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Consultório Amigo da Amamentação - 2021

20/02/2021

Iniciativa Consultório Amigo da Amamentação - 2021

A Academy of Breastfeeding Medicine é uma organização que reúne médicos para fornecer soluções para os desafios que a amamentação enfrenta em todo o mundo. Uma das ferramentas que utiliza para orientar a prática clínica baseada em evidências científicas são os seus famosos protocolos. São dezenas, com temas específicos: mastite, galactagogos, prematuridade, anquiloglossia...

Elegemos apresentar aos profissionais lusófonos, esse protocolo - #14: Breastfeeding-Friendly Physician's Office—Optimizing Care for Infants and Children - que trata de como podemos tornar os nossos espaços de atendimento (consultórios, ambulatórios), promotores, protetores e apoiadores do aleitamento materno.

Estamos contentes que as recomendações dessa publicação ratificam os critérios que norteiam a nossa Iniciativa Consultório Amigo da Amamentação. Convidamos os profissionais de saúde que atendem o binômio mãe-bebê nos primeiros anos de vida a nos acompanharem nessa jornada.

 

Dr. Marcus Renato de Carvalho
Dr. Yechiel Moises Chencinski

 

 

Protocolo clínico ABM # 14:

Consultório Médico Amigo da Amamentação

Aperfeiçoando o atendimento ao binômio mãe-bebê.

 

Publicado em 10 de fevereiro de 2021
https://doi.org/10.1089/bfm.2021.29175.sjv

Tradução livre e edição: Dr. Moises Chencinski e Dr. Marcus Renato de Carvalho

 

O objetivo central da Academy of Breastfeeding Medicine é o desenvolvimento de protocolos clínicos para o gerenciamento de problemas médicos comuns que podem impactar o sucesso da amamentação. Esses protocolos servem apenas como diretrizes para o cuidado de mães e seus bebês em amamentação e não traçam um roteiro específico de tratamento, servindo como recomendações gerais de cuidado médico. As variações no tratamento devem ser apropriadas de acordo com as necessidades específicas de cada paciente.

Embasamento e Recomendações

A amamentação é conhecida por ser o método mais benéfico de alimentação infantil. Não amamentar tem sido associado a risco aumentado de morte súbita do bebê, enterocolite necrosante, diarreia, infecções respiratórias e otite média. Descobriu-se que os benefícios da amamentação continuam muito além da infância e mesmo na idade adulta, tendo sido associados à diminuição da obesidade e do sobrepeso, diabetes tipo 2 e aumento do quociente de inteligência (1). Além disso, a amamentação também tem efeitos protetores para a mãe, incluindo redução dos riscos de hemorragia pós-parto, depressão pós-parto, doenças cardíacas, câncer de mama e câncer de ovário.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam o início da amamentação para bebês na primeira hora de vida e a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade. Posteriormente, eles recomendam a adição de alimentos complementares seguros, nutritivos e adequados à idade com a continuidade da amamentação até os 2 anos de idade e além (2,3). Embora os benefícios da amamentação sejam bem conhecidos, de acordo com a OMS, globalmente apenas cerca de 40% de crianças menores de 6 meses são amamentadas exclusivamente. Menos de 20% das crianças são amamentadas por 12 meses em países de alta renda, e apenas 67% das crianças em países de baixa e média renda recebem leite materno entre 6 meses e 2 anos de idade (1).

