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Cerveja preta aumenta a produção de leite materno?

Do site UOL - Viva Bem

Segundo os especialistas consultados por VivaBem, esse é mais um dos tantos mitos populares repassados pelas pessoas ao longo dos anos. O fato é que nenhuma bebida (ou comida) tem o poder de fazer o organismo aumentar a quantidade do líquido.

por Renata Turbiani

07/04/2021

Se você é mãe, certamente já recebeu uma enxurrada de conselhos de parentes, amigos e até de desconhecidos, tanto durante a gestação quanto após o nascimento do bebê. Pois é sobre um deles que vamos falar aqui hoje, o de que beber cerveja preta aumenta a produção de leite. A intenção de quem te falou isso pode até ser boa, mas a realidade não é bem essa.

Fora isso, é importante destacar que ingerir bebida alcoólica na fase de lactação pode ser perigoso para os pequenos que mamam no peito, já que tudo o que a mulher consome, seja bom ou ruim, chega até eles através do leite.

Como aumentar a produção de leite

Apesar de não haver um alimento específico que estimule o leite materno, seguir algumas recomendações ajudam no processo. Por exemplo, no período de amamentação, é fundamental se manter o mais saudável possível, cuidando do que come e bebe.

O ideal é seguir uma dieta equilibrada, livre de produtos industrializados, e com alta ingestão de líquidos, sobretudo água —que corresponde a quase 90% da composição do leite—, e se alimentar em intervalos menores.

Todavia, para que o líquido seja realmente abundante, a sucção adequada e regular é o ponto-chave. Isso porque, quando o bebê suga o mamilo, esse ato estimula, no cérebro, a secreção dos hormônios prolactina (responsável pela produção do leite) e ocitocina (responsável pela ejeção do leite, ou seja, por fazer ele sair).

Então, quanto mais sugadas, mais leite será "fabricado", até que a oferta se ajuste à necessidade.

O certo, de acordo com os profissionais entrevistados, é oferecer os seios em livre demanda, para que a criança mame sempre que quiser, e não com horário e duração predeterminados.

Caso isso não seja possível, aí a indicação para manter o "sistema funcionando" é fazer a ordenha manual ou com o auxílio de bombas elétricas algumas vezes ao dia. Dessa forma, o organismo entenderá que a produção do leite precisa ser mantida.

Esse mesmo procedimento deve ser realizado se os seios permanecerem cheios após as mamadas, sendo que o leite retirado pode ser armazenado (por 12 horas na geladeira ou 15 dias no freezer) para consumo posterior ou doado para um banco de leite humano.

O que também faz toda a diferença na produção do alimento materno é o estado emocional da lactante, por isso, especialmente no momento da amamentação, é imprescindível estar calma e em um ambiente tranquilo e acolhedor.

Mais algumas dicas para manter uma boa quantidade de leite são: não fumar, não usar drogas, descansar o máximo que conseguir, não tomar medicamentos sem a autorização do pediatra e buscar uma rede de apoio.

Outra sugestão importante é evitar que os bebês usem chupeta, ainda mais o dia todo. O que acontece é que, quando eles ficam muito tempo com o acessório na boca, na hora em que vão para o peito mamar, provavelmente já estão com a musculatura cansada e as chances de fazerem uma pega errada e sugarem com menor força são altas, prejudicando a sucção.

Processo fisiológico

É preciso ficar claro que a produção de leite é um processo fisiológico e é normal que haja oscilação dos hormônios responsáveis pela sua produção e ejeção ao longo do dia.

Além disso, como cada organismo é único, a quantidade de leite produzido varia muito de mulher para mulher. Então, antes de se desesperar e achar que está com pouco alimento para oferecer ao seu filho —e partir para as fórmulas complementares— a dica é observá-lo e conversar com o pediatra.

Se o pequeno estiver com a saúde normal e se desenvolvendo dentro do esperado, com certeza o tanto que está mamando está sendo suficiente.

Perigos do álcool à saúde das crianças

No período de lactação, a recomendação da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatra) é que as mães não consumam nenhum tipo de bebida alcoólica e em nenhuma quantidade, e por dois motivos.

O primeiro é que o álcool interfere na produção do leite, pois inibe a produção da prolactina. Mas, o pior, como adiantamos no início dessa reportagem, é que há riscos para a criança. Se a ingesta for pequena e pontual, e a mamada for realizada logo na sequência, o mais provável é que ela apresente alterações no comportamento, como moleza e sonolência.

Agora, se for intensa e por períodos prolongados, aí é possível que haja comprometimento do desenvolvimento, tanto físico quanto neurológico, sem contar os perigos que ela corre por estar sob os cuidados de uma pessoa embriagada.

Se mesmo sabendo disso tudo você não abrir mão de um drinque ou então quiser brindar em uma ocasião especial, o menos nocivo, mesmo a ciência não estabelecendo um nível seguro para a ingestão de álcool por mães que amamentam, é só fazer isso após o bebê completar seis meses, tomar apenas um copo (no máximo 40 ml, no caso dos destilados) e esperar de duas a duas horas e meia para dar de mamar novamente —esse é mais ou menos o tempo que uma mulher de cerca de 60 quilos leva para metabolizar essa quantidade de álcool e eliminá-la do organismo.

Fontes

Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra e consultora de amamentação;

Clery Bernardi Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP);

Moises Chencinski, pediatra do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545