Do Portal SEGS
O medo da agulha é uma barreira documentada à imunização em crianças e adultos
por Márcia Wirth
15/01/2020
Ajudar adultos e crianças a superar o medo de agulhas pode trazer benefícios significativos à saúde pública. É o que defendem os especialistas em dor canadenses. Assim como acontece no mundo todo, o Canadá sofre hoje uma queda em suas taxas de vacinação. Cerca de 8% dos canadenses relatam que sua hesitação se deve ao medo de agulhas. Portanto, se as autoridades de saúde conseguirem resolver esse problema, é possível vacinar cerca de 8% mais pessoas, o que é um contingente enorme.
“O medo de agulha exagerado se trata de uma fobia real e afeta de 3% a 10% da população mundial. O problema tem até um nome: ‘aicmofobia’, e diz respeito àqueles que sentem um tipo de medo irracional por agulhas, alfinetes, injeções, seringas e assim por diante. A fobia faz com que as pessoas, conscientemente, evitem vacinas contra a gripe ou deixem de tomar vacinas necessárias para viagens ao exterior”, informa o pediatra homeopata, Moises Chencinski.
Um estudo canadense revelou que 24% dos pais e 63% das crianças relataram medo de agulhas. Esse foi o principal motivo da não adesão à imunização para 7% e 8% dos pais e filhos, respectivamente. Uma revisão americana mais recente mostrou que a vacinação contra influenza foi evitada, por medo de agulha, em 16% dos pacientes adultos, 27% dos funcionários do hospital, 18% dos trabalhadores em instituições de longa permanência e 8% dos profissionais de saúde nos hospitais.
O medo de agulhas começa na infância
“A fobia de agulha geralmente começa com uma única experiência ruim ou uma série de experiências más quando criança. A memória da dor pode ficar registrada e tornar o processo mais complicado pelo resto da vida”, explica o pediatra.
Todas as crianças sentem dor. A maioria delas receberá aproximadamente 20 vacinas antes dos cinco anos de idade. Os prematuros hospitalizados e os recém-nascidos doentes passam por cerca de 6 a 16 procedimentos dolorosos por dia.
A dor tem consequências. É perturbadora para a criança e para os pais, e pode trazer reflexos em longo prazo, como a fobia de agulha, se a dor não for tratada ou controlada. Os pais podem transmitir seu próprio medo de agulhas ou piorar a dor de uma criança recebendo algum tipo de tratamento durante a primeira infância. Eles desempenham um papel fundamental na ansiedade desenvolvida por uma criança quando ela lida com um evento doloroso. Podem potencializar essa dor ou amenizá-la apropriadamente.
“Os pais precisam ser incentivados a permanecerem calmos e positivos quando seus filhos são submetidos a procedimentos com agulhas, como a vacinação, enquanto reconhecem o que está acontecendo de maneira honesta. Não é apropriado minimizar a experiência ou incentivar a criança a resistir a ela”, afirma o pediatra Moises Chencinski.
Conforto e distração realmente funcionam
Tanto os profissionais de saúde quanto os pais podem usar métodos testados para minimizar a dor nos bebês e nas crianças, realizando ações como:
- Aplicar creme anestésico na pele, antes da realização do procedimento com agulha;
- Segurar o bebê, favorecendo o contato pele a pele, no colo dos pais;
- Amamentar durante e após um procedimento doloroso;
- Embrulhar o bebê numa cobertinha para fazê-lo se sentir seguro.
“Os profissionais de saúde nem sempre estão cientes das novas evidências ou podem não ser capazes de efetivamente colocá-las em prática devido à falta de tempo, recursos ou know-how, mas os pais devem se sentir confiantes, solicitando medidas de controle da dor para seu filho e participando das estratégias reconfortantes”, orienta o pediatra.
Distração também é fundamental: sinos, brinquedos e bolhas funcionarão para bebês, enquanto conversas animadas, vídeos, músicas e videogames são úteis para crianças mais velhas. Estudos sobre o emprego de robôs nas emergências e sobre o uso de óculos de realidade virtual para determinar se eles podem fazer com que as crianças se sintam mais seguras e menos angustiadas durante os procedimentos estão sendo conduzidos.
São ainda poucos os estudos feitos para testar as medidas que podem proporcionar conforto e distração aos adultos que têm medo de agulhas, mas a pesquisa existente sugere fazer respiração profunda e outros exercícios de relaxamento, além de terapia de dessensibilização com um psicólogo.
“Se a dor é a razão para que tantas crianças e adultos não sejam vacinados, gerenciá-la de maneira mais eficaz pode ser uma das propostas para aumentar as taxas de vacinação”, defende o pediatra.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545