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Amamentação e cultura

Do site Papo de Mãe - UOL

Amamentação também é uma questão cultural? O pediatra Moises Chencinski propõe transformações para mães e pais

Dr. Moises Chencinski - colunista

22/06/2021

“Zapear” pela internet, em busca de fontes para estudar ou escrever sobre determinados temas, sempre me traz surpresas. E, para minha sorte, grande parte delas é enriquecedora, útil, me ajuda a pensar, refletir.

Entre as minhas últimas viagens, passei por um site, uma revista. AZMina. Duas matérias incríveis me chamaram a atenção, e quero trazer aqui para me ajudar a passar um pouco do que penso ser importante para gerar incômodo e, a partir daí, mudanças.

Só para entender um pouco sobre a dinâmica da revista, no Quem somos: “Na verdade, achamos que todas as organizações e veículos jornalísticos deveriam ser feministas. Porque ser feminista quer dizer que acreditamos que homens e mulheres devem ter direitos e oportunidades iguais. Isso é o básico, não acham?”

E “feminista” deveria ter a mesma ideologia de “machista”: direitos e oportunidades iguais. Só que não, né? E pior é que ambos trazem uma conotação ruim e oposta, inclusive nas suas definições do dicionário. Pode procurar.

E que fique claro que estamos falando de comportamento e não de gênero. Sim, temos mulheres com comportamentos “machistas e sim, temos homens com ações e abordagens “feministas”.

Vamos ampliar um pouco essa visão para paternidade/maternidade e amamentação.

Cinco comportamentos que pais devem adotar para acabar com o machismo (2.016)

  • Brincadeira não tem gênero
  • Fale sobre o respeito ao corpo do outro
  • Não sexualize crianças
  • Inclua meninos e meninas nas tarefas domésticas
  • Não estimule a agressividade nos meninos

Seguindo esses princípios (5 só, vai), criamos uma cultura em que a amamentação, apesar de ser fisiologicamente uma ação da mulher, requer a participação de ambos, quer seja na proteção, na promoção ou no apoio ao aleitamento materno. E a cultura do “pai que ajuda” pode ser transformada na do “pai que respeita, acolhe, compartilha, participa e até ajuda, também”.

Nenhum menino nasce pai e nenhuma menina nasceu para ser mãe. É uma opção, é uma criação, é um aprendizado constante, um caminho muito tortuoso, com desafios.

 Dessa lista, trago alguns dos comentários campeões de audiência no dia a dia da amamentação.

  • Seu leite é fraco, não dá sustância. Por que você não dá mamadeira?
  • Ela está chorando muito, será que não é fome?
  • Mas vai mamar de novo?!
  • Esse bebê não sai do colo, vai ficar mal-acostumado.
  • Quase 2 anos e você ainda acorda de madrugada?! Que loucura, a minha dorme a noite inteira desde que saiu da maternidade.
  • Ele dorme com vocês? Nunca mais vai sair da sua cama!

O leite fraco, a livre demanda, o sono, o colo, a cama compartilhada... essa é a cultura dos “palpites”, das “boas intenções”, das “dicas”. Essa cultura precisa ser revista, reformulada, repaginada.

Ambos os textos vão muito além da questão da amamentação. Recomendo a leitura desses e uma aprofundada no site. Incomoda? Traz desconforto? Dá vontade de parar de ler?

Ótimo. Assim começam as grandes transformações. Chega de mais do mesmo.

 E a amamentação com isso?

Só tem a ganhar. Mudando a cultura, os paradigmas, as “verdades”, trazendo mãe e pai para o mesmo espaço, com o mesmo foco. Sem distinções.

Para concluir, uma frase atribuída a Carl Jung:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545