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Mais de 80% dos pais já usaram o tratamento homeopático com os filhos, aponta pesquisa

Do site da Revista Crescer

Publicada nas redes sociais da CRESCER, a pesquisa contou com a participação de 766 pessoas. Entenda como a homeopatia funciona

por Amanda Oliveira

21/11/2019

Recorrer à homeopatia como tratamento é uma alternativa utilizada por muitos pais. É o que mostra uma pesquisa realizada pela CRESCER em suas redes sociais. Das 766 pessoas que responderam ao questionário, 86,3% disseram que já optaram por esse tipo de tratamento para os filhos. 

Para marcar o Dia Nacional da Homeopatia, celebrado nesta quinta-feira (21), fizemos um panorama, mostrando como esse tratamento funciona para as crianças. A homeopatia começou a ganhar destaque em 1810, com a publicação do livro do médico alemão Samuel Hahnemann, Organon da arte de curar

A prática é reconhecida como uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980. No Brasil, os profissionais que trabalham com o método precisam se formar em cursos tradicionais de medicina antes de se especializar. Todo homeopata, portanto, conta com o conhecimento alopata. O alopata, por outro lado, nem sempre conhece a homeopatia. 

Segundo o pediatra e homeopata, Moises Chencinski, a homeopatia é uma especialidade que não foca em uma doença específica, mas no paciente como um todo. "Duas crianças podem vir aqui com os mesmos sintomas e saírem da consulta com medicamentos diferentes", diz. O médico explica que cada um reage a um agente nocivo de formas diferentes e, por isso, é importante que o tratamento seja individualizado. 

Para Chencinski, como a homeopatia não trata doenças e sim desequilíbrios causado por determinadas patologias, é necessário ter cuidado com algumas ideias equivocadas. "A homeopatia não pode tratar o câncer, isso é feito com quimioterapia. No entanto, as crianças com câncer podem se beneficiar do uso da homeopatia para minimizar sintomas como o vômito e náusea", diz. 

Como funciona 

O especialista afirma que a homeopatia é um método terapêutico. Ele consiste em prescrever para pacientes doses diluídas de uma substância que, em quantidades elevadas, causaria sintomas semelhantes aos da doença que se quer combater. 

Dessa forma, os homeopatas primeiro investigam quais reações querem tratar e depois procuram uma substância que causaria esses sintomas em uma pessoa sã. O próximo passo é fazer o tratamento da substância. Por exemplo, no caso do arsênico, que é um veneno, ele é diluído até ficar em um estado em que não cause riscos aos pacientes, diz o pediatra. 

Na sala com um homeopata

Chencinski explica que a consulta com o homeopata começa como qualquer consulta tradicional. O médico pergunta sobre os sintomas dos pacientes e tenta entender quando eles começaram a se manifestar. "Mas eu não pergunto apenas sobre a enxaqueca, busco saber como está o sono e alimentação", diz. No caso das crianças, o especialista sempre fica atento à vacinação. 

De acordo com o médico, a homeopatia busca ir ainda mais a fundo nas investigações. Dessa forma, foca no relacionamento das crianças com a escola e em seu comportamento, se tem uma atitude mais calma ou mais agitada, se tem medo de escuro ou não.

"Sintomas que não seriam nada para um tratamento alopático, a medicina tradicional, faz todo o sentido para um homeopata", afirma Chencinski. Para ele, tudo que diferencia o paciente de um comportamento normal pode ser considerado pela homeopatia. Por exemplo, se uma pessoa alegre e falante fica mais quieta. É preciso, assim, identificar quais são as causas da mudança de comportamento. 

Efeito placebo? 

Uma das críticas aos tratamentos homeopáticos é que eles funcionariam como medicamentos placebos, que têm efeito terapêutico devido à crença dos pacientes. Chencinski pensa de forma diferente. Para ele, se os tratamentos homeopáticos fossem placebos, eles não fariam efeito em recém-nascidos ou na área da medicina veterinária, por exemplo "Como fazer a cólica de um bebê passar conversando com ele ou mesmo fazer uma vaca dar mais leite apenas conversando com ela", diz. 

Segundo Chencinski, outro mito referente à homeopatia diz respeito às vacinas. A ideia de que o sistema rejeita recursos considerados um avanço pela medicina, como as vacinas, não é verdadeira. O pediatra esclarece que rejeitar as vacinas não é uma conduta aprovada pela Associação Médica Homeopática Brasileira AMHB. No site da associação, há um texto em destaque que alerta: "(...) a recomendação desta entidade é que se cumpra o calendário oficial de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde".

Os cuidados

Para Eduardo Gubert, médico intensivista e preceptor da matéria de Clínica Pediátrica da Residência em Pediatria do Hospital Pequeno Príncipe, apesar de, em alguns casos, pacientes relatarem progresso com a homeopatia, ainda não há comprovações científicas suficientes de que essa prática é realmente eficiente. "Eu não impeço os pais de usarem a homeopatia, desde que eles não sejam contra a alopatia. Eu acredito que é possível fazer um casamento entre os dois métodos", afirma.  

No entanto, ele alerta: por mais que os homeopatas recomendem que as crianças sejam vacinadas, muitos pais tendem a não fazer isso, devido a uma resistência aos tratamentos alopáticos. Para o médico, é preciso reverter esse pensamento. Além disso, o especialista ainda ressalta que, em alguns casos, os tratamentos alopáticos são imprescindíveis como em infecções bacterianas. 

Segundo o médico, a homeopatia pode ser usada principalmente para amenizar sintomas como os de gripe e ansiedade. Entretanto, é preciso ter alguns cuidados, porque no caso dos medicamentos alopáticos, eles são testados e passam por regulamentações rigorosas. Os homeopáticos, não. 

Em 2015, os cientistas do National Health and Medical Research da Austrália (NHMRC), concluíram, a partir de 225 estudos, que não existem evidências científicas suficientes para comprovar que a homeopatia é efetiva.

Este ano, o NHMRC divulgou o rascunho de um novo relatório. Coordenado pela professora Anne Kelso, a revisão não concluiu que a homeopatia é ineficaz, no entanto, afirma que com base nas avaliações ainda não há evidências confiáveis suficientes para atestar sua eficiência. 

No Brasil, os medicamentos homeopáticos estão incluídos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e podem ser encontrados no SUS. 

Na contramão da política brasileira, este ano, a ministra da Saúde da França, Agnès Buzyn, divulgou que o sistema público de saúde do país não vai subsidiar os reembolsos de parte dos valores gastos com tratamentos homeopáticos a partir de 2021.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545