Do BLOG PEDIATRA ORIENTA - SPSP
Uma das cores do mês de setembro é o amarelo, dedicado à sensibilização contra a depressão e o suicídio. E essa situação, que muitas vezes parece distante de nós, pode estar mais ao seu lado do que você imagina.
Moises Chencinski - Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP - Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP
05/10/2021
Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, 10 a 20% das mulheres no Brasil (mais de 500 mil por ano) podem passar por um processo de depressão na gestação ou após o parto.
Blues puerperal
Possivelmente, a tristeza materna seja uma das situações mais comuns (até 80% das mulheres), que pode ocorrer a partir de uma semana após o parto.
As mudanças bruscas de humor, da alegria e ternura pelo bebê, passando ao choro e irritabilidade, insegurança, tristeza e uma sensação de grande dificuldade de cuidar do bebê fazem parte da montanha russa de emoções que podem envolver a mãe no pós-parto. E, mesmo sendo muito comum, transitório e “normal”, essa instabilidade pode trazer sofrimento e desesperança e merece nossa atenção.
Uma rede de apoio (que pode nem ser imensa) atenta, acolhedora e que apoie a mulher nesse período é o “tratamento” mais eficaz, tornando desnecessária qualquer intervenção medicamentosa. Mas, é fundamental ter um olhar mais presente na situação, se ela se prolongar ou se agravar. Uma intervenção precoce, quando necessária, pode fazer toda a diferença no processo.
Depressão pós-parto (DPP)
Quando o quadro é mais prolongado (por meses), mais intenso em suas manifestações, com uma mistura de questões físicas e emocionais e que trazem sofrimento e até uma incapacidade de lidar com o bebê, podemos estar diante de um quadro depressivo.
Cada caso pode requerer um tratamento específico com apoio psicológico ou psiquiátrico profissional e/ou medicamentos.
A gestação, o parto e pós-parto são períodos de risco para esse quadro, pois representam experiências intensas. A incidência pode atingir 10 a 20% das mulheres nessas fases.
Quanto mais tempo se leva para detectar ou se buscar ajuda para a mulher com DPP, maiores os riscos de uma evolução mais traumática pelas maiores demandas e responsabilidades que aparecem nesse período, interferindo no sono, gerando mais tristeza e ansiedade.
Dessa forma, pânico, fadiga intensa, alterações de apetite, distanciamento no vínculo com seu bebê, pensamentos de morte, suicídio ou de prejuízos ao bebê podem aparecer.
No Brasil, uma análise com 3.174 mães participantes do programa Bolsa Família, 8 meses após o parto, mostrou que 26,5% delas tinha sintomas depressivos.
Amamentação e DPP
Um estudo publicado recentemente no Public Health Nursing avaliou a relação entre amamentação e o risco de DPP. Dados do Sistema de Monitoramento de Avaliação de Risco de Gravidez (PRAMS) de 29.682 mulheres, em 26 estados nos Estados Unidos, mostraram que as que estavam amamentando no momento da pesquisa e as que amamentaram por mais tempo tiveram um risco significativamente menor de DPP do que as que não estavam ou não tinham amamentado.
Outro estudo recente realizado no Brasil mostrou que quanto mais satisfeita uma lactante está com sua amamentação, menor a chance de sintomas de DPP (47% a menos).
Assim, mais uma vez a amamentação promove benefícios relevantes à saúde da mulher gestante e lactante, prevenindo a depressão pós-parto, promovendo uma melhoria do vínculo materno-infantil e protegendo a saúde física e mental da mãe e de seu bebê.
Setembro Amarelo: agir salva vidas!
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545