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Mães: Imperfeitamente perfeitas

Do site da Crescer

Quando nasce um bebê, não nasce uma mãe. A “construção” de uma mãe é extremamente trabalhosa, desafiadora e, principalmente, única", afirma o pediatra

por Dr. Moises Chencinski - colunista

31/01/2022

Esse ano começou ainda com COVID, ainda em alta, mas também com H3N2, dengue, infelizmente a desconstrução da Medicina, a luta da ciência contra fake news, o controle da saúde no país à deriva, a economia assustada, catástrofes com fogo, inundações, desmoronamentos, crise moral, desesperança, desilusões, mortes... deu pra entender o panorama?

E vão exigir perfeição de uma mãe? Sério?

Mães são seres humanos. Acreditem. Não se deixem levar pela ilusão de que elas são dotadas e protegidas por Deus. Que nada acontece a uma mãe. Que ela sempre saberá o que fazer. Que o instinto materno... que elas nascem com o dom... que elas deram sorte... E só pra reforçar: quando nasce um bebê, não nasce uma mãe. A “construção” de uma mãe é extremamente trabalhosa, desafiadora e, principalmente, única.

Pausa para uma das palavras mais faladas e nem tão aplicadas de 2.021:

DESROMANTIZAR.

Não quer dizer não sonhar, não fantasiar, não curtir.
Quer dizer não se iludir, não criar coisas imaginárias e descrevê-las como reais.

Insistimos em desromantizar a amamentação. Não é simples, não é fácil, e o pior: está deixando de ser natural. Cria-se uma aura de divindade ao redor da amamentação que, de tão brilhante, ofusca os olhares de quem não vivencia ou não tem empatia, ou não tem escuta ativa, ou julga. E quem nunca julgou?

Se mama em livre-demanda - não sai do peito essa criança. Será que não é fome?
Se tem dor na mamada - machuca o seio. Por que não dá na mamadeira ou chupeta?
Se mama à noite - interfere no sono. Por que não dá complemento ou chupeta?
Se faz a cama compartilhada - não vai desgrudar nem à noite. Não tem medo de morte súbita?
Se está muito calor - bebê quer mamar mais. Por que não dá água?
Se engorda muito - peso bom. Não está mamando demais?
Se não engordou o esperado (pela avó, pelo pediatra, pelas amigas). Não falei que precisava complementar?

E no olho do furacão... fica a mãe. A única a realmente tentar fazer sempre o melhor pra sua cria. A única a ser incondicionalmente do time #meucorpominhasregras. E assim, contra quase tudo e quase todos... ela segue.

A mãe. A mulher. Sobrecarregada com o trabalho, com os cuidados da casa, da família, as responsabilidades, o cansaço de noites mal dormidas (parte delas nem dormidas). Com dúvidas e inseguranças. Muitas vezes, nem sabendo que não vai acertar sempre (porque ninguém acerta sempre). E sempre com culpa. Sempre se justificando, tipo "sou mãe de primeira viagem" (torcendo para que, quem sabe na próxima, se sinta mais confiante e segura).

A razão? Ela sabe que é só ela quem realmente defende e está com as crias, sem nenhuma dúvida, dando tudo de si. Mãe. Ela age. Ela é ativa (não passiva e não negacionista). Ela é ativista através de cada atitude, mesmo em seus enganos. E isso a fortalece. Sem os estigmas da caricatura, ela é uma feminista. Ela representa a mulher que ela é. Mesmo quando não consegue o que tanto quer. Mesmo quando ela não está inteira, quando ela não está plena. Ela segue, mesmo sozinha, com, sem, apesar ou por cima dos “erros” e dos “acertos”.

E o que se espera de nós continua sendo a empatia, a escuta ativa, sem julgamentos. E isso não é suficiente. Isso é o mínimo. Podemos muito mais. Devemos a elas muito mais. Estamos em débito pelo menos no reconhecimento. Mesmo isso as fortalece. Mesmo isso as empodera.

Não é muito, mas é quase tudo. Um olhar, uma palavra, um gesto, um carinho, apoio e muito respeito por essas mães: imperfeitamente perfeitas.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545