Do site da Crescer
"Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana." (atribuída a Pablo Neruda)
por Dr. Moises Chencinski - colunista
25/02/2022
Um menino caminha
E caminhando chega num muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está
Gosto de música. Ela me acompanha em todas as atividades do meu dia, desde o meu despertar até o adormecer. Embala minha vida e meus sonhos, desde criança.
Hoje, durante meu café da manhã, ouvi Aquarela, composição (não só, mas principalmente) de Toquinho.
Um pouco de história: Aquarela / Acquarello
Toquinho compôs Uma Rosa Em Minha Mão dos álbuns Fogo sobre Terra e Boca da Noite (1974). Prestem atenção na melodia (nesse último link). No começo da década de 1980, Maurizio Fabrizio, um compositor italiano, que nunca tinha trabalhado com Toquinho, veio ao Brasil trazendo, entre muitas outras, uma música que ele tinha acabado de compor. Uma parte parecia muito com a música gravada em 1974.
E, da união desses dois compositores e das duas melodias, nasceu a música de Aquarela como conhecemos hoje (em menos de 10 minutos, acreditem!!!).
A letra foi escrita inicialmente em italiano (Guido Moura), se chamou Acquarello e foi gravada em 1983 por Toquinho na Itália. Voltando ao Brasil, no mesmo ano, ele a traduziu literalmente e gravou no álbum Aquarela, a música mais bem-sucedida de sua carreira.
Agora, muita realidade
Com certeza, Aquarela foi tema de muitas infâncias e, quando eu abordo, desde sempre, músicas infantis, essa é a minha maior referência. Quem nunca cantou, se emocionou, até chorou ao ouvir já as primeiras notas que identificam essa obra? A letra me leva à imaginação da criança, seus sonhos, suas alegrias, que faz lembrar da infância.
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Hoje, o futuro, “sem pedir licença”, muda a vida de milhares ou milhões de crianças e as “convida a chorar”. Chorar por seus familiares, chorar por sua casa destruída, chorar por sua cidade, seu país arrasado. Chorar pelo fim dos sonhos. Chorar pela perda da cor. Chorar pelo seu presente. Chorar pelo seu futuro.
Nesse momento, passamos por um período de pandemia, com mortes evitáveis de crianças; por catástrofes, como a de Petrópolis, com mortes de crianças, não há como fecharmos os olhos para a guerra (Rússia e Ucrânia).
Uma guerra nunca é santa. Uma guerra nunca é justa. Uma guerra nunca tem ganhadores. Uma guerra nunca tem razão.
Guerra traz mortes de inocentes, em especial, crianças. Guerra gera órfãos. Assim como na catástrofe de Petrópolis, assim como a pandemia de COVID-19.
Desde pequenas, as crianças são ensinadas que a violência não deve ser estimulada, que “é feio” brigar com o amiguinho, que devemos respeitar os mais velhos, que o amor pelo próximo é fundamental.
Mas, quando se cresce, a realidade muda de cara, de voz, de espírito, de alma, de arma... Já não é mais o diálogo, o sorriso, o abraço, a paz...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá
A minha criança interior (sim, todos nós a temos ainda) hoje está triste, de luto, e chora. Mas ela não pode e não vai se calar. Ela não vai fazer um minuto de silêncio. Porque as crianças são assim. Elas não param um minuto. Elas não obedecem às regras impostas. É necessário explicar, olhar, ouvir e convencê-las. E nada e nem ninguém me convence de que a morte de uma criança não poderia e não deveria ter sido evitada.
Um mundo sem crianças é um mundo sem futuro.
E isso, logicamente, me remete à saúde materno-infantil. Outra guerra que não deveria ser necessária. Saúde materno-infantil. Porque não há como separar a saúde, ou a doença, a vida ou até a morte de um sem influenciar diretamente no outro.
Família, lar, aleitamento materno (direito de todas as crianças e mães), vacinação irrestrita (todas e sempre), educação, presente e futuro.
Assim, convido a todos para fazermos, juntos, um minuto de barulho por cada criança até que elas sejam, de fato, vistas, ouvidas, respeitadas.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545