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O “Sr. Pai” na amamentação. Papai sabe tudo, mesmo?

Do site Momento Papo de Mãe - O Portal da Vida em Família

O pediatra Moises Chencinski destaca a importância do pai ativo para o processo da amamentação, principalmente em tempos de Covid e isolamento social

Dr. Moises Chencinski - colunista

31/05/2021

Eu estou (quase) quieto no meu canto, sem pensar em (quase) nada em especial, e aí me aparece essa matéria no Herald&Review em uma sessão chamada Ask Mr. Dad (Pergunte ao Sr. Papai): Quanto tempo devo continuar amamentando?

E a pergunta (se não for fake) vem de uma mãe perguntando ao Mr. Dad (negritos são meus):

Caro Mr. Dad (Sr. Papai????): Nosso filho acabou de fazer 2 anos e, embora esteja comendo bastante comida "de verdade", ainda o amamento. Meu marido acha um pouco estranho, mas vários amigos e até alguns colegas de trabalho estão chocados. Existe uma idade específica em que devo interromper a amamentação? Estou causando danos ao amamentar uma criança?

Se isso já não fosse preocupante, a resposta de alguém que se identifica como “Sr. Pai” é mais assustadora ainda. Tem algumas partes até razoáveis (o que não desculpa nada), mas vou pinçar alguns trechos (e os negritos meus ainda):

Muitos pediatras sugerem que, a partir dos seis meses, os pais devem introduzir gradualmente a alimentação adequada e, simultaneamente, diminuir a amamentação. No final de um ano, a maioria dos bebês será desmamada.

Durante os primeiros seis meses, a amamentação tem uma série de excelentes "argumentos de venda": Em primeiro lugar, além de ser grátis...

Aqui vai uma pérola:
Não há absolutamente nada de errado em amamentar por mais tempo do que os seis meses recomendados - contanto que você entenda que o tipo de nutrição que está fornecendo é principalmente emocional.

A ideia é que seu filho pare de querer amamentar quando estiver pronto para dar aquele grande passo em direção à independência.

E para fechar com chave de... lata?
Mas deixar seu filho comandar o show da amamentação pode ser arriscado, pois sua definição de quando é uma boa hora para parar de amamentar (ou usar fraldas ou dormir em sua cama) pode ser diferente da dela.

Vamos começar com um mantra:
PAI NÃO AJUDA.
PAI PARTICIPA.
PAI COMPARTILHA.
PAI É PARCEIRO.

Continuando com algumas informações importantes.
Não. Pai que leva criança na escola não é legal. Ele é pai.
Não. Pai que dá banho nos filhos não ajuda. Ele é pai.
Não. Pai que faz compras no caminho de casa não é esforçado. Ele é pai.
Não. Pai que vai à reunião da escola dos filhos não é herói. Ele é pai.
Não. Pai que brinca com os filhos não merece aplausos. Ele é pai.

Acho que deu pra captar a ideia, não é?

A resposta do “Senhor Pai” (“Mr. Dad" afffeeee) é de um pai que, se tiver filhos, não tem a informação que essa ou qualquer outra mãe estão buscando. Esse conceito é antigo, muito comum no século passado, que tinha como um de seus representantes máximos uma série americana chamada Papai Sabe Tudo (1954 a 1960), que chegou ao Brasil na década de 1960, trazendo o modelo americano de uma família de classe média onde o pai “sabia o que era melhor para cada membro da família e resolvia todos os seus problemas”, como se fosse o único que raciocinasse, depois de um dia cheio no trabalho.

O pai (ou companheiro, ou companheira) é parte fundamental e mais próxima na rede de apoio, importantíssima para que o processo da amamentação possa ocorrer. Em tempos de COVID e de “distanciamento social físico presencial”, que não permitem o apoio mais marcante de avós, tias, outras mulheres da família, amigas (a “mulheridade”) e até de alguns profissionais, a presença de um parceiro é muito bem-vinda.

A informação continua sendo fundamental. Se já é assim para as mães, para quem compartilha esse tempo com a dupla mãe-bebê representa uma base de apoio indispensável.

Mas, na dúvida, pró-mãe. Sempre pró-mãe e pró-bebê. Especialmente na amamentação. O que se sugere ao pai, nesse momento? Vem comigo e me diz se é muito complicado:

- Presença.
- Escuta ativa (de verdade).
- Empatia (colocar-se no lugar).
- Sem julgamento (Não. Papai não sabe tudo. Mas, pode aprender muito).
- Apoio.

Por uma nova “Paternidade e Paternagem” em novos tempos.
Paternagem ativa, participativa, sem preconceitos, ética e, talvez, até com ajuda.
Por que não?

Mas, na base, PAI sendo PAI, em sua mais pura versão possível.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545