Do site da Crescer
Pediatra reflete sobre a relação entre o aleitamento materno e o combate à violência contra a mulher, ambas causas destacadas em
por Dr. Moises Chencinski - colunista
05/08/2022
Cada mês é simbolizado por uma cor e tem meses com mais de uma.
Esse é o caso de AGOSTO.
E duas das cores que o representam não poderiam ser mais extremas e distantes e, ao mesmo tempo, mais próximas e relacionadas.
AGOSTO DOURADO
Estamos na 31ª Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) – dias 1 a 7. Celebrada desde 1992, a cada ano é escolhida uma face da amamentação para ser lembrada, esclarecida e gravada na nossa vida.
O tema desse ano da WABA é:
FORTALECER A AMAMENTAÇÃO. EDUCANDO E APOIANDO.
Estamos no 6º AGOSTO DOURADO (só no Brasil – lei Nº 13.435). Durante os 31 dias do mês, a meta é sensibilizar a todos protagonistas da área de saúde e da comunidade a respeito do aleitamento materno.
Sabemos da relevância do leite materno, o padrão-ouro da alimentação infantil, para a saúde materno-infantil (isso, assim mesmo: a mãe vem primeiro), da sociedade, do meio ambiente, do planeta. E, ainda assim, estudos nos surpreendem, a cada dia, com uma novidade a respeito.
Além disso, durante o mês de agosto, o país se veste de dourado e muitas ações e celebrações são vistas em vários setores da comunidade, dos serviços de saúde, com mais espaço na mídia.
Eu mesmo tenho minha agenda repleta nesse mês, em que compartilho meu tempo de atendimento com a divulgação em atividades presenciais e online para hospitais, ligas de Pediatria, Puericultura, Neonatologia e Nutrição Materno-Infantil, bancos de leite e a população em geral.
Vale lembrar: a nossa missão em prol da amamentação é diária (e até “horária” ou “minutária”), não começa no dia 1º e nem termina no dia 31 de agosto. Nesse período as atividades apenas são mais intensas e mais focadas em determinados temas. Mas, a SMAM de 2.023 começa a ser programada no dia 1º de setembro (logo aí), independente do tema que nos será indicado.
AGOSTO LILÁS
Foi lançada, esse ano, a Campanha AGOSTO LILÁS, pelo fim da violência doméstica e familiar contra a mulher. A data de 7 de agosto foi escolhida por representar 16 anos da sanção da Lei Maria da Penha (Lei Nº 11.340 de 2.006).
Nesse próximo 7 de agosto, a iniciativa global Verificado, da ONU, lança uma campanha com ações no Brasil, levando informações a respeito dos tipos de violência contra a mulher. Será um evento no Santuário Cristo Redentor, com representantes de diversas religiões - budismo, candomblé, catolicismo, espiritismo, evangelismo, hare krishna, islamismo, judaismo e umbanda.
#ParaCadaUma
Violência psicológica, moral, patrimonial, sexualefísica. São 5 tipos de ações que podem aparecer isoladas ou, em grande parte das vezes, associadas, agravando o panorama geral.
e os dados preocupam. De acordo com a 16ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre outros números alarmante, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil a cada 7 horas.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública encomendou uma pesquisa ao Instituto Datafolha (apoio UBER) que resultou na terceira edição do “Visível Invisível”, trazendo à tona uma realidade inimaginável.
- Uma em cada quatro brasileiras acima de 16 anos (17 milhões de mulheres) sofreu algum tipo de violência ao longo dos últimos 12 meses.
- Na pesquisa anterior (2019), o vizinho era responsável por 21% dos casos. Na pandemia essa participação foi perto de zero.
- Agora, na pandemia, a violência doméstica contra a mulher passou de 42% (2.019) para 48,8% (2.021), por parceiros, ex-parceiros, familiares (pais, avôs, irmãos, irmãs).
- Jovens (16 a 24 anos – 35,2%), negras (28,3%) e separadas (35%) são os grupos que mais sofrem violência doméstica.
O que mostram os estudos?
Sem dúvidas, AGOSTO LILÁS interfere, de forma direta, no AGOSTO DOURADO.
Quanto mais violência doméstica, menores as taxas de aleitamento materno. E isso amplia a violência para as crianças que mama.
Pesquisadores do Rio de Janeiro (2.017) concluíram que violência por parceiro íntimo está associada a práticas inadequadas de amamentação de crianças de 2 dias a 6 meses de vida.
Em 2.020, uma análise de 16 estudos, envolvendo quase 415.000 mulheres, alertou que a exposição à violência por parceiro íntimo reduziu a duração da amamentação, levou a uma diminuição do início da amamentação e ao término precoce do aleitamento materno exclusivo.
Em 2.021, pesquisa com 1.146 gestantes mostrou que nos casos de violência recorrente as taxas de aleitamento até os 12 meses eram menores.
Estudo mais recente (2.022) realizado com 255 mulheres na Turquia mostrou que a violência doméstica na gravidez levou a um parto com 37 semanas e diminuiu as taxas de amamentação.
Conta pra gente aqui.
De que cor você vai pintar o teu AGOSTO?
Por que não as duas?
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545