Do site da ABRASCO
É felicidade que fala, né? Imaginem nossa surpresa ao saber desse dado? Confira a lista dos dez livros mais vendidos pela livraria da Abrasco e inspire-se para ler ainda mais em 2020
por Hara Flaeschen
17/01/2020
A internet rompeu barreiras geográficas, aproximou pessoas, promoveu avanços científicos, traçou um caminho sem volta para a humanidade: mas não acabou com os livros. Ainda que as pessoas tenham novas modalidades de leitura na era digital, ou que procurem descobrir as estórias de outras maneiras, os impressos ainda são fontes de pesquisa, aprendizado e passagens para viagens inteiras sem sair do lugar. Em um mundo cada vez mais tomado por ebooks, audiobooks e jornais digitais – sem falar na fissura por imagens em grandes ou pequenas telas – a Abrasco Livros apresenta um catálogo de quase sete mil livros, constantemente renovado.
1 – O primeiro lugar é da obra Epidemiologia da desigualdade: quatro décadas de coortes de nascimentos, editada pela Abrasco e organizada por Cesar Victora, Fernando C. Barros, Mariangela Silveira e Antônio Augusto Silva. O livro, lançado em setembro do ano passado, reúne os principais resultados de um grande conjunto de pesquisas que contribuiu diretamente para a elaboração de políticas públicas de saúde materno-infantil no Brasil e no mundo. Desde 1982 o grupo de pesquisadores realiza coortes em Pelotas, cidade do Rio Grande do Sul, e analisa indivíduos desde o nascimento até o primeiro aniversário de cada criança. Ao cruzarem as informações obtidas com indicadores socioeconômicos – considerando os diferentes níveis de renda, escolaridade, raça e grupos étnicos das famílias – os pesquisadores desenvolveram uma “lente da equidade”, por onde visualizam as tendências para a saúde de mães e crianças. Esta história está registrada em nove artigos, com a colaboração de 26 pesquisadores.
2 – Marion Nestle, professora emérita da Universidade de Nova York, fez uma turnê no Brasil em maio de 2019 para lançar Uma verdade indigesta: como a indústria alimentícia manipula a ciência do que comemos, primeiro livro dela traduzido ao português – e segundo livro mais vendido pela Abrasco Livros. O livro expõe como corporações se valem de pesquisas para criar confusão em nossos hábitos alimentares. É leitura recomendada para estudantes e profissionais de saúde, jornalistas e todas as pessoas que tenham interesse em entender como nossos costumes alimentares foram moldados (e distorcidos). Nestle, apesar do sobrenome, há muito discute os danos da indústria alimentícia: é autora, entre outros, de Food Politics e Soda Politics, nos quais explicita as estratégias da indústria de alimentos para criar confusão na ciência e na formulação de políticas públicas.
3 – O clássico O que é o SUS , de Jairnilson Paim, busca esclarecer o que é, o que não é, o que faz, o que deve fazer e o que pode fazer o Sistema Único de Saúde. É um “guia de bolso” para todos que querem entender aspectos políticos, legislativos e conceituais do SUS, patrimônio do povo brasileiro. Recomendado para trabalhadores, estudantes, pesquisadores e militantes que estão na luta por uma saúde pública de qualidade. Em 2018 O que é o SUS também esteve na lista dos mais vendidos pela Abrasco Livros.
4 – Atenção Primária à Saúde no Brasil: Conceitos, Práticas e Pesquisa, é uma coletânea com mais de 20 artigos sobre a temática, responsável pela atenção à saúde de mais da metade dos brasileiros. A obra organizada por Maria Helena M. de Mendonça, Gustavo C. Matta, Roberta Gondim e Ligia Giovanella busca apresentar um panorama sobre as principais questões que deram vida à história da implementação da política nacional da APS brasileira nos últimos anos, trazendo o debate sobre os atuais desafios à consolidação do direito humano à saúde como valor fundamental para a construção do SUS e para a garantia de um cuidado digno e integral para a população brasileira.
5 – Uma história para e sobre crianças. O É mamífero que fala, né? foi elaborado por um pediatra e uma nutricionista, Moises Chencinski e Vanessa de Abreu Barbosa Fernandes. A importância da amamentação para a saúde dos indivíduos é unanimidade mundial, recomendado pelas autoridades de saúde desde a sala de parto até o primeiro ano de vida. No entanto, a cultura do desmame – marketing de fórmulas infantis, licença-maternidade reduzida, informações inadequadas, falta de apoio de profissionais de saúde e família – influencia para que hoje, no Brasil, menos de metade das crianças sejam alimentadas com leite materno. A esperança dos autores é que as crianças cresçam como adultos conscientes e mudem o mundo.
6 – No ano em que a Abrasco fez 40 anos, um importante livro sobre Saúde Coletiva: Campo da Saúde Coletiva – o gênese, transformações e articulações com a Reforma Sanitária Brasileira, de Ligia Maria Vieira. A partir de documentos e eventos que fundaram a Associação, Lígia buscou traçar uma sociogênese desse espaço social que é a Abrasco, articulando as trajetórias com as possibilidades abertas singradas e também com as que foram negadas ou não escolhidas, utilizando a ideia de campo e outras categorias de Pierre Bourdieu.
7 – A Abrasco Livros não vende só ciência e saúde! Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. O livro que consagrou Jorge Amado na literatura nacional segue atemporal, capaz de tocar várias gerações de brasileiros com a vida dos meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem da sociedade – como tantos outros.
8 – Em 2019 a pobreza voltou a crescer no Brasil. A leitura de Como e porque as Desigualdades sociais fazem mal à saúde , de Rita Barradas, presidente da Abrasco 1996 – 2000, é necessária em tempos de austeridade e crise política. A autora apresenta breves considerações teóricas sobre a temática das desigualdades sociais em saúde, apontando correntes e tendências existentes na pesquisa epidemiológica sobre o assunto, e analisa como a posição social de cada indivíduo repercute sobre sua vida – as relações entre riqueza e estado de saúde.
9 – O filósofo, teórico político, historiador professor universitário camaronês Achille Mbembe propôs no ensaio Necropolítica que “as formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte (necropolítica) reconfiguram profundamente as relações entre resistência, sacrifício e terror”. A partir de ventos do sul – e de uma perspectiva não eurocêntrica – Mbembe repensa dominação, destruição, sofrimento e sobrevivência.
10 – O que é Saúde? , de Naomar de Almeida Filho, busca pensar na saúde para além do estado de ausência de doença – um conceito que engloba bem-estar físico, mental e social – mas que também não se limita nisto. O autor, também vice-presidente da Associação, propõe debates filosófico, teórico, metodológico e pragmático sobre saúde, doença e noções correlatas, como vida e qualidade de vida, morte, sofrimento, cuidado e iniquidades.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545