de açúcar em menos de 3% de suas calorias diárias – menos do que o limite de 5-10% recomendado para adultos e crianças pela Organização Mundial de Saúde.
Após oito semanas, o grupo com baixo teor de açúcar reduziu o consumo para apenas 1% de suas calorias diárias, em comparação com 9% no grupo de controle. Eles também alcançaram uma mudança notável na saúde do fígado. Tiveram uma redução de 31% na gordura do fígado, em média, em comparação com nenhuma mudança no grupo controle. Eles também apresentaram uma queda de 40% em seus níveis de alanina aminotransferase, ou ALT, uma enzima hepática que aumenta quando as células do fígado são danificadas ou inflamadas.
Segundo os autores do estudo, “a melhor parte do estudo não foi apenas a gordura diminuir, mas as enzimas hepáticas também melhorarem. Isso sugere que as crianças também tiveram uma redução na inflamação”.
“A melhor dieta para o fígado, para tornar as coisas mais simples, é comprar nos corredores externos dos supermercados e ficar longe dos corredores do meio, contendo alimentos processados que vêm em caixas, latas e pacotes”, orienta Moises Chencinski.
Os membros do grupo de baixo teor de açúcar perderam cerca de três quilos durante o estudo, o que pode ter contribuído para melhorar a saúde do fígado. Segundo os autores, “as crianças que seguiram uma dieta pobre em açúcar perderam alguns quilos em média, mas essa quantidade de perda de peso nunca foi associada a esse grau de melhora”. Eles estão fazendo análises de acompanhamento para descobrir mais. O objetivo agora é se certificar que essa terapia pode realmente tratar a doença com o objetivo de prevenir cirrose, doença hepática terminal e câncer de fígado.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545