São muitas as causas subjacentes que contribuem para as baixas taxas de amamentação, incluindo ambientes que não oferecem suporte para as mães que amamentam. Isso varia de políticas nacionais que não protegem as decisões das mulheres de amamentar (ou seja, licença maternidade inadequada e falta de espaços seguros para retirar leite) às atitudes e crenças dos indivíduos (parceiro, familiares e profissionais de saúde) que frequentemente interagem com a mãe e o bebê. Membros da família, médicos e outros profissionais de saúde desempenham um papel importante na influência das escolhas dos indivíduos sobre a alimentação infantil. A percepção dos pais sobre as atitudes da equipe do hospital em relação à amamentação demonstrou ser preditiva de falha na amamentação por volta das 6 semanas de idade (4). Da mesma forma, outro estudo mostrou que as mulheres tinham maiores chances de amamentar exclusivamente seus bebês com 1 e 3 meses de idade se elas percebessem que o seu provedor de cuidados obstétricos ou pediátricos favorecia isso (5). É importante, portanto, que os médicos e outros profissionais de saúde que trabalham em estreita colaboração com as díades mãe-bebê mostrem seu apoio à amamentação, tanto diretamente durante a interação paciente e família, e indiretamente por tornando os seus “Consultórios Amigos da Amamentação”.  Em consonância com a OMS e a Iniciativa Hospital Amigo da Criança do UNICEF (IHAC), que incentiva os estabelecimentos que forneçam cuidados maternos e neonatais a implementar os Dez Passos para o Sucesso da Amamentação, o ambiente ambulatorial foi percebido como outro espaço no qual uma intervenção cuidadosa pode impactar positivamente a amamentação exclusiva (6). A implementação de tais práticas, especificamente no ambiente de atenção primária, demonstrou influenciar positivamente as taxas de amamentação e aleitamento materno exclusivo (7,8).  Levando em consideração as Diretrizes de Implementação Revisadas da IHAC de 2018 (3), este protocolo atualizado busca oferecer recomendações para os ambulatórios/consultórios que contribuirão para atingir a meta da OMS de aumentar o aleitamento materno exclusivo entre bebês de 6 meses para 50% até 2025. Neste protocolo, o termo “amamentação” inclui tanto a amamentação direta da criança quanto o aleitamento materno, onde a criança recebe leite materno ou humano extraído.

Recomendações

A qualidade da evidência para cada recomendação é anotada entre parênteses. Os níveis de evidência são listados como I – V, com o nível I sendo o mais alto, conforme definido no Oxford Centre for Evidence-Based Medicine 2001 Levels of Evidence.

1. Estabeleça uma política de consultório amigo da amamentação por escrito

Colabore com colegas e funcionários do ambulatório/consultório durante o desenvolvimento da política e informe todos os novos funcionários sobre essa norma. Forneça cópias de sua política de prática a maternidades, hospitais, médicos e todos os profissionais de saúde que eventualmente possam te substituir, incluindo outros médicos, enfermeiras, parteiras, consultoras de aleitamento e equipe de apoio do consultório. (III)

2. Capacite todos os funcionários do consultório sobre as habilidades de apoio à amamentação e implemente-as com as pacientes

a. Eduque a equipe de enfermagem e apoio (equipe de atendimento, assistentes médicos, farmacêuticos, etc.) no consultório sobre os benefícios da amamentação e treine-os nas habilidades necessárias para apoiar o aleitamento materno, incluindo o início da amamentação, resolução de problemas comuns e alimentação complementar responsiva, de acordo com seu papel no atendimento à mãe que amamenta (11,12). Considere utilizar o curso de treinamento da Iniciativa Hospital Amigo da Criança para equipes de maternidade (OMS/UNICEF), que pode ser acessado no site da OMS.

b. Converse sobre a amamentação na consulta pediátrica pré-natal, bem como nas consultas subsequentes com o obstetra. Avalie também a amamentação na visita pediátrica inicial do recém-nascido e nas visitas subsequentes, pelo menos até os 6 meses. Todas as práticas do consultório médico devem fornecer às mães apoio especializado na lactação para avaliar a adequação da alimentação e a manutenção da amamentação exclusiva, especialmente nos primeiros dias/semanas após o nascimento. Se possível, considere a contratação de um Consultor de Lactação Certificado pelo International Board (IBCLC) ou o estabelecimento de um relacionamento com IBCLCs locais recomendados para os quais você pode encaminhar os pacientes (9)(III). Além disso, pessoal experiente de apoio de pares em amamentação pode ser utilizado, isto é, grupos de apoio de mães experientes (7). Ofereça um atendimento culturalmente inclusivo e cuidado etnicamente competente, entendendo que as famílias podem seguir práticas culturais quanto ao descarte de colostro, dieta materna durante a lactação e introdução precoce de alimentos sólidos. Forneça acesso à equipe multilíngue, intérpretes médicos e material educacional etnicamente diverso conforme necessário em sua prática. (III)

