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Dor e amamentação não dão match

Do site da Crescer

O pediatra traz evidências dos benefícios do aleitamento materno no alívio da dor, tanto para a mãe quanto para o bebê. Entenda.

por Dr. Moises Chencinski - Colunista

01/11/2021

Dor? Ninguém merece.
Amamentar não deve doer. Se tiver dor é porque é necessário avaliar.
Amamentar pode prevenir dores na mãe e no bebê.
A ciência continua em alta.
E o coração de mãe não se engana.

Na mãe: endometriose

O endométrio é uma mucosa que reveste o útero por dentro e que descama durante cada menstruação, sendo reconstruída no ciclo seguinte para receber uma possível gestação. Se engravidar, ela não descama. Assim, ela depende da ação de hormônios para sua evolução (estrogênio).

Quando tecido do endométrio aparece fora do útero (ovários, tubas uterinas, cólon, sigmoide, apêndice) e funciona (cerca de 10% das mulheres), temos o diagnóstico de endometriose. Seus sintomas mais comuns são dor em cólica intensa na menstruação (dismenorreia), na relação sexual (dispareunia), no intestino (na época da menstruação), ou uma mistura desses sintomas, com aumento dos riscos de infertilidade (30 a 40% dos casos).

Um estudo recente acompanhou 123 mulheres com endometriose desde que engravidaram até os 2 anos de idade do bebê. Todas amamentaram. Dessas, 96 amamentaram exclusivamente por pelo menos um mês.

Todas as mulheres tiveram uma redução significativa da dismenorreia (dor na menstruação) proporcional à duração da amamentação, mas nenhuma melhora na dispareunia (dor no ato sexual).

Os pesquisadores concluíram que mulheres afetadas pela endometriose podem se beneficiar da amamentação exclusiva e prolongada, com redução significativa da intensidade dos sintomas de dor e prevenção de recorrências, relacionados diretamente à duração e à intensidade da amamentação.

No bebê: mamanalgesia

Quantas vezes você adiou, ou pensou mil vezes antes, ou perguntou para o pediatra se precisava mesmo, ou até nem seguiu a orientação de fazer um exame de sangue pedido para seu filho por pena dele ou porque estava muito brava por ainda não terem inventado outro jeito de colher o sangue do pequeno sem “fazê-lo sofrer”, imaginando o choro de dor dele (e o seu)?

Entre as dores mais temidas pelas mães durante a infância, a dor de exames e de picadas para vacinação ou medicação ocupam lugar de destaque e povoam o seu (in)consciente, sendo causa de muitos de seus pesadelos. Isso até que elas conheçam a “mais nova descoberta” (só que não) que pode acabar com esses problemas: a mamanalgesia, ou seja, a prevenção da dor pela amamentação.

Mas isso não é novo não. Já em 2014, o Ministério da Saúde publicou um Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação com a seguinte recomendação: “Caso a criança esteja em aleitamento materno, oriente a mãe para amamentá-la durante a vacinação, para maior relaxamento da criança e redução da agitação.”

Em outubro de 2021, a Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (COCAM) do Ministério da Saúde emitiu uma nova Nota Técnica que recomenda que “a amamentação deve ser incentivada durante o procedimento da vacinação, pois as evidências disponíveis apontam que se trata de uma intervenção não farmacológica eficaz na redução da dor e no estresse das crianças”.

E os estudos mostram que essa ação pode ser conseguida inclusive pelo leite materno oferecido desde 5 minutos antes até o final da aplicação mesmo sem ser administrado diretamente do seio, com ação mais positiva do que outras tentativas não farmacológicas, sem fatores de risco associados. 

O livro "Aleitamento Materno na Era Moderna – Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), recém-publicado para profissionais da área de saúde materno-infantil, traz um capítulo inteiro dedicado à mamanalgesia, pela importância do tema. E o leite materno cada vez mais é uma medicina personalizada.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545