Do site da Stellar Shop
Amamentar é instintivo? Toda mulher pode dar de mamar? É preciso preparar os seios para a amamentação? Na semana mundial de apoio à amamentação, Stellar convidou o pediatra Moises Chencinski, referência nacional do aleitamento materno, para responder as principais dúvidas da nossa constelação de gestantes e recém-mães. Boa leitura!
06/08/2022
Chegamos à 31ª Semana Mundial de Aleitamento Materno, celebrada na primeira semana de agosto, e o mês inteiro no Brasil é dedicado ao tema, conhecido como “Agosto Dourado” justamente por dar mais visibilidade aos assuntos relacionados ao aleitamento materno. Todo ano a World Alliance for Breastfeeding Action (WABA) traz um tema relacionado às questões da amamentação, com o objetivo de sensibilizar e informar toda a sociedade.
No Brasil, o tema desse ano ficou traduzido como: “Fortalecer a Amamentação. Educando e Apoiando.” E a escolha não poderia ser mais propícia, afinal, o mundo atravessou uma longa pandemia que trouxe reflexos também na amamentação. Por conta do distanciamento social, a tão falada e importante rede de apoio ficou longe e as recém-mães se viram ainda mais solitárias nesse processo desafiador e cheio de descobertas que é o puerpério e amamentação. Um estudo feito com 395 puérperas, atendidas na maternidade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre entre 2019 e 2021, apresentado no último Salão de Iniciação Científica (SIC), apontou que entre as entrevistadas que amamentavam seus filhos antes da pandemia, 69,4% delas mantiveram a amamentação durante a pandemia, porém, a porcentagem das que seguiram com o aleitamento materno exclusivo aos seis meses durante a pandemia caiu para 31,9% quando comparada aos índices de antes da pandemia. Elas também tiveram risco 34% menor de oferecer a alimentação complementar antes do sexto mês de vida da criança, em comparação com os dados de antes da pandemia.
Stellar ouviu o pediatra Moises Chencinski, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, e membro da Câmara Técnica de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, que esclareceu as principais dúvidas das recém mães.
Informação e cuidados médicos antes do nascimento do bebê
O especialista ressalta que as informações sobre o aleitamento materno devem ser passadas às mulheres ainda nas consultas de pré-natal, no parto e pós-parto nas maternidades e também nas unidades de cuidados materno infantis. “Toda mulher precisa ter a sua mamada observado do início ao fim, ao menos uma vez, enquanto está na maternidade. Depois na consulta com o pediatra". Só isso já mostra se há algo a ser corrigido ou não, por exemplo. Na hora que o pediatra atento vê a pega, ele já consegue saber se está indo bem ou não. “É inimaginável uma mãe sair da consulta do pediatra com seu recém-nascido sem ter a amamentação observada do início ao fim!”, diz.
Ao falar sobre a amamentação é natural que a primeira figura que venha à nossa mente seja o bebê. No entanto, Chencinski pontua que no aleitamento, a figura mais importante é sempre a mãe. “Há dificuldade de entender a questão central do aleitamento materno: quando nós estudamos saúde, estudamos saúde materno-infantil e não infanto-maternal. Ou seja: o centro do atendimento e cuidado é sempre da mãe. E quem quiser tirar o protagonismo da mãe desse processo, com toda certeza está cometendo um equívoco imenso. Isso vale para pediatras, consultores de amamentação e até para o governo”, afirma.
Outro ponto importante é que a mãe tem o direito de ser acolhida mesmo que ela não possa, não consiga ou não queira amamentar. “É nosso papel informar bem essa mãe. Eu mesmo já dei muitas aulas no meu consultório sobre os benefícios da amamentação, mas ao final, precisei respeitar a decisão da mãe de, mesmo estando bem informada, não querer amamentar.”
Hoje, sabe-se, por exemplo, que a amamentação é proteção para a mãe – já que protege contra o câncer de mama e dos ovários; reduz chance de diabetes e hipertensão, entre outros benefícios – e para o bebê, que fica menos propenso às infecções respiratórias e digestivas, além de muitos outros benefícios.
Não é raro encontrar mulheres que duvidem de sua capacidade de amamentar seu bebê. Pudera: é tanta falta de informação e informações erradas que se torna muito mais fácil ficar perdida no processo. E há também um paradoxo: ao mesmo tempo que é ótimo termos doulas, consultoras de amamentação, nutricionistas e fonoaudiólogas auxiliando as mulheres no processo de amamentar, precisar desse time afasta qualquer vaga ideia que amamentar seja natural e instintivo. “Nós estamos perdendo o natural e instintivo. O movimento do parto natural e do aleitamento materno é importante para voltarmos às origens: somos mamíferos, e tanto parir quanto dar de mamar deveria ser natural.”