3. Cumpra o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno da OMS (Nossa NBCAL)

a. Mantenha toda a literatura que promove a alimentação artificial, incluindo fórmulas para bebês e crianças pequenas, fora da vista de pacientes e familiares. Embora seja compreensível que alguns consultórios/ambulatórios médicos possam precisar comprar fórmula no consultório, esses suprimentos devem ser mantidos em uma área trancada onde apenas um médico ou provedor de serviços de saúde tenha acesso a eles, se for considerado necessário para o bebê (I). De acordo com esse Código Internacional de Marketing de 1981, não deve haver promoção, exibição ou publicidade de substitutos do leite materno (14) (VII). Um estudo publicado em 2016 mostrou uma diminuição nas taxas de aleitamento materno exclusivo naqueles indivíduos que recebem amostras de fórmulas pelos correios (15). Portanto, por associação, receber amostras de fórmulas de um consultório médico pode ter efeitos semelhantes.

b. Como profissionais de saúde, não devemos aceitar incentivos que possam ser percebidos como uma promoção das fórmulas. O médico, por seu conhecimento e experiência, tem a confiança de seu paciente e familiares. Por isso, é fundamental evitarmos qualquer tipo de patrocínio ou relacionamento com empresas que possa representar conflito de interesses. Os médicos podem ser influenciados por presentes ou patrocínios recebidos por essas empresas, o que poderia impactar negativamente o conselho que eles fornecem aos pacientes em termos de sua saúde e bem-estar (16).

c. Os médicos/profissionais de saúde devem fornecer informações factuais baseadas em evidências sobre a importância da amamentação e os riscos da alimentação artificial para todas as mães nas consultas pré-natais e em qualquer consulta em que uma mãe que amamenta peça suplementação. Além disso, para os pais que não podem amamentar ou para os quais a amamentação é contraindicada, forneça informações sobre a fórmula infantil (em comparação com o leite materno), incluindo os riscos de uso impróprio (ou seja, diluição ou espessamento e água contaminada) para os bebês que necessitem de forma inevitável (17). Informações sobre esse tema podem ser acessadas no site da OMS sobre Segurança Alimentar (18,19).

4. Conheça as leis locais e nacionais sobre amamentação

a. Conheça as leis que protegem contra a discriminação da amamentação em público. Muitos países têm leis em vigor que protegem as mulheres da discriminação contra a amamentação ou a extração do leite em locais públicos. Por exemplo, nos Estados Unidos, todos os 50 estados e territórios têm leis específicas que permitem às mulheres amamentar em locais públicos e privados (20). Vários estados também permitem a isenção do Jury Duty (ser jurado em um processo legal) para mães que amamentam (V). No Reino Unido e na Austrália, é considerado discriminação sexual tratar uma mulher desfavoravelmente por amamentar uma criança de qualquer idade (21,22). Políticas ou iniciativas de amamentação em países e estados sem leis formais de amamentação também devem ser conhecidas para proporcionar a melhor forma de apoiar as lactantes.

b. Conheça a política de licença maternidade do seu país. O conhecimento da licença-maternidade disponível e do plano da mãe para utilizá-la pode ajudar o profissional de saúde a apoiar seus objetivos de amamentação desde o início. A licença-maternidade em países desenvolvidos varia de 12 semanas não remuneradas (Estados Unidos) a 36 semanas pagas (Noruega) (23). Foi demonstrado que a licença maternidade mais longa em comparação ao retorno precoce ao trabalho aumenta a duração da amamentação (24,25).

