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A inglesa Kate Ferdinand, estrela de reality show, opta por não amamentar seu bebê e conta que teve medo de admitir. Amamentar é um direito da mãe e do bebê e não uma obrigação.
por Dr. Moises Chencinski - colunista
29/03/2021
Essa notícia, publicada no dia 24 de março, chamou minha atenção.
“Kate Ferdinand optou por não amamentar o bebê, mas manteve isso em segredo devido à pressão”
A inglesa Kate Ferdinand, estrela de reality show, disse que achou difícil compartilhar sua decisão de não amamentar devido ao medo dos julgamentos, pois há tanta “pressão” sobre as novas mamães. Kate é casada com o ex-jogador Rio Ferdinand, considerado um dos maiores ídolos da história do Manchester United.
Veja os desafios em torno da amamentação – não só há pressão sobre as novas mães para que funcione, mesmo quando estão exaustas e seu bebê não está pegando, mas há condições médicas dolorosas e perturbadoras que podem tornar isso ainda mais difícil.
Em que momento, amamentação ou aleitamento materno passaram de natural e um direito da mãe e do bebê, para obrigatório ou opressivo?
Mas, esse tipo de mensagens está se repetindo. Então, de alguma forma, ela chega assim aos olhos, ouvidos e corações das mães.
– Fumar é prejudicial à saúde.
– Vacina é fundamental para salvar vidas.
– Dormir bem é vital para nossa saúde.
– Leite materno é o padrão ouro da alimentação infantil.
As 3 primeiras afirmações são verdadeiras, são aceitas e não há uma clara mobilização contrária e bem pouca gente refere se sentir oprimida. Mas, em relação à informação científica e, também, verdadeira sobre o leite materno, sobram sensações e reações negativas. Por que será que isso acontece?
1) O mito da boa mãe e da má mãe
Nenhuma mãe é boa ou ruim porque teve parto normal ou cesariana ou porque opta por amamentar ou não a sua cria. Mas, mesmo assim, esse tipo de julgamento acontece, mesmo que de forma enrustida.
2) Associação da ideia de amamentação com amor
“Amarmentar”. Leite materno é o “amor líquido”. Leite materno é o “coração” da mãe para a boquinha do seu bebê. Quem nunca?
Nenhuma mãe ama mais ou deixa de amar sua cria porque amamenta ou não. Por mais desafiador e doloroso que possa ser amamentar, muitas vezes não amamentar pode ser até mais doloroso ou desafiador.
3) Necessidade do profissional de saúde de “amamentar mais do que a mãe”
Enquanto profissionais de saúde, somos orientados a buscar o melhor para quem nos procura. E isso se faz com informação, com acolhimento e, desde que não se coloque em risco a vida de nossos pacientes, a decisão informada nunca será nossa e sim da mãe. E muitas vezes, julgamos que quando uma mãe opta por não fazer o que nós consideramos que seja o melhor para as crianças, através de estudos e até de crenças pessoais, isso possa ser atribuído a uma falha nossa e, até por isso, insistimos.
4) Mexer com cicatrizes e sentimentos de mães que quiseram e não conseguiram amamentar
A decisão informada sobre a amamentação é claramente da mãe. Algumas vezes, mesmo desejando, uma mãe não consegue amamentar sua cria. E isso traz feridas que podem levar uma vida inteira para parar de doer. Em outras vezes, uma mãe, por uma razão que só diz respeito a ela, pelo menos enquanto ela não resolve compartilhar com ninguém, não quer amamentar. E a pressão, mesmo que involuntária, cutuca, provoca e pode fazer doer.
5) Confrontar decisões pensadas e informadas de mães que por qualquer razão, que não é da nossa conta, optam por não amamentar
Se uma mãe já tomou a sua decisão, com as informações atualizadas, éticas, coerentes, pode-se até buscar entender as suas razões, mas sem julgamentos e sem confrontar essa sua escolha. Estudos mostram que quando a acolhemos com escuta ativa, empatia, sem julgamentos, temos mais oportunidade de estar em sintonia com ela e oferecer ajuda real, a que ela precisa e, muitas vezes não pede, por “medo de ser criticada”.
E poderíamos passar linhas e linhas, dias e mais dias, aumentando essa lista. E na real… que diferença isso faz?
A proposta é proteger, promover e apoiar a amamentação para mães que estejam em dúvida ou desejem amamentar, não só com informações, mas também com acolhimento e sem julgamento. Mas, essa informação precisa ser ética, sem confilito de interesses, sem falsas promessas. E aí é que está o delicado limite entre o adequado e desejado e o não recomendável.
Quando, através de mensagens subliminares, o marketing traz informações que parecem verdadeiras e acolhedoras, mas não são, e com isso afeta pessoas em seu juízo e suas atitudes e ações, é preciso estar atento, alertar e agir.
E é esse o controle necessário. O do marketing e da manipulação das informações que serão base até para o rumo a ser seguido. O cuidado para que os profissionais de saúde que lidam com o aleitamento materno não sejam “influenciados” por conflitos de interesses. Não o “controle” das mães que amamentam ou não. Afinal, todas as mães sempre buscam e lutam pelo que consideram e conseguem de melhor para seus filhos. Ou alguém tem qualquer dúvida sobre isso?
E que fique claro: Eu Apoio Leite Materno.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545