por Dr. Moises Chencinski - colunista
19/10/2022
“Não queria chorar, mas não deu. Foi uma rivalidade muito saudável desde o primeiro encontro que jogámos em Miami, quando eu ainda não era rival dele. Além de ser uma parte muito importante da minha carreira, é alguém com quem aprendi muito e que me ajudou a evoluir. Vivemos muitas coisas juntos. É alguém irrepetível por tudo o que fez e como fez, de maneira majestosa e elegante também a nível pessoal.” – Rafael Nadal.
- Eu vi os vídeos do Nadal e ele chorando, mó legal.
- É uma boa comprovação de que você pode ser um ótimo profissional e uma pessoa ética e bem-vista por todos.
- Também dá pra fazer assim né? Talvez dê muito mais trabalho, mas também é muito mais gratificante (pelo menos pra pessoas com valores próximos dos nossos)
- Essa questão de ver que um cara melhor que você não é para te rebaixar, mas para te fazer evoluir.
Essa foi parte de uma conversa que tive com meu filho, Renato, sobre a aposentadoria do suíço Roger Federer, aos 41 anos, um dos tenistas mais completos... não... um dos esportistas mais completos que eu tive a oportunidade de ver em ação.
Mas, para mim, o que mais chama a atenção é a repercussão no mundo do tênis, entre todos os que jogam ou jogaram profissionalmente, e os circuitos que ele participou (contas no Twitter da ATP, Wimbledon, WTA, Jogos Olímpicos), e venceu, mas, principalmente, sobre sua postura pessoal.
Adversários não são inimigos.
Nadal, Djokovic, Del Potro, Martina Navratilova, Billie Jean King, Rod Laver, Andy Roddick, quem conhece o tênis sabe quem são essas lendas do passado e do presente. E todos, sem exceção, manifestando sua admiração e respeito pela pessoa e pelo profissional.
Mas, entre todas as falas, uma, em especial, me chamou a atenção.
“Rafael não teria sido tão forte sem Roger Federer. Sempre tinha que elevar seu nível. Junto com Djokovic, cada um deles fez o nível de jogo dos outros evoluir”. Toni Nadal – tio de Rafael Nadal.
Alguém melhor ou mais em destaque ou mais em evidência do que você naquele momento não deveria te diminuir, ou te causar inveja, ou te fazer buscar onde tem algum erro ou... Federer, sendo quem era, fez os seus concorrentes, oponentes, adversários elevarem seu nível.
E assim, quem ganhou?
Todos ganharam.
Ganharam os tenistas, que tiveram que desenvolver melhor seus jogos; ganhou o público que passou a ter um espetáculo de altíssimo nível, às vezes com mais de 3 ou 4 horas de duração, vibrando a cada ponto, respeitando os dois esportistas no court (em quadra); ganharam os meios de comunicação, a imprensa, que tiveram material para divulgar e imagens para mostrar; ganhou o esporte, com mais admiradores, mais espectadores (ao vivo ou pelas transmissões), mais praticantes, mais investidores e até mais lucro.
A consideração e o respeito pelo outro, todos com o mesmo foco. Ser melhor em todos os sentidos.
Sei, mas e o aleitamento materno com isso?
Vai dizer que o Federer foi amamentado e por conta disso... Não. Não sei se ele foi ou não amamentado, exclusivamente ou não, ou por quanto tempo...
Também não posso dizer que segui a vida pessoal do Federer e saber se os seus filhos (Myla e Charlene – gêmeas, Leo e Lenny – também gêmeos – só sei o nome deles e que são gêmeos porque fui procurar... rsrs) foram ou não amamentados por sua esposa, Mirka (também pela internet).
Bons e maus tenistas? Bons e maus profissionais? Pessoas boas e nem tão boas? Com certeza, esse é o mundo de hoje. Aliás, um mundo que privilegia e estimula performances e competição desde a infância (andar antes, falar antes, mamar mais, crescer mais, ser o primeiro aluno da classe) até a vida adulta (nem preciso citar exemplo, né?), como se isso fosse o que move tudo.
Então, mesmo que a introdução tenha sido enorme, quero abordar, nesse finalzinho de texto, a eterna discussão, o interminável debate sobre quem é quem no mundo do aleitamento materno e o quanto profissionais que trabalham com saúde materno-infantil perdem seu tempo em críticas e debates sobre os outros profissionais, ou as outras áreas, apenas por essas estarem em mais evidência naquele momento.
Protagonistas da amamentação: MÃE (principalmente) e BEBÊ.
Médicos, especialmente pediatras, mas também, médicos de família, obstetras, cirurgiões pediatras, otorrinos, enfermeiras, nutricionistas, fonoaudiólogas, odontopediatras, fisioterapeutas, osteopatas, assistentes sociais, psicólogos, consultoras, doulas, obstetrizes (mais alguém que eu devo ter esquecido) são coadjuvantes nesse processo. Ninguém é mais do que o outro. São uma equipe de apoio que juntos, cada um em seu momento, em sua área, podem (ou não) contribuir para o sucesso (ou para as adversidades) do aleitamento materno.
Mas, ao invés de parecermos um mundo do tênis, estamos mais para torcidas organizadas no meio de um jogo de futebol. Pouca ética. Pouco respeito. Muitos escândalos. Muita briga. E cada um querendo ser “o campeão”, sem levar em conta a forma, vibrando com a derrota do “oponente”.
Um campeonato de futebol se vence em equipe. E não é só quem está em campo. Muita gente que não aparece faz parte desse grupo. Muita gente com mais ou menos formação, mas sempre pessoal bem-preparado em sua área. E quanto mais capacitado, melhores serão os resultados. Uma parte dessa engrenagem que não funcione de forma adequada pode fazer o todo sofrer e perder.
Foco. Ética. Responsabilidade. Trabalho em conjunto.
Assim deveria ser a amamentação. Com o foco na ação (todas as mães informadas e, as que quiserem conseguirem amamentar). O “time” deveria trabalhar em conjunto, em cooperação, respeitando e aprendendo com o outro. Que o desempenho de uns estimulasse os outros a serem melhores. Sem competição. Sem agressões.
Quem sabe, se aprendermos a trabalhar em equipe, cada um dando o melhor de si, inspirados um pelo que o outro tem de positivo, mães e as crianças terão aliados e a saúde materno-infantil será nosso gol, nosso “match point”.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545