c. Prepare as mães para realizarem a extração contínua do leite materno no local de trabalho após o retorno às atividades laborais.  Esteja ciente das leis que permitem que elas façam isso sem discriminação. Nas Filipinas, todos os locais de trabalho devem fornecer estações de lactação limpas e um intervalo de lactação de 40 minutos para cada período de trabalho de 8 horas (26). Nos Estados Unidos, os empregadores devem fornecer “tempo de intervalo razoável para que uma funcionária tire o leite materno para seu filho por 1 ano após o nascimento da criança ... e um local, diferente de banheiro, que seja protegido da vista e privativo... para retirada do seu leite” (27) (V). Muitas mulheres citam o retorno ao trabalho como motivo para interromper a amamentação exclusiva. Converse com as nutrizes sobre a importância de continuarem amamentando após o retorno ao trabalho, fornecendo subsídios sobre como convencer o seu empregador a respeito da extração do leite materno e seu armazenamento e transporte adequado (28).

5. Promova a amamentação em seu consultório

De acordo com as leis acima mencionadas, os consultórios médicos devem convidar as mulheres a amamentar na sala de espera ou em uma sala privativa (não um banheiro), sem medo de interrupção ou constrangimento. Considere a exibição de cartazes/avisos de incentivo ao aleitamento em todas as áreas de pacientes, incluindo salas de espera e salas de exame. Os exemplos são os seguintes (Fig. 1).

 

     

FIG. 1. (Esquerda) Sinal criado para Centro de Saúde da Mulher em Silverside of Prospect-Crozer Health System. (À direita) Sinal criado pelo Departamento de Saúde da Virgínia. Criado pelo Dr. Swathi Vanguri.


Os consultórios médicos amigos da amamentação devem ser consistentes em sua promoção e apoio ao aleitamento materno. É importante estender essa recomendação de proteção para as lactantes aos médicos, enfermeiras e equipe de trabalho do seu consultório (IV) (29,30). Considere o fornecimento de bomba tira-leite no consultório, além de espaço adequado para a amamentação, para retirada e armazenamento do leite materno também para as funcionárias.

6. Normalize a amamentação

Além de exibir avisos/cartazes, também existem maneiras sutis de promover a amamentação. Por exemplo, retratar em fotos ou pôsteres díades em amamentação na sala de espera e nas salas de exame que retratam os seios como órgãos funcionais, pode ajudar as pacientes e suas famílias a compreenderem seu apoio explícito ao aleitamento materno. No entanto, é muito importante que essas imagens representem a cultura, a origem étnica e racial da população de seus pacientes. Da mesma forma, as imagens devem incluir todas as orientações sexuais, bem como outras identidades de gênero (V) (31). Também existem vídeos disponíveis que podem ser reproduzidos nas salas de espera dos pacientes na promoção da amamentação (32,33). Pacientes e familiares precisam se identificar com as imagens/fotos para serem influenciados por eles (34).

Campanhas de marketing social mostraram que retratar imagens positivas da amamentação com fotos de uma ampla gama que representam a diversidade da população naquele país melhora as taxas de aleitamento materno na comunidade (35).

A seguir, exemplos de imagens com diversidade racial e étnica que mostram a amamentação sob uma ótica positiva (Figs. 2, 3, 4).

FIG. 2. Um exemplo de imagens racialmente e etnicamente diversas retratando a amamentação de uma maneira positiva. Fonte: https://wicbreastfeeding.fns.usda.gov/wic-staff

FIG. 3. Posições de amamentação (Fonte: Shutterstock).

FIG. 4. Pôster do Departamento de Saúde da Cidade de Nova York, 2012.

 

7. Considerações ao fornecer cuidados pré-natais

Se estiver oferecendo assistência pré-natal para a grávida (e seu companheiro(a)), introduza o assunto da alimentação infantil no primeiro trimestre de gestação e continue a expressar seu apoio à amamentação durante todo o curso da gravidez. Se você for um médico que presta cuidado pós-natal ao bebê, considere a possibilidade de fazer uma consulta pediátrica pré-natal para conhecer a família. Esteja ciente das influências culturais ou sociais nas preferências de alimentação da mãe e discuta os obstáculos que possam impedi-la de atingir seus objetivos (36). Use perguntas abertas, como "O que você ouviu sobre amamentação?" para perguntar sobre um plano de alimentação para o futuro bebê. Forneça material educativo que destaque as várias maneiras pelas quais a amamentação beneficia o bebê e a mãe.

