Do site da Revista Crescer
Nada como informação para saber exatamente a importância do leite materno para a saúde do seu filho e o que são, de fato, as fórmulas infantis
Dr. Moises Chencinski - colunista
03/08/2021
O tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) de 2021 é: Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos. Mas qual a relação entre o título e a SMAM? A semana não é de aleitamento? Por que falar das fórmulas? Leite de vaca? E afinal, o leite materno não é o padrão ouro da alimentação infantil? E isso não é bom o suficiente? Depende.
No dia 20/10/2019, um grupo de 12 pediatras com muitos seguidores nas redes sociais (1.672.743) lançou uma enquete através dos stories de seus perfis no Instagram com a seguinte pergunta: Você acha que a fórmula infantil vem do leite de vaca? Sim ou Não? Em 48 horas, obtivemos 26.070 respostas. Vou dar um tempinho para você pensar, antes de se arriscar.
Enquanto você pensa, vale saber que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde (MS), da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) continua a mesma: Aleitamento materno até 2 anos ou mais; exclusivo até o 6º mês; e em livre-demanda desde a sala de parto.
Preparada? Se você respondeu que sim, concordou com 51% dos participantes. Se achou que não, teve a mesma impressão que 49% das pessoas que responderam à enquete.
Os resultados, apesar de serem bastante intrigantes, mostram uma realidade importante para reflexão. O que acontece para que 49% das pessoas, em sua imensa maioria mães, não saibam que as fórmulas lácteas infantis são produzidas à base de ingredientes do leite de vaca e cabra? Será que essa informação está clara o suficiente nos produtos e na publicidade?
Quando você vai a um supermercado para compras, você passa por um corredor com prateleiras que vão brilhar em seus olhos. Elas estão repletas de latas de substitutos de leite materno, hoje todas douradas (lembra do padrão ouro do leite materno?). Nessas latas, são incluídas frases como “inspiradas no leite materno (LM)”, que contém “HMOs de estrutura idêntica” ao leite materno em uma lata dourada.
Aí a imagem se forma e se completa. A indústria produz um alimento que é inspirado no LM, com substâncias de estrutura idêntica ao LM, em uma lata dourada, que remete ao padrão ouro da alimentação infantil e que ela não informa ser à base de leite de vaca. Sabia que tudo isso vai contra a lei (Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos Lácteos, chupetas, bicos e mamadeiras) e que não pode ser divulgado dessa forma?
As indústrias de substitutos de leite materno, através de um excelente trabalho de publicidade e marketing, se utilizam de técnicas que confundem e desempoderam mães que estão sensíveis, em um momento de alta vulnerabilidade, pensando nos melhores cuidados para seus filhos.
A OMS tem como meta que até 2025, pelo menos 50% de crianças abaixo de 6 meses de idade estejam em aleitamento materno exclusivo. E para isso, estabelece 4 propostas de ação. A primeira, por ordem de importância, é limitar o marketing de fórmulas infantis (além de licença-maternidade remunerada, fortalecer sistemas de saúde e apoio às mães – nessa ordem).
A proposta não é acabar com a indústria, ou com os empregos ou com o produto (derivado de leite de vaca) e sim limitar o alcance do marketing dessas empresas que interferem, de forma marcante, na evolução das taxas de aleitamento materno.
As fórmulas lácteas infantis à base de leite de vaca (ou cabra), bem como fórmulas infantis à base de proteína hidrolisada de arroz ou proteína isolada de soja (acima dos 6 meses de idade - segundo recomendação da SBP) podem ser indicadas e receitadas, por nutricionistas ou pediatras, em situações em que o aleitamento materno não seja viável ou por opção da mãe (sem julgamentos, mas com informação).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545