Do site da Revista Crescer
"Segundo o pediatra Moises Chencinski, amamentar em público é um direito da mulher e do bebê. "Como definir quando e onde um bebê vai sentir fome? Será que dá para esperar que ele tenha paciência até chegar a um lugar “socialmente adequado” para se alimentar?", diz
Dr. Moises Chencinski - Colunista
10/06/2021
- Isso é exibicionismo puro. Pra que “esfregar” esse seio na cara dos outros?
- Ao menos, podia se cobrir, não é?
- Você não tem vergonha? As crianças podem ver você.
- Você é mãe, deveria ter certeza de que seu filho está alimentado. Você deveria ter feito isso em sua casa. Não é algo para ser feito em público.
Constrangedor, mas acontece, ainda hoje, no século 21?
Aconteceu:
- na Austrália: dentro de um shopping e em frente a uma loja chique, dentro de outro shopping.
- na Inglaterra: em um famoso fast-food e com uma mãe expulsa de um ônibus.
- na França: com um relato de agressão na fila de uma loja.
Essas são algumas das incríveis situações, noticiadas entre 20 e 25 de maio de 2.021, e que acontecem o tempo todo, no mundo todo.
Mães são abordadas, quando amamentam em público, para que usem desde salas de amamentação a banheiros, ou que se cubram para que não exponham seus “seios indecentes” e embaracem os outros (“como você pode ver, há lojas como Louis Vuitton e Gucci, então você terá que amamentar em outro lugar”).
E, quando as empresas responsáveis são confrontadas com essa situação, oferecem um pedido de desculpas, com explicações que são sempre as mesmas: ou foi um “funcionário novo”, que não conhecia as suas rotinas pró-amamentação ou uma “possível interpretação incorreta” da mãe, em relação às explicações que ela estava recebendo. Oi?
As recomendações para a saúde materno-infantil são: amamentação exclusiva desde a sala de parto até o sexto mês, em livre demanda, até dois anos ou mais. Como definir quando e onde um bebê vai sentir fome? Será que dá para esperar que ele tenha paciência até chegar a um lugar “socialmente adequado” para se alimentar?
São questões culturais, sociais, históricas as que geram indignação, quando uma mãe amamenta seu filho (deixando à mostra, na imensa maioria das vezes, a nuca da criança), mas que são aceitas na praia ou na piscina, em imagens transmitidas ou presenciadas ao vivo no Carnaval ou em comerciais de roupas íntimas e lingeries que “escondem” muito menos dos seios dessas mulheres.
O mesmo seio que é visto como objeto de prazer é o seio que amamenta uma cria. Não há julgamentos ou críticas a nenhuma dessas mulheres (na praia, no carnaval ou nas propagandas). Mas, será que uma mãe que amamenta seu filho não mereceria, no mínimo, um “tratamento respeitoso”? Amamentar em público é um direito, não uma obrigação, da mulher e do bebê.
Ainda aguardamos, no Brasil, uma lei federal definitiva que puna quem constranger uma mãe que queira amamentar em público, que já existe nos Estados Unidos, em seus 50 estados, na Inglaterra, na França, na Austrália e outros, todos países com menores taxas de aleitamento materno.
“Que bom que exista uma lei que proteja uma mãe que queira amamentar em público. Que pena que seja necessário ter uma lei para isso.”
Que mundo é esse? Precisamos mudar isso aí. Logo. Já. Demorou.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545