Identifique pacientes com fatores de risco de lactação (como mamilos planos ou invertidos, história de cirurgia de mama, falta de crescimento da mama durante a gravidez e experiência anterior de amamentação mal sucedida) para permitir cuidados de amamentação individuais para essas situações particulares, que pode incluir encaminhamento a um especialista em lactação (37). Um bom recurso é a Diretriz da OMS intitulada “Protegendo, promovendo e apoiando a amamentação em instituições que prestam serviços de maternidade e recém-nascidos” (38).

Incentive o comparecimento de ambos os pais nas consultas pré-natais e nas aulas de amamentação pré-natal e ofereça educação direta a todos os membros da família envolvidos no cuidado da criança (pai que não amamenta, avós, etc.) (39) (I). Foi demonstrado que o contato pele a pele entre o pai e a criança elevam os níveis de cortisol, dopamina e ocitocina no pai, o que resulta em melhor ligação e religação dos seus cérebros dos pais e propicia uma associação positiva com interação próxima com seus bebês (40-42) (II-a, II-b, II-c, III).

a. Esteja ciente das poucas contraindicações à amamentação para informar e apoiar as mães em qualquer estágio de sua jornada de aleitamento. No entanto, dar leite materno extraído, mas não amamentar, é uma possibilidade para alguns problemas maternos (2,43).

b. Esteja ciente das recomendações de amamentação para mães com HIV e como elas podem variar em diferentes países. Por exemplo, as diretrizes atualizadas da OMS recomendam que todas as mães HIV positivas em terapia antirretroviral amamentem exclusivamente durante os primeiros 6 meses, mas os Estados Unidos (e o Brasil) ainda listam o status HIV positivo como uma contraindicação para mães que amamentam exclusivamente ou inconsistentemente ou fornecem leite materno extraído a seus bebês (44).

c. Esteja ciente da segurança para o aleitamento antes de prescrever medicamentos e, quando apropriado, considere medicamentos alternativos com mais evidências para apoiar a segurança na amamentação. A relação risco-benefício deve ser ponderada contra os riscos de não amamentar ao fazer recomendações sobre o início ou modificação da medicação. Cada mãe é diferente e essa discussão com um médico amigo da amamentação deve ser, não apenas incentivada, mas considerada necessária. Mantenha uma lista de recursos para ajudá-lo nisso, incluindo pediatras experientes, médicos de família, obstetras-ginecologistas, farmacêuticos e sites confiáveis ​​que tratam da amamentação e do uso de medicamentos, como LactMed, E-lactancia, Embriotox e o site específico do seu país que aborda esse tópico (0,45-47).

Dissipe os mitos sobre o uso de certos medicamentos (ou seja, antidepressivos, antibióticos e opioides) durante a amamentação e os efeitos no bebê (48,49). Evidências anedóticas mostram que as mães interromperão a amamentação enquanto estiverem tomando antibióticos, antidepressivos ou antiepilépticos como resultado de instrução direta ou suposição sobre o risco para o bebê. Elas devem ser informadas desde o início que muitos medicamentos comuns são seguros para uso durante a amamentação e, no mínimo, esclarecidas sobre os recursos disponíveis para verificar quais medicamentos são compatíveis

