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Os pesquisadores observaram que a imunização materna resultou em uma persistência de anticorpos significativamente maior nos bebês aos 6 meses de vida, em comparação com crianças nascidas de mães que tiveram a infecção na gravidez
por CRESCER ONLINE - Redação
10/02/2022
A lista de benefícios da vacinação de gestantes ganhou mais um item, mesmo que indiretamente. Um estudo apontou que a imunização contra a covid-19 resultou em uma persistência maior de anticorpos nos bebês aos 6 meses de vida, após comparação com as crianças nascidas de grávidas que foram infectadas naturalmente com o vírus. Publicada na revista acadêmica Jama, na última segunda-feira (7), a pesquisa buscou analisar a durabilidade dos anticorpos anti-Spike (proteína do coronavírus) nos recém-nascidos.
Segundo os pesquisadores, a vacinação materna gera anticorpos contra a proteína spike na circulação das grávidas e que podem ser detectados no cordão umbilical após o nascimento. O trabalho incluiu grávidas que receberam uma vacina de mRNA covid-19 (tecnologia utilizada pela Pfizer) ou foram infectados com SARS-CoV-2 entre 20 e 32 semanas de gestação. De acordo com os especialistas, esse grupo de mulheres fez parte da pesquisa porque estudos anteriores demonstraram transferência transplacentária de anticorpos superior durante essa fase gestacional em comparação com a vacinação mais próxima do parto. Foram excluídas as infectadas antes da vacinação.
Realizado em dois centros médicos, em Boston (EUA), o trabalho acompanhou as participantes de 21 de julho de 2021 a 22 de outubro de 2021. Durante o estudo, foram incluídas 77 gestantes vacinadas e 12 mulheres com infecção sintomática por SARS-CoV-2 na gravidez. Após a coleta das amostras, os pesquisadores identificaram que a vacinação resultou em uma persistência de anticorpos significativamente maior em bebês do que a própria infecção.
Aos 6 meses, 57% das crianças nascidas de mães vacinadas tinham anticorpos detectáveis em comparação com 8% das crianças nascidas de mães infectadas. Para os pesquisadores, compreender a persistência dos níveis de anticorpos maternos em bebês é importante especialmente porque as vacinas contra a covid-19 não estão planejadas atualmente para administração em crianças mais novas do que 6 meses.
Os especialistas admitem que o estudo ainda inclui um pequeno número de bebês, no entanto, eles afirmam que esses achados são importantes para incentivar a vacinação de gestantes contra a covid-19.
Especialistas comentam
A pesquisa sobre a durabilidade dos anticorpos dos bebês foi bem recebido pela comunidade médica. Moises Chencinski, pediatra e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ressaltou que esse trabalho lança uma luz sobre dados que não tínhamos até o momento. "Apesar de não sabermos se a quantidade de anticorpos maternos que passa para o bebê pela vacina ou pela doença são suficientes para evitar ou diminuir a gravidade da infecção, pelo menos já se sabe que eles duram 6 meses nas crianças cujas mães foram vacinadas contra a covid-19 entre a 20ª e a 32ª semanas de gestação", esclarece o médico.
Outro ponto destacado pelo médico é que a proteção pela vacina contra covid-19 na mãe dura mais do que se ela tiver a doença. "Essa informação se torna mais relevante quando sabemos que não há uma previsão de vacinas contra a doença para crianças abaixo de 6 meses, por enquanto", ressalta.
O infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lembra que já há outros estudos que mostram a transferência de anticorpos para os recém-nascidos, tanto pela barreira placentária como também pelo leite materno. No entanto, a grande pergunta é o quanto de proteção esses anticorpos fornecem. "Casos em recém-nascidos não são tão frequentes. Assim, teríamos que acompanhar os bebês no primeiro ano de vida, tanto de mães vacinadas como não vacinadas, para saber quem se infecta menos e se há alguma diferença. São estudos difíceis de fazer, porque a ocorrência da doença no primeiro ano de vida não é tão frequente", explica o médico.
Chencinski também destaca que esses bebês teriam uma proteção, mesmo sem estarem, de fato, imunizados. Vale lembrar que a imunidade é uma defesa do nosso organismo, devido à presença de anticorpos específicos contra uma determinada doença infecciosa. "Ela pode ser ativa quando através de estímulos, quer seja pelo agente infeccioso, quer seja pela vacinação (imunização). Assim, nosso sistema imunológico aprende a reagir, na próxima vez que houver o contato com o vírus, bactéria ou outro causador da infecção, com uma produção mais rápida e mais intensa dos anticorpos, evitando, dessa forma, a doença", diz o médico.
Porém, esse tipo de imunização também pode ser passiva, uma proteção temporária por meio de anticorpos prontos que podem ser passados da mãe para o feto (pela placenta) ou para o bebê (pela amamentação). "Nessa situação existe uma proteção, mas como não sabemos quanto de anticorpo é passado, quanto tempo dura sua ação, não podemos falar em imunização como no caso das vacinas. Isso quer dizer que, no próximo contato com o agente infeccioso, como o sistema imunológico da criança não foi ativado, ela não saberá produzir novos anticorpos", esclarece o pediatra.
Chencinski também admite que o estudo tem suas limitações. "É necessário termos uma amostra maior, mais significativa, que comprove os dados apresentados. A informação da quantidade de anticorpos também seria interessante para determinar o quanto ela poderia ser eficaz para prevenir a doença ou, pelo menos, diminuir sua gravidade", comenta.
De qualquer forma, os achados são importantes para incentivar a vacinação das gestantes, que são grupo de risco para a covid-19. "Elas com imunização ativa (vacinadas) transmitem anticorpos para o feto e para o bebê (imunização passiva) gerando proteção para esse grupo que não pode ser vacinado", pontua o médico. "A cada dia, a covid apresenta uma nova faceta, uma nova variante, um novo sintoma, uma nova complicação. As vacinas, juntamente com o uso de máscaras e evitar aglomerações, são as grandes chances que temos contra a pandemia. Quanto antes cada um se vacinar ou vacinar seus filhos, antes atingiremos um nível de proteção que nos permitirá retomar uma vida com menos medo e mais segurança. A ciência continua lutando contra os antivacinistas e os negacionistas", finaliza.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545