O obstetra precisa saber orientar a gestante, e a partir da 32 semana de gestação, ela deve consultar um pediatra, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. “Mas, infelizmente, essa está longe de ser uma conduta padrão entre os médicos. E entram em cena os profissionais citados acima para dar o suporte que deveria ser básico”, comenta Moises. O médico acredita que a falta de informação – ou o excesso de informações desencontradas – leva à insegurança da mãe. “Sendo assim, por incrível que pareça, para amamentar é preciso ter fé, afinal, a mãe não sabe quanto leite tem no peito, quanto está saindo, se o bebê está sugando”, diz. E para as mães que estão com seus recém-nascidos e duvidam da capacidade de amamentar, com medo de não ser o suficiente para o bebê, o médico tranquila: “A informação mais importante é que seu bebê precisa ter entre cinco a seis fraldas molhadas por dia. Se isso acontecer, é sinal que a amamentação está indo bem.”
São raras as exceções, como mulheres que usam drogas e aquelas cujos bebês nascem com galactosemia, uma condição bem rara que o faz ser intolerante ao leite, inclusive o materno. Tirando os casos geralmente extremos, toda mulher saudável tem a capacidade física de amamentar.
Levanta a mão quem já ouviu falar sobre “preparar o peito para a amamentação”. “Isso não existe! O peito vem pronto! Na aréola existem aquelas bolinhas, que são as Glândulas de Montgomery, a função delas é lubrificar e exalar um cheirinho natural que estimula o bebê a se aproximar dos seios para mamar! Está tudo pronto, lindo. A natureza é perfeita. Então, não precisa tomar sol ou tomar líquidos para estimular nada”, enfatiza o médico. A preparação é feita pela vontade de querer amamentar, informação e rede de apoio.
Tanto mulheres que têm parto normal – via vaginal – quanto às que passaram pela cirurgia cesariana, podem experimentar a descida natural do colostro (fase inicial do leite) imediatamente após o parto, desde que elas tenham passado por todo o processo de trabalho de parto. As que fazem cesárea eletiva podem não ter o colostro imediatamente após o parto justamente porque o corpo não entende que aquela era a hora do bebê nascer. E também pode acontecer do colostro começar a descer ainda no final da gestação. Se isso acontecer, fique tranquila. É seu corpo entendendo que o bebê está próximo a chegar.
Esse é um dos maiores e mais divulgados sobre a amamentação. O pediatra explica que, após o parto, o colostro costuma vir em menor quantidade justamente para atender a necessidade do recém-nascido, cujo estômago tem capacidade para 5 ml (uma colher de chá). “Isso é tudo o que vai caber no estômago minúsculo do recém-nascido. E as mamadas são bastantes frequentes também, o que pode passar a falsa ideia que o bebê não está se alimentando bem ou que o leite é fraco. Não caia nessa cilada!”, diz.
Se tem dor, alguma coisa está errada. Procure ajuda. Pode haver um leve desconforto porque é algo com o qual o corpo não estava acostumado. Há mulheres, inclusive, que sentem prazer na amamentação, justamente porque o mamilo é uma zona erógena. “Imediatamente essas mulheres já bloqueiam esse sentimento por achar errado. Mas pode acontecer e é normal. Agora se tiver dor, a pega está errada. O bebê não deve sugar o mamilo e sim pegar a aréola. Se após a mamada o mamilo fica doendo ou até amassado, a pega está errada e precisa ser corrigida”, esclarece o especialista.
Fala-se tanto sobre a rede de apoio e na amamentação ela é, de fato, fundamental. Mas a rede de apoio é diferente da rede de “agouro”. Nada adianta estar cercada por várias pessoas, com a casa cheia de palpites e pouca ajuda. Vale dizer que a parceria – seja o pai ou a outra mãe da criança precisa ser a pessoa que participa, que faz parte. Eles não ajudam, eles fazem parte. “Tirando gestar, parir e amamentar, o pai pode fazer absolutamente tudo. E quando ele é rede de apoio para a mãe, estudos mostram que a adesão e a duração do aleitamento é maior”, conclui o médico.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545