8. Cuidados pós-parto imediatos

A interação do médico com a díade de amamentação no período pós-parto imediato depende do sistema de saúde e do tipo de plano de saúde dos pais. Por exemplo, se você estiver em um sistema em que vê bebês enquanto está no hospital, pode colaborar com as maternidades locais e profissionais em sua comunidade (50,51) e fornecer as políticas de seu consultório sobre o início da amamentação na primeira hora após o nascimento, na sala de parto, no quarto ou alojamento conjunto.  Use o aconselhamento pré-natal para discutir os possíveis desafios que as mães podem enfrentar nas rotinas ou na equipe da maternidade. Deixe as ordens no hospital ou nas maternidades instruindo as enfermeiras / funcionários a evitar dar fórmula / água esterilizada / água com glicose a bebês que são amamentados, sem ordens médicas específicas. Além disso, fale com os chefes de enfermagem para proibir a dispensa de bolsas de alta comerciais contendo fórmula infantil, cupons de fórmula e/ou mamadeiras, chupetas, intermediários de silicone, conchas... para as mães (15,52).

Mostre apoio à amamentação durante as visitas ao hospital. Ajude as mães a iniciar e continuar a amamentar. Aconselhe as mães a perceberem os estados de alerta de seus recém-nascidos, pois eles se relacionam com os sinais de fome e saciedade e assegure-se de que os bebês sejam amamentados em livre demanda, com a recomendação de 8 a 12 vezes em 24 horas (53).  É importante garantir a adequação da alimentação e identificar ingestão insuficiente de leite de forma precoce para que o suprimento de leite da mãe possa ser implementado e o bebê esteja protegido das consequências de uma alimentação insatisfatória (54) (II-a).

9. Faça uma ponte entre os cuidados pós-parto e o ambiente ambulatorial

Como parte do protocolo de seu consultório sobre a articulação entre os cuidados de pacientes internados e ambulatoriais, incentive as mães que amamentam ainda internadas a alimentar os recém-nascidos apenas com leite humano e a evitar a oferta de fórmula suplementar, água com glicose ou outros líquidos, a menos que haja indicação médica (55). Aconselhe a mãe a evitar oferecer um mamadeira ou chupeta até que a amamentação esteja bem estabelecida (56,57) (I, III). Certifique-se de fornecer recursos adequados para a díade de amamentação após a alta do hospital para que ela continue a receber apoio até a primeira consulta ambulatorial. Isso deve incluir literatura sobre amamentação e contatos com consultoras de amamentação ou outros membros da comunidade que estarão disponíveis para fornecer apoio para a mãe em casa.

a. Obstetras: A OMS recomenda uma consulta pós-parto para a mãe nas primeiras 3 semanas após o parto (5). Muitos obstetras também atendem as pacientes 6 semanas após o parto.

b. Pediatras e Médicos de Família: Estudos mostram uma grande variação quando o bebê é visto por um médico. Dependendo do tempo de permanência no hospital, isso pode variar de 48 horas a 3 semanas de idade para o primeiro checkup do bebê, que é coberto pelo seguro ou pelo SUS. Nesse sistema, essa é a primeira oportunidade que o pediatra tem de apoiar a amamentação. Dependendo do sistema de saúde, com diferenças entre seguros públicos e privados, os pais podem ter acesso a parteiras e visitas domiciliares de agentes de saúde. No entanto, independentemente da localização, em muitos países e práticas culturais a díade mãe-bebê permanece em casa, onde recebe ajuda da família e dos amigos (59,60) (I, II-b).

c. Assistentes médicos, enfermeiras e parteiras: em muitas áreas do mundo, a primeira visita de acompanhamento será feita por profissionais de saúde não médicos (61). As parteiras (ou puericultoras) cuidam da mãe e do bebê nos dias e semanas após a alta hospitalar em muitos países europeus. Por lei, toda mulher na Alemanha tem direito a cuidados obstétricos desde a concepção até a introdução de alimentos sólidos (normalmente 5-6 meses pós-parto ou mais tarde se surgirem problemas) (61) (II-b).

