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A fórmula pode realmente ser uma ferramenta essencial para estabelecer a amamentação em primeiro lugar. Tá passada?

Do site da Crescer

Você já deve ter ouvido essa frase. E, recentemente, ela foi dita por uma pediatra norte-americana, após os EUA passarem pela maior crise de produção de substitutos de leite materno de sua história. Mas não, essa frase não se sustenta sob qualquer estudo científico e vai contra todos os conhecimentos mais atualizados das instituições e profissionais de referência mundial sobre amamentação. Entenda!

por Dr. Moises Chencinski - colunista

16/05/2022

Topa uma trend?
Faça um vídeo seu, enquanto lê em voz alta essas frases a seguir.
Depois, assista suas reações no vídeo.

As frases (vou resumir)

- “Estou aqui para esclarecer as coisas. Muitos, se não a maioria, dos bebês precisarão de pelo menos alguma quantidade de suplementação de fórmula para alcançar sua saúde ideal e até mesmo para atingir as metas de amamentação dos pais.”

- “... e mesmo algumas mães biológicas são incapazes de fornecer leite materno com segurança – uma variedade de infecções, medicamentos e condições genéticas podem tirar totalmente a amamentação da mesa.”

- “Ainda mais comum é a baixa oferta de leite. Os obstáculos potenciais para ser fisiologicamente capaz de produzir leite suficiente para nutrir um bebê incluem ter tido uma cesariana... e dezenas de condições de saúde materna (como doenças da tireoide, sangramento pós-parto, síndrome do ovário policístico – a lista continua).”

- “Os próprios bebês às vezes não são capazes de tolerar o leite materno ou de sobreviver sozinhos, com condições comuns como icterícia e baixo nível de açúcar no sangue... Nesses casos, usar um substituto do leite materno seguro e regulamentado que foi projetado para conter a quantidade exata de micro e macronutrientes, sais, açúcar e água que um corpo delicado do recém-nascido precisa – ou seja, fórmula infantil comercial – é a única maneira para evitar a fome, a desidratação e a morte.”

- “Fornecer fórmula pode até ser importante para permitir que as mães confiem no leite materno como fonte primária ou quase exclusiva de nutrição.”

- “Na maioria das vezes, introduzir uma certa quantidade de fórmula é a única maneira de manter os bebês saudáveis ​​e felizes o suficiente para que possam realmente aprender a amamentar.”

- “Perturbadoramente, muitos justificam essa abordagem com a afirmação errônea de que no passado havia apenas aleitamento materno e as pessoas lidavam bem. Mas aqueles não eram os bons velhos tempos: era uma época de mais mortes infantis.”

Os fatos

Os Estados Unidos passam pela maior crise de produção e distribuição de substitutos de leite materno de sua história. Em abril, houve uma queda de 40% devida a vários fatores.

Apenas 3 empresas (Abbot, Recckitt e Gerber), que fazem parte do Conselho de Nutrição Infantil dos Estados Unidos (INCA), controlam a produção de quase 85% dos SLM. Em fevereiro desse ano, a Abbott retirou “voluntariamente” grande quantidade de produtos do mercado (contaminação) e os grandes varejistas estão limitando vendas por cliente, para manterem seus estoques.

Com isso, Bette Midler (76 anos), outras mães, em publicações, reagiram a essa notícia recomendando a amamentação como uma possibilidade “gratuita e sob livre-demanda”, através das redes sociais. As críticas a essa e outras posturas semelhantes avançaram pela mídia.

Uma das matérias publicadas tinha todas essas “afirmações acima” de uma forma categórica. Mas, se você pensa que esse material foi escrito pelas indústrias de SLM, ou encomendada para uma empresa de marketing, ou por uma mãe leiga, ou por um homem, ou que tenha sido anônima... Engano seu.

Esse matéria foi feita com uma “pediatra-mãe”, professora assistente de Pediatria em uma universidade nos Estados Unidos. Ela relata sua experiência pessoal com sua bebê prematura, que certamente a marcou de forma bastante significativa, mudando, segundo ela, sua visão a respeito da importância da prescrição de fórmulas. Não nos cabe analisar suas reações e sua sensação, que certamente são compartilhadas por milhões de mães no mundo. Seu sofrimento, sua experiência pessoal como “mãe”, suas emoções não estão em julgamento, de forma alguma. Ao contrário. Todos os nossos sentimentos de empatia pelo que ela passou.

Porém, as conclusões médicas, da “pediatra”, a partir daí, merecem avaliação muito criteriosa. Generalizar uma conduta médica, a partir de uma experiência pessoal, mesmo que seja semelhante a muitas outras, mas não embasada pela ciência, pelos estudos e pela experiência, que vai contra todos os conhecimentos mais atualizados das instituições e profissionais de referência mundial sobre o tema, é no mínimo pouco cuidadoso.

Nenhuma das afirmações acima ou que estão no texto completo se sustenta sob qualquer estudo científico. E, usar esse tipo de “experiência pessoal” como verdade absoluta, divulgar indiscriminadamente como orientação a ser seguida, sem qualquer critério, enaltecendo até a composição das fórmulas infantis em detrimento das informações sobre o leite materno, carece de responsabilidade profissional e pode desempoderar as mães.

Reforço o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2.022:
FORTALECER A AMAMENTAÇÃO: EDUCANDO E APOIANDO.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545