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Seja em minoria numérica ou de direitos e representatividade, as mulheres que oferecem leite materno aos seus filhos também precisam de um olhar mais atento dos profissionais de saúde, de forma a levar mais orientações
por Dr. Moises Chencinski - colunista
10/10/2022
Mais um artigo recente que gerou reflexões e quero compartilhar com vocês.
Antes... adivinha... dicionário:
MINORIA
1 Inferioridade em termos numéricos.
3 ANTROP, SOCIOL Subgrupo de uma sociedade que se considera ou é considerado diferente do grupo dominante, em face das características religiosas, étnicas, políticas, de nacionalidade, língua etc. e, em decorrência dessas diferenças, não tem a mesma participação na sociedade como um todo, nem as mesmas oportunidades, sofrendo, muitas vezes, discriminação e preconceito.
Esses são dois conceitos diferentes a serem melhor analisados.
Quem são as minorias no Brasil? Selecionei apenas alguns dos grupos assim considerados pelo conceito antropológico: Negros e pardos, mulheres, LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans), Pessoas com deficiência.
Dados recentes no Brasil: IBGE e Pesquisa Nacional de Saúde
- População: 213.940.000 – Mulheres: 109.381.000 (51,12%)
- Pardos (47%) + Pretos (9%) = 56%. Brancos: 43%.
- População que se autodeclara LGBT: 2,9 milhões de pessoas acima de 18 anos. (Homossexuais: 1,2% ou Bissexuais: 0,7%).
- População com 2 anos ou mais: 17,3 milhões (8,4% da população).
3,4% (7 milhões) – Deficiência visual / 1,1% (2,3 milhões) – Def. auditiva / 1,2% (2,5 milhões) – Def. mental.
Síndrome de Down e Amamentação
Um em cada 700 nascimentos no Brasil (um para cada 1.000 no mundo) pode apresentar Síndrome de Down (SD), o que os coloca no grupo das “minorias” (cerca de 300 mil no país).
O Dia Mundial da Síndrome de Down (WDSD) é oficialmente observado pela ONU desde 21 de março de 2.012. Sendo o 21º dia do 3º mês, foi selecionado para representar a triplicação (trissomia) do cromossomo 21, causa da SD.
Desde 1.983 há estudos relacionando o aleitamento materno (AM) e SD, com observação de que esse grupo de lactentes “não têm inevitavelmente problemas iniciais de alimentação e podem ser amamentados com sucesso, mas suas mães precisam perseverar e receber apoio e incentivo hospitalar”.
Estudos publicados em 2.003, 2.009 e 2.021 mostraram que crianças com SD são amamentadas com menos frequência em comparação com grupos controle não Down e todos sugerem que o apoio ao AM e uma literatura mais direcionada às mães de crianças com SD são fundamentais para otimizar a sua amamentação.
Segundo estudo publicado em 2.022, as mães relataram que “os preconceitos dos profissionais de saúde sobre amamentação e SD não mudaram, apesar de pesquisas mostrarem que bebês com SD podem ser amamentados com sucesso. É necessário aumentar a conscientização sobre a possibilidade de amamentar um bebê com SD para oferecer melhor apoio às mães”.
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Amamentação
A estimativa é que 1 a 2% da população mundial apresente TEA e que, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas possam ser incluídas nesse grupo.
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, 2 de abril, foi criado pela ONU em 2.007 para levar informação à população e reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam TEA.
A Lei Nº 13.861/2.019 instituiu a obrigatoriedade da pesquisa sobre prevalência de TEA para o censo a partir de sua publicação (primeira vez em 2.022).
Ainda há muito o que se conhecer sobre fatores que podem favorecer ou diminuir os riscos de TEA e, entre eles, a amamentação, exclusiva ou não, tem sido estudada (2.017, 2.019 e 2.021) como fator de prevenção. Apesar disso, aponta-se a necessidade de mais pesquisas para confirmar a relação causa-efeito.
A quase totalidade dos estudos aborda a amamentação em crianças autistas. Mas, o que me motivou foi uma revisão sistemática de 2.022, sobre mães autistas que amamentam.
Quero ressaltar esse trecho do estudo (sem comentários):
“Opiniões de mães autistas sobre os serviços de maternidade
Primeiro, as mães autistas sentiram que não eram ouvidas ou acreditadas pelos profissionais de saúde, e sentiram que eram percebidas como distantes. As mulheres autistas também se sentiram julgadas, relutantes em divulgar seu diagnóstico, temiam que seus bebês fossem levados para cuidados sociais e sentiam que tinham que mascarar seu autismo.”
Esse estudo conclui que “as mães autistas precisam urgentemente de melhor apoio dos profissionais de saúde para ajudar a atingir suas metas de amamentação, incluindo como remover ou reduzir as barreiras extras que o autismo traz para a amamentação”.
A minoria da amamentação
Mais uma vez, embasado nos dados do ENANI-2.019, dá pra se concluir que mães que amamentam são “minoria”, quer seja numérica (48% das crianças abaixo de 6 meses em aleitamento materno exclusivo - AME - e aos 6 meses apenas 1,3% das crianças está em AME) quer seja por menos direitos, representatividade (leis, empatia, reconhecimento, validação e mais).
Para reflexão e conclusão
Provérbio popular:
“Na vida tudo é relativo: um fio de cabelo na cabeça é pouco, já na sopa é muito”.
Nesses estudos citados, as mães apontam preconceito dos profissionais de saúde em relação a grupos minoritários e falta de orientação apropriada para esses grupos minoritários. Quando estamos frente a crianças ou mães com Síndrome de Down (SD) ou Transtorno de Espectro Autista (TEA) ou com qualquer desafio (visual, auditivo, de locomoção, cognição), pode ser até que os números relativos (0,7% ou 3,5%) não sejam representativos. Mas o número absoluto (300 mil a 7 milhões) parece relevante demais, não acha?
E só mais uma provocação (quase) final:
Qual seria esse valor, se essa criança da “minoria” fosse seu filho?
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545