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A amamentação não é um fator decisivo para o vínculo criado com o bebê, sugere estudo

Do site da Crescer

No entanto, especialistas reforçam que o leite materno é a melhor opção, porque oferece inúmeros outros benefícios, como imunidade e menor risco de problemas de saúde, como obesidade e diabetes

por CRESCER ONLINE - Redação

29/04/2022

Uma mãe que amamenta seu bebê no peito tem mais vínculo com o filho do que uma mãe cujo bebê recebe outro tipo de alimentação? De acordo com os resultados de um novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Lincoln, só com esse dado, não dá para responder. Foram entrevistadas 3 mil mães, com idade média de 28 anos, e os resultados sugeriram que nem sempre o aleitamento materno é fundamental para a criação de laços entre mãe e bebê. 

“Apesar dessas descobertas, deve-se reconhecer que a amamentação é muito importante por muitas outras razões e ainda deve ser incentivada sempre que possível", ressaltou Abigail Davis, autora do relatório, ao jornal britânico The Sun. “Muitas novas mães desejam amamentar e se sentem sem apoio em sua jornada, o que pode ser desanimador. No entanto, se uma mãe optar por não amamentar ou se não puder amamentar, não encontramos evidências que sugiram que o relacionamento com o filho seja afetado”, explicou. Os pesquisadores destacaram que o estresse e a pressão para que uma mulher amamente a qualquer custo podem atrabalhar, em vez de ajudar.

Para chegar ao resultado, os cientistas pediram para que as mães participantes respondessem a questionários com cerca de 30 perguntas sobre como elas alimentavam seus bebês com menos de 3 anos de idade, sobre a experiência do parto e o quão próxima elas se sentiam de seus bebês. A compilação dos resultados não mostrou evidências que mães que amamentavam tinham um vínculo necessariamente maior com os bebês, em comparação com bebês alimentados de outras maneiras.

Para o pediatra Moisés Chencinski, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e colunista da CRESCER, é importante separar dois aspectos da amamentação: o leite materno, que é indiscutivelmente o melhor alimento para o bebê de qualquer idade, da sala de parto até o desmame, em qualquer situação; e o aleitamento, que é uma decisão da mãe, desde que bem informada, acolhida e apoiada por profissionais de saúde materno-infantil e por uma rede de apoio. "Não se pode limitar o vínculo à amamentação. Esse vínculo ("bom" ou "ruim") é criado desde muito antes. Pelo menos desde a gestação, se não antes ainda", afirma.

"O vínculo precisa de dois indivíduos. Assim, como 'não se nasce para ser mãe' e 'quando nasce um bebê, não nasce uma mãe', essa ligação mãe-bebê vem com muito mais informações do que apenas a amamentação. Muito cuidado para não cairmos na cilada de dizer que uma mãe que não amamenta (porque não quis ou porque não conseguiu) não cria vínculos com seu bebê ou não o ama. O contato pele a pele, desde que orientado, pode acontecer independentemente da forma de se nutrir um bebê. E ele libera hormônios para a mãe que vão agir como 'mediadores químicos' para a criação e fortalecimento desse sentimento. Mas, alguns estudos mostram que a amamentação pode favorecer esse caminho", comenta o especialista.

O leite, o calor e o contato com o corpo da mãe, seu cheiro (que ele reconhece!) e o som dos batimentos cardíacos o instigam. É assim que o ser humano descobre o mundo e começa a ter consciência de si mesmo. “A primeira relação social do bebê seria com a figura da mãe, representada pelo seio materno”, afirma a psicóloga Lália Dayse Farias, do Serviço de Saúde Mental do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), no Rio de Janeiro. “O prazer proporcionado pelo ato de sugar e o amparo da mãe fazem com que o bebê se sinta acolhido e seguro”, completa.

Enquanto isso, no organismo materno, ocorre intensa liberação do hormônio ocitocina, popularmente conhecido como o hormônio do amor. É o mesmo que estimula as contrações uterinas e a descida do leite. Estudos mostram que animais que não produzem ocitocina ignoram seus filhotes, o que leva a crer que a amamentação, também por meio de um processo bioquímico, favoreceria o afeto da mãe pelo bebê.

E quem não pode amamentar?

Isso não significa que o relacionamento com o bebê será ruim. Em primeiro lugar, é preciso reforçar que a criação do vínculo é um processo e – quem diria? – pode começar desde antes da gravidez. “Muitas vezes, se configura ainda na infância, quando a menina constrói culturalmente a ideia de ser mãe ao brincar de boneca”, exemplifica a psicóloga Lália. O sentimento será retomado, de acordo com a especialista, durante o planejamento da gravidez e, depois, na gestação propriamente dita. Mas é claro que tende a se fortalecer a cada dia, na convivência entre a mãe e a criança. “Acredito que, se o bebê for alimentado com afeto, a experiência vai lhe transmitir segurança de qualquer maneira”, opina. Perdem-se alguns benefícios da amamentação, mas não a oportunidade de estreitar o vínculo: o colo, as conversas e o contato da pele na hora do banho e de dormir também cumprem essa função.

Além do vínculo: outros benefícios do aleitamento materno

Para além do relacionamento com seu filho, que pode ser construído e fortalecido de várias outras maneiras, a amamentação traz beneficios importantes, tanto para a mãe, como para o bebê. O recém-nascido recebe os anticorpos que a mãe já tem e ele não, por meio desse alimento. O aleitamento também reduz o risco de morte súbita, diabetes e obesidade, entre outras doenças. As mães que oferecem o leite materno têm menos risco de desenvolver câncer de mama e de ovário e problemas cardíacos.

 

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545