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Leite materno pode agir até os 4 anos de idade. É verdade esse bilete

Do site da Crescer

"Estudos têm demonstrado que o aleitamento materno é capaz de prevenir doenças e evoluções desfavoráveis na vida das crianças. Isso quer dizer que quanto mais leite de mãe um lactente recebe, maior essa proteção", diz o pediatra

por Dr. Moises Chencinski - colunista

21/03/2022

Sou suspeito?
Sou.

Vou parar de ser?
Não. 

Vale a pena insistir?
Sempre.

Se uma mãe for sensibilizada ou um bebê for beneficiado pela informação já valeu?
Com certeza.


Alguns esclarecimentos

IMC é o índice de massa corporal, criado no século 19 pelo matemático Lambert Quételet, calculado pela relação peso e estatura (IMC = P / Est2) e que avalia se alguém está dentro, abaixo (magro ou desnutrido) ou acima de seu peso ideal (sobrepeso ou obesidade). 

Idade gestacional é o tempo de duração da gestação. Ela tem um cálculo baseado na data da última menstruação, que não é tão preciso, podendo dar variação de 15 dias antes para 15 dias depois. Esse cálculo mais preciso é feito na maternidade, avaliando dados no exame do recém-nascido, após o parto (lógico, né?).

Pequeno, adequado ou grande para a idade gestacional é uma classificação que é feita analisando gráficos e, de acordo com o cálculo, vem como sigla no relatório de alta da maternidade (PIG, AIG, GIG). Cada um desses diagnósticos, com características próprias já na maternidade, pode precisar de exames e condutas de acordo com o acompanhamento, mesmo depois da alta, para cada criança.


Aleitamento materno e nutrição

O leite materno é considerado o padrão-ouro da alimentação infantil, o melhor produto do mundo. O leite de mãe é recomendado (lá vem o mantra) “desde a sala de parto até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o sexto mês, complementado, a partir daí, com alimentação equilibrada e saudável”.

O leite de mãe é o “alimento exclusivo” necessário e suficiente até os 6 meses e é o “alimento principal” dos 6 meses até 1 ano.

Nos primeiros 6 meses, não é necessário oferecer nenhum outro líquido, já que 85% do leite de mãe é água. Impressionou? Então se prepara. Isso significa que o bebê triplica de peso e aumenta seu comprimento e 50% desde o nascimento até um ano de idade, principalmente, com 15% da composição desse leite (85% de água e 15% de “comida”). Dá pra acreditar?

Porém, só isso não garante uma vida saudável. O leite materno é um ótimo começo, mas requer uma continuidade com alimentação saudável, equilibrada, evitando, ao máximo, alimentos ultraprocessados. Além disso, atividade física regular, contato com a natureza, relacionamento social também são fundamentais para nossa saúde.

Mesmo assim, estudos têm demonstrado que o aleitamento materno é capaz de prevenir doenças e evoluções desfavoráveis na vida das crianças. E esse efeito é, em grande parte das vezes, “dose-dependente”. Isso quer dizer que quanto mais leite de mãe um lactente recebe, maior essa proteção.


Aleitamento materno e obesidade infantil

Estudo recente feito na China, publicado no Nature, com dados analisados entre janeiro de 2.011 e março de 2.018, reuniu informações de 1649 prontuários de pares mãe-filho com registros detalhados de práticas de alimentação.

Os pesquisadores avaliaram a relação entre o aleitamento materno, as trajetórias de crianças consideradas GIG quando nasceram e seu IMC de 1 a 4 anos de idade.

E, mais uma vez, o leite materno se mostrou protetor de sobrepeso e obesidade, mesmo nas crianças que nasceram muito grandes, mantendo o IMC adequado, pelo menos até os 4 anos de idade.

É importante ressaltar que estudos também apontam para uma relação entre o IMC da mulher, antes de engravidar, e o peso de seu recém-nascido e sua evolução.

Assim, o estudo traz, como conclusão, três recomendações:

- A importância de promover e incentivar as gestantes a amamentar seus filhos.
- As mulheres grávidas devem se concentrar no IMC antes da gestação, que pode ter efeitos a longo prazo no sobrepeso ou na obesidade infantil.
- A importância de explorar e desenvolver intervenções pré-natais que destaquem a prevenção do sobrepeso ou da obesidade infantil desde o estágio inicial.


Amamentar é um direito de mãe e de bebê. Não é uma obrigação.

Mas, tudo deve ser feito para que as mães que queiram amamentar atinjam seus objetivos. E isso começa na mudança da cultura, no controle da influência do marketing da indústria, que também é grande responsável pela “epidemia” de consumo de alimentos ultraprocessados que geram problemas de obesidade, diabetes, colesterol, triglicérides, hipertensão, até câncer, entre muitas outras.

Mudança na educação também é base para essa transformação, desde o ensino fundamental até a pós-graduação. Nutrição adequada deveria ser matéria obrigatória em todas as áreas do conhecimento humano, quer sejam na área de biológicas, exatas ou humanas, assim como são a matemática, ciências ou português. E a amamentação, característica comum dos mamíferos, tem que estar representada nesse caminho.

Não podemos nunca menosprezar a educação. Aliás, talvez porque nada acontece por acaso, a educação é tema de duas campanhas importantes nesse ano.

- A CNBB, que tem em seu texto base da Campanha da Fraternidade de 2.022 baseado na educação com o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor”.
- A Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2.022 que tem seu tema também focado na educação. Em inglês “Step up for Breastfeeding: Educate and Support” que está em uma possível tradução como “Fortalecer a Amamentação: Educando e Apoiando”.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545