Publicações > Meus Artigos > Todos os Artigos

VOLTAR

Bom não está, mas na Irlanda ouviram as mães que queriam amamentar

Do site da Crescer

Pediatra traz os dados de pesquisa que mostra a experiência de mães irlandesas na amamentação. Para se ter ideia, enquanto 38% das melheres relataram que tiveram uma vivência positiva, 39% a consideraram negativa nos primeiros dias. Saiba mais!

por Dr. Moises Chencinski - colunista

07/11/2022

Na coluna de setembro desse ano, aqui mesmo na Crescer,  fiz uma sugestão para uma pesquisa com as mães, sobre as mães, envolvendo as mães, escutando as mães e debatendo com as mães.

E não é que eu fui ouvido? Resultados iniciais de um estudo nacional foram publicados recentemente para melhor entender as experiências de apoio ao aleitamento materno em todo o sistema de saúde mais amplo na Irlanda.

De acordo com um relatório do Sistema Indicador de Maternidade Irlandês, as taxas de amamentação na Irlanda são as mais baixas da Europa, sendo que apenas 62,3% dos bebês foram amamentados após o nascimento (vale lembrar que nossas taxas no ENANI-2019 foram de 62,4%). Na alta da maternidade, apenas 36,7% estavam em aleitamento materno exclusivo (AME) com um adicional de 21,8% amamentado não exclusivamente.

O estudo foi baseado em 5.412 respostas a um questionário enviado online para mães que pariram entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021, e que amamentaram ou pensaram em amamentar, ou seja, pretendiam seguir no aleitamento materno.

Nesse estudo, o termo “amamentação” se refere a todos os tipos de alimentação com leite materno (AME, amamentação, ordenha exclusiva, leite materno combinado com fórmula infantil, uso de leite humano de doadora, mamada, etc.).


Vamos aos números? Chato, mas fundamental.

A pesquisa revelou dados interessantes relativos à fonte da informação e a sua avaliação pelos participantes (útil ou não?).

- 91% - informação em livros e mídias sociais online. 89% consideraram úteis.
- 89% - ouviram de familiares e amigos. 72% - úteis.
- 71% - de aulas de pré-natal organizado pela maternidade. 57% - úteis.
- 58% - de grupos de apoio para amamentação, como La Leche League. 79% - úteis.
- 49% - de seu médico. Apenas 25% - úteis.
- 49% - experiência própria anterior. 89% - útil.

Dados sobre experiências na maternidade mostraram um panorama preocupante.
- 86% tiveram a amamentação (direto do seio materno) como a primeira fonte de alimentação, 8% de colostro extraído, 6% de fórmula, e 0.2% de leite de mães doadoras.
- Mas, já nas primeiras 48 horas, houve uma mudança, com 63% em AME, 27% aleitamento misto e 2% de fórmula.
- Enquanto 38% das mães relataram que tiveram uma experiência positiva de amamentação, 39% a consideraram negativa nos primeiros dias.
- No geral, quando solicitadas a avaliar o apoio ao aleitamento materno recebido na maternidade, apenas uma em cada três (37%) sentiram que foi excelente ou bom, 22% médio e 34% consideraram negativo (ruim).
- 26% das mães disseram não ter recebido o suporte de aleitamento quando necessário, 24% receberam informações conflitantes de profissionais de saúde e 23% foram encorajadas a usar fórmula mesmo contra sua vontade.

Dados de aleitamento após a alta indicaram que com:
- 1 mês - 93% das mães estavam amamentando, porém apenas 51,5% em AME.
- 6 meses - 76%das crianças eram amamentadas, 31% em AME.
- 6 a 12 meses - 48,3% em aleitamento materno.
- Aos 2 anos - 14% em aleitamento materno.

Em relação ao desmame:
- 35% das mães fizeram por opção e estavam preparadas para isso.
- 27% achavam que amamentar era por demais desgastante e cansativo.
- 21% das crianças desmamaram espontaneamente.
- 16% referiram falta de apoio profissional como causa do desmame.
- 15% relataram desconforto físico e dor na mamada como fatores responsáveis.
- 12% suspenderam na volta ao trabalho, incluindo falta de políticas públicas de apoio nos seus empregos.

Em geral, os achados neste documento denunciam oportunidades perdidas nas maternidade e em todo sistema de saúde para apoiar aquelas mães que desejam amamentar e escancaram o custo físico, mental e financeiro de quem se depara com desafios e persiste na tentativa de superá-los.

A pesquisa ampla sobre o suporte das mães durante o período de amamentação traz conclusões para reflexão, mostrando que o apoio foi considerado inacessível, inadequado e inapropriado.

Veja alguns dos depoimentos das mães irlandesas na pesquisa. Será que vocês já não ouviram algo parecido, de alguma outra mãe, em algum outro momento, em algum outro lugar? Não parece “familiar” ou “uma memória viva?

Eu bombeei exclusivamente por 6 meses, por não ter recebido o suporte que precisava para ajudar meu bebê a aprender a mamar depois que ele recebeu mamadeiras de fórmula no hospital.”

Acredito que a falta de apoio tornou minha jornada muito difícil mentalmente e fisicamente. Eu vivenciei muita culpa, tristeza e sentimentos de incompetência quando eu parei. Eu acredito que se eu tivesse mais apoio nas primeiras semanas eu teria sido capaz de amamentar exclusivamente de forma efetiva.”

Estou muito feliz por ter conseguido amamentar meu filho e pretendo seguir enquanto for necessário. Mas ainda me sinto abandonada pelo sistema de saúde desde o início da minha experiência de amamentação. Ainda me incomoda que eu não pude obter apoio quando eu precisava.”

Parece haver uma grande ênfase no peso e a fórmula parece ser a resposta todas as vezes.”

Fechando com uma frase atribuída a Leonardo da Vinci:
Há três tipos de pessoas: as que veem, as que veem quando lhes é mostrado e as que não veem.”

E aí? Já viu?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545