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Atualização do Guia de Aleitamento Materno da Academia Americana de Pediatria agora “recomenda” amamentação por 2 anos ou mais

Do site da Crescer

Conforme publicado no Pediatrics (publicação da Academia Americana de Pediatria), pela primeira vez em 10 anos, a AAP atualiza o seu guia de aleitamento materno

Dr. Moises Chencinski - colunista

29/06/2022

Entre as maiores e principais mudanças do Guia de aleitamento materno da Academia Americana de Pediatriestá a recomendação de aleitamento materno exclusivo até 6 meses (como estava no guia em 2.012), mas, “desde que desejado mutuamente por mãe e bebê, até 2 anos ou mais”, agora de acordo com a Organização Mundial de Saúde, modificando sua orientação anterior de limitar até 1 ano.

Com base nos dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Imunizações (2.018) nos Estados Unidos, os números chamaram a atenção, após o reconhecimento da importância do leite materno “sem o prazo de validade anterior”, na tentativa de aumentar os índices de aleitamento materno.

83,9% - É a taxa para qualquer aleitamento (não o exclusivo) ao nascer.
46,3% - Taxa de aleitamento materno exclusivo (AME) aos 3 meses.
56,7% - Taxa de qualquer aleitamento materno aos 6 meses.
25,8% - Taxa de AME aos 6 meses.
35,0% - Taxa de qualquer aleitamento materno aos 12 meses.

19,4% - Taxa de bebês amamentados que receberam fórmula infantil comercial nas primeiras 48 horas após o parto.

60,0% - Taxa de mães nos Estados Unidos que relatam que não amamentam pelo tempo desejado.

As causas alegadas para esses números vão desde questões de manejo (pega, posição), passando pela preocupação com o peso do bebê, uso de medicamentos, além de carência de políticas de trabalho, normas culturais e falta de apoio dos pais ou familiares.

Esses índices, de forma geral, são inferiores às nossas taxas no Brasil (ENANI-2019), onde as recomendações estão de acordo com as da OMS (aleitamento materno desde a sala de parto até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês).

Como já era consenso, o leite materno continua sendo uma importante fonte de macronutrientes e fatores imunológicos para a criança em crescimento, “já que é composto pelos mesmos níveis de lactose e gordura do leite de primeiro ano, com concentrações significativamente mais altas de proteína, lactoferrina, lisozima e imunoglobulina A”.

Além disso, “doenças pediátricas agudas e crônicos, como otite média, doença diarreica aguda, doenças respiratórias inferiores, síndrome da morte súbita infantil (SMSI), doença inflamatória intestinal, leucemia infantil, diabetes mellitus, obesidade, asma e dermatite atópica, ocorrem com menos frequência entre as crianças que foram amamentadas quando bebês”.

E a justificativa é atribuída, também, à composição biológica do leite materno, “que contém fatores anti-infecciosos e anti-inflamatórios; oligossacarídeos que promovem um microbioma intestinal saudável; fatores de crescimento; ...neutrófilos, leucócitos e células estaminais; e bactérias, incluindo bifidobactérias e lactobacilos, todos com papéis importantes no estabelecimento do sistema imunológico neonatal e da microbiota intestinal. Estudos enfatizam a importância da “janela crítica precoce” no primeiro ano de vida, durante a qual a amamentação pode induzir efeitos a longo prazo”.

O documento relata estudo que “descobriu que a duração mais longa da amamentação, até os 3 anos de idade, previu aumentos na sensibilidade materna observada – por exemplo, a capacidade de resposta materna ao bebê , afeto, flexibilidade e capacidade de ler as pistas dos bebês - até a idade de 11 anos em crianças, após a contabilização de várias variáveis ​​de confusão”.

Outras pesquisas apontadas pelo guia (2013 e 2017) “alertam” para os benefícios (já conhecidos) da amamentação mais prolongada na saúde materna, associando “à diminuição do diabetes mellitus materno, hipertensão, câncer de mama e câncer de ovário. A maior duração da amamentação está associada à diminuição do risco de desenvolver câncer de mama e ovário na mãe”.

O longo documento reforça a importância de se manterem as leis que apoiam a amamentação, em relação às empresas, para além de um ano de idade e das orientações de pediatras acolhendo e orientando as mães que desejem amamentar.

Os benefícios relatados se estendem ao meio ambiente com a diminuição da pegada de carbono, tão significativa na produção de fórmulas infantis, com agravação do efeito estufa, além da necessidade de mais de 4.000 litros de água necessários para produzir apenas 1 kg de fórmula em pó. O aleitamento materno, segundo o Guia, contribui “para a redução da pegada de carbono, sustentabilidade ambiental e segurança alimentar durante todo o ano e deve ser considerada nas metas de desenvolvimento em nível nacional e global”.

Apesar de esses números e dados já serem de nosso conhecimento e aplicação no Brasil há muito tempo, é importante a nova postura da AAP em concordância com as recomendações da OMS, no que diz respeito à chamada amamentação prolongada (2 anos ou mais). O quanto esse novo documento tem relação com a atual escassez de fórmulas infantis nos Estados Unidos é um tema a ser discutido.

Próximo passo importante é considerar um relatório e uma recomendação da OMS sobre o controle do Marketing da indústria de substitutos de leite materno (55 bilhões de dólares), fator que influencia gestantes e lactantes, em um momento de vulnerabilidade, no que diz respeito ao seu desejo de amamentar.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545