Do portal Papo de Mãe - UOL
Doação de alimentos que substituem o leite materno: o pediatra Moises Chencinski fala das fake news em tempos de emergências como a pandemia e a guerra
por Dr. Moises Chencinski - colunista
02/03/2022
Pandemias, inundações, guerras são catástrofes, muitas vezes não previstas. Mesmo assim, é inacreditável que, em pleno século 21, não estejamos preparados para essas eventualidades. Ninguém espera um incêndio em seu edifício ou em seu escritório, mas extintores e sistemas antifogo são itens de segurança obrigatórios nessas construções (sim, é necessário fiscalizar intensiva e constantemente também).
Todo ano, desde 1992, a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) foca em um tema importante para informação, proteção, apoio e promoção da amamentação.
Em 2.009, o tema da SMAM foi “Breastfeeding – A vital emergency response”, divulgado no Brasil como “Amamentação: A segurança alimentar nas emergências”. Esses temas parecem tão distantes de nós que não damos a devida importância a essas possibilidades, achamos que nunca vai acontecer com a gente e não nos preparamos adequadamente para ações.
E, do (quase) nada vem uma pandemia nova, da qual conhecíamos muito pouco ou (quase) nada e, com a qual, fomos aprendendo aos poucos, às custas de muita dor, muito sofrimento, muitas mortes, muita desconfiança (inimaginável) da ciência, o que era e é essa doença. E estamos apenas começando a conhecer o que ainda será.
Tratamentos?
Muitas tentativas e a maioria sem eficácia (mesmo com as fake news por aí).
Prevenção?
Só a vacina que chegou depois de muitas mortes, muito estudo e pesquisa, e ainda, surpreendentemente, tem gente que não “confia” e “não se vacina”. #vacinajá #vacinatodos
A única questão que desde o início da pandemia se mantém constante, e que, com o passar do tempo, se mostra cada vez mais eficaz, é a amamentação. COVID não passa pelo leite materno.
Mães com COVID podem amamentar, se quiserem e puderem.
Mães que tiveram COVID transmitem anticorpos que protegem (não imunizam) seus bebês através do leite materno.
Mães vacinadas contra COVID transferem anticorpos através do leite materno que aparecem nos bebês em maior quantidade e em maior duração (até 6 meses) do que nas mães que tiveram a doença, aumentando sua proteção (não imunizam).
Mães que tiveram COVID e se vacinaram depois representam o grupo que mais produz anticorpos.
E não dá pra deixar passar a tragédia de Petrópolis, onde muitas famílias perderam entes queridos, incluindo crianças, sua casa, todos seus pertences, ficaram sem água.
E a guerra na Ucrânia, em que um país inteiro teme pela morte, se esconde e tem sua liberdade de ir e vir e de viver posta em xeque, sem sua soberania, traz mais à tona os riscos de todos, mas, especificamente, a sobrevivência e segurança alimentar dos lactentes.
Em 2.009, um documento traduzido da WABA (World Alliance for Breastfeeding Action), abordou muitas questões a respeito da amamentação em tempos de emergências. Mas, é fundamental que estejamos preparados antes desses cenários se apresentarem, com informações e propostas.
Acredita que nessas situações dramáticas, ainda temos FAKE NEWS?
Mitos como esses precisam ser esclarecidos e desfeitos:
- “Mães desnutridas não conseguem amamentar.”
- “O estresse impede a produção de leite materno.”
- “Quando a mãe interrompe a amamentação, não consegue recomeçar.”
- “Quando uma mulher foi violentada, não consegue amamentar.”
Essas respostas merecem uma matéria cada uma, né? Hummm... Entendi a minha indireta para mim mesmo.
Mas já posso adiantar que essas, que estão no documento, vão de “depende” até um definitivo “de jeito nenhum”. Nenhuma das afirmações é verdadeira e, não justificam a substituição da possibilidade da amamentação por qualquer outra promessa feita pelas indústrias. Para as crianças maiores ou para aquelas que não estão em aleitamento materno, cada situação precisa ser avaliada à parte.
Quer ajudar e doar para as crianças? Pense nas famílias, em melhorar as condições das mães para que essas consigam manter o aleitamento materno, vital para a situações de emergência dos lactentes.
E propostas? Temos.
A WABA, entre suas programações, nesse documento de 2009, recomenda “estar pronto para as emergências, com planos, ouvir as necessidades das mulheres e comunidades, contar com redes de colaboração locais e de fora, ser proativos, trabalhando na comunicação e aplicando o que se sabe”.
Acima de tudo, ficarmos atentos a “planos e relatos de doações de fórmula infantil, derivados do leite, outros alimentos que substituem o leite materno, mamadeiras e bicos. Monitorar e informar violações ao Código em emergências é uma etapa fundamental na proteção ao aleitamento materno”.
Nesse momento, “lobos em pele de cordeiro” se aproveitam para atingir seus objetivos que visam, quase que unicamente, lucros financeiros.
Concluo esse texto com os objetivos da SMAM 2009, que merecem uma reflexão e um convite para ação:
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545