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Aleitamento materno não é tudo ou nada

Di site da Crescer

Nem sempre mãe e filho conseguem manter a mamada ideal, mas qualquer aleitamento materno é melhor do que nenhum. Profissionais da saúde têm papel fundamental em fornecer o apoio necessário à mãe

por Dr. Moises Chencinski - colunista

18/04/2022

No recente Congresso Pernambucano de Pediatria, onde fui participar como palestrante, tive a oportunidade de assistir a (mais) uma aula incrível da Dra. Maria Beatriz Reinert do Nascimento, pediatra de Santa Catarina e do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com tantas informações claras, importantes e simples, que me inspiraram para esse texto.

Apesar de as referências não serem tão recentes (2006 e 2013), os dados permanecem válidos, tamanha a sua objetividade e abrangência.

O que é “normal” no aleitamento materno?

Antes de tudo, vamos ao dicionário definir o que é “normal”.

1. Conforme a norma; regular.
2. Que é comum e que está presente na maioria dos casos; habitual, natural, usual.

Ou seja, pode incluir a maioria dos casos. Mas não é tudo. Quer dizer que podemos ter situações que fogem à norma, mas não são erradas. São só outros tipos de “normal”.

Menos filosofia e mais prática

Essas informações se referem ao aleitamento materno em lactentes entre 1 a 6 meses (baseadas na aula da Dra. Maria Beatriz). Vejam as variações imensas do “normal”.

- Frequência de mamadas: 4 a 13 vezes ao dia.
- Duração da mamada: 12 a 67 minutos.
- Extração de LH (Leite Humano): 54 a 234 ml por mamada.
- Mamar em uma ou duas mamas: 30% (1 mama) / 13% (2 mamas) / 57% (algumas vezes uma, e outras vezes duas).
- Mamadas noturnas: 64% mamam entre 22 – 4h.
- Volume total por dia: 478 a 1356 ml.
- Entre 1 e 3 meses os bebês crescem mais rapidamente. Entre 3 e 6 meses, os lactentes crescem mais lentamente, têm o seu metabolismo mais controlado e, assim, não precisam, necessariamente, de mais leite.

Seguem outras referências (2017 e 2020).

- Para estabelecer suprimento adequado de leite humano, no início, são necessárias de 8 a 12 mamadas em 24 horas.
- Lactente que tem comportamento mais agitado ou mamadas mais frequentes: “NORMAL”.
- No primeiro mês de vida, as mamadas podem ser mais demoradas ou até mais frequentes e constantes, muitas vezes mais comuns à noite.
- Antes de chorar, os bebês já dão sinais de que estão prontos para mamar.

Quando um bebê mama, muitas vezes a mãe fica insegura sobre o quanto ele mamou, se foi suficiente (amamentação também é questão de “acreditar”). Afinal, quanto cabe de volume no estômago de um recém-nascido (2008)?

- 1º dia – 5 a 7 ml (bolinha de gude).
- 3º dia – 22 a 27 ml (bolinha de pingue pongue).
- 10º dia – 60 a 81 ml (ovo extragrande de galinha).

E daí? O que isso quer dizer? Qual o “normal”?

É justo e esperado que uma mãe tenha muitas dúvidas a respeito do crescimento e desenvolvimento de seu filho. E, na busca do melhor, o questionamento sobre o leite materno também pode aparecer.

O leite materno é considerado o “padrão-ouro” da alimentação infantil. Afinal, ele é o leite da espécie. Não há dúvidas sobre suas características serem as mais apropriadas para uma “cria da raça humana”.

Então, por que razão 100% das mães não oferecem o seu leite para seu bebê?
A resposta não está no leite e sim no aleitamento materno.

QUERER. PODER. CONSEGUIR. PERSISTIR. TRANSFORMAR.

São ações e intenções que podemos analisar em todos os setores de nossas vidas, inclusive na amamentação. 

Para começar, as dúvidas e as situações que aparecem, mesmo entre as mães que estão amamentando, já tornam essa taxa de 100% um ideal praticamente inatingível. A decisão sobre a forma de alimentar um bebê é uma prerrogativa da mãe. Mas, a responsabilidade sobre a INFORMAÇÃO, seguida da ESCUTA ATIVA, da EMPATIA e da AUSÊNCIA DE JULGAMENTO para essa tomada de decisão é de responsabilidade dos profissionais de saúde materno-infantil que estão em contato com essa mãe.

Esse resultado transita por muitas áreas (vamos lá, de novo, com o governo, políticas públicas, instituições, sociedade, rede de apoio). A EDUCAÇÃO de todos eles é fundamental para o APOIO às mães, aos bebês e para FORTALECER O ALEITAMENTO MATERNO.

Amamentação é uma questão multifatorial e, por isso, requer a ação de uma equipe multiprofissional capacitada, habilitada, coesa, coerente e acolhedora.

Ideal: aleitamento materno desde a sala de parto, exclusivo até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais em 50% das crianças abaixo de 6 meses até 2.025 e até 70% em 2.030.

Possível: Qualquer amamentação é melhor do que nenhuma.

Real: Amamentar é um direito de mãe e bebê. Não é tudo ou nada.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545