Certifique-se de que haja acesso a uma consultora de amamentação ou outro profissional de saúde treinado para tratar de questões ou preocupações sobre aleitamento durante cada visita. Alerte a mãe que é importante uma observação da mamada durante a consulta para que ela possa demonstrar para a equipe como o seu bebê está sendo amamentado. Forneça assento privado confortável para a díade de amamentação para facilitar uma avaliação adequada. Comece fazendo perguntas abertas aos pais, como "Como vai a alimentação do seu bebê?" e, em seguida, concentre-se nas preocupações deles. Reserve um tempo para responder às dúvidas que uma mãe possa ter. Avalie a pega e a transferência de leite adequada e bem-sucedida na consulta de acompanhamento inicial. Identifique os fatores de risco da lactação e avalie o peso, hidratação, icterícia, diurese e evacuações do bebê. Ofereça ajuda específica para mulheres com mamilos doloridos ou outros problemas de saúde materna que possam afetar a amamentação. Forneça um acompanhamento sistemático até que os pais se sintam confiantes e o bebê esteja bem com ganho de peso adequado com base nos Padrões de Crescimento Infantil da OMS (62,63) (III).

10. Colaboração entre os vários profissionais

Apoie a amamentação com uma equipe interdisciplinar. Envolva as várias especialidades que oferecem assistência, ou seja, obstetras, parteiras, enfermeiras, fonoaudiólogas, nutricionistas, psicólogas... Colabore e compartilhe informações com todos os provedores envolvidos no cuidado da díade usando registros eletrônicos de saúde, se disponíveis, ou por outros meios (64) (V).

11. Informações para a paciente

Incorporar lembretes educativos nas várias idades gestacionais, desde a primeira consulta pré-natal, sobre a amamentação. Estes incluem, mas não estão limitados a benefícios da amamentação, contato pele a pele ao nascimento, dicas de alimentação complementar saudável, alojamento conjunto, extração manual, obtenção de bomba tira-leite, armazenamento do leite materno e continuação da amamentação/extração do leite materno ao retornar ao trabalho/escola. Forneça informações relevantes sobre o apoio à amamentação assim que a mãe e o bebê saírem do hospital. Nos Estados Unidos, a recomendação é que qualquer material educacional distribuído aos pacientes deve estar no nível da quinta série ou abaixo dele (65,66) (IV, V).

A seguir, exemplos de literatura educacional simples, fornecida no período pré-natal a pacientes obstétricas em várias idades gestacionais (Figs. 5 e 6).

FIG. 5. “Você está fazendo leite” dado aos pacientes do Crozer-Chester Medical Center após 20 semanas durante um ultrassom de anatomia. Criado pelo Dr. Swathi Vanguri.

 


FIG. 6. “Benefícios da amamentação” dados aos pacientes do Crozer-Chester Medical Center na 28ª semana. Criado pelo Dr. Swathi Vanguri.

12. Capacitação para o provedor de cuidados de saúde

Certifique-se de que todos os médicos, profissionais de saúde, enfermeiras, farmacêuticos e funcionários recebam orientação adequada sobre a amamentação durante o treinamento. Deve haver educação acadêmica, bem como educação prática. Embora a educação sobre amamentação possa começar nos anos pré-clínicos, as escolas médicas não estão preparando bem os futuros médicos nesta área (67) (III-b). Na verdade, estudos têm mostrado que obstetras/ginecologistas na Residência Médica são significativamente menos propensos a discutir amamentação durante as visitas pré-natais do que enfermeiras obstétricas ou neonatais (68) (III-a). Além disso, pediatras mais jovens relataram se sentir menos confiantes sobre sua capacidade de controlar problemas comuns de amamentação e discutir o aleitamento materno com os pais em relação a pediatras mais velhos (69) (IV). Os médicos têm um papel importante na influência sobre o início e a duração da amamentação. Caso a lactante perceba que essa forma de alimentação é desejada por seu provedor de saúde, a sua tendência é amamentar mais (4,5) (II-b, II-c). Uma revisão sistêmica mostrou que os estudantes de enfermagem não recebem educação adequada sobre amamentação, especialmente sobre avaliação e manejo. Todos os estudos mostraram que o conhecimento dos estudantes de enfermagem foi influenciado pelo momento do componente de saúde materno-infantil, experiências anteriores de amamentação, gênero e influências culturais (70) (III-a).

Os temas de informação sugeridos incluem riscos da alimentação artificial, fisiologia da lactação, manejo de problemas comuns de amamentação, contraindicações médicas à amamentação e habilidades práticas para avaliar a pega e a transferência de leite apropriada. Disponibilize recursos educacionais para consulta rápida por profissionais de saúde em sua prática (livros, protocolos, links da web, etc.). (Tabela 1).

 

Tabela 1. Fontes Baseadas em Evidências

Fontes

Site

American Academy of Pediatrics Breastfeeding 

www.aap.org/en-us/advocacy-and-policy/aap-health-initiatives/Breastfeeding/Pages/default.aspx

Academy of Breastfeeding Medicine 

www.bfmed.org

ABM Protocols 

www.bfmed.org/protocols

Australian Breastfeeding Association 

www.breastfeeding.asn.au/

Baby Friendly USA 

www.babyfriendlyusa.org/

Breastfeeding Consortium 

www.bfconsortium.org/

Breastfeeding Promotion Network of India 

ww.bpni.org

E-Lactancia

www.e-lactancia.org

Infant Risk Website (Thomas Hale, PhD)

www.infantrisk.com/category/breastfeeding

International Breastfeeding Centre

https://ibconline.ca/

La Leche League

www.llli.org

LACTMED - Recommend downloading Free APP

www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK501922/

The Breastfeeding Network Drugs Factsheets

https://www.breastfeedingnetwork.org.uk/drugs-factsheets/

UNICEF Baby Friendly UK

www.unicef.org.uk/babyfriendly/

World Health Organization, Breastfeeding

www.who.int/health-topics/breastfeeding#tab=tab_1

World Alliance for Breastfeeding Action

https://waba.org.my/

ABM, Academy of Breastfeeding Medicine; UNICEF, United Nations Children's Fund.

 

 

 

13. Colete dados sobre amamentação

Trabalhe com a administração de saúde local para ajudar a rastrear o início e a duração da amamentação em sua prática e aprenda sobre estatísticas de amamentação em sua comunidade. Esteja ciente das barreiras à amamentação em sua população de pacientes e considere direcionar as intervenções para aqueles que são particularmente menos propensos a iniciar a amamentação ou amamentar por um período mais curto de tempo (que pode variar em nível socioeconômico dependendo do país de residência) (1) (II- 3). Como se constatou que implementar os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento aumenta o início e a duração da amamentação em um ambiente hospitalar (71-73), é especialmente importante para o consultório amigo da amamentação garantir que seus pacientes sejam orientados nos Dez Passos quanto possível dentro do seu âmbito de prática.

 

Recomendações para pesquisas futuras

Mais pesquisas sobre o impacto dessas recomendações são imperativas para determinar quais medidas têm o maior desempenho no apoio às lactantes e na melhoria das taxas de amamentação. Portanto, é útil conhecer o comportamento das nutrizes antes e depois da implementação dessas práticas. Pesquisas adicionais sobre o impacto da promoção cultural e racialmente competente da amamentação nas taxas de aleitamento materno também serão úteis para compreender a melhor maneira de garantir um consultório amigo da amamentação. Além disso, também é oportuno avaliar a equipe antes e depois de implementar o treinamento e acomodações amigas da amamentação para funcionárias, para entender melhor suas experiências pessoais com pacientes que amamentam e o impacto dessas interações sobre elas mesmas e sobre as mães.

Os protocolos ABM expiram 5 anos a partir da data de publicação. O conteúdo deste protocolo está atualizado no momento da publicação. As revisões baseadas em evidências são feitas dentro de 5 anos ou antes, se houver mudanças significativas nas evidências.

Referências bibliográficas e imagens originais

Publicado em 10 de fevereiro de 2021
https://doi.org/10.1089/bfm.2021.29175.sjv

Tradução livre e edição: Dr. Moises Chencinski e Dr. Marcus Renato de Carvalho

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545