Do site da Crescer
O melhor sistema anti-hacker é a informação
por Dr. Moises Chencinski - colunista
26/12/2022
Para começar, um esclarecimento.
Hackers (1):
Pessoas com grande conhecimento de informática e computação. Seu trabalho, inicialmente, é desenvolver e modificar softwares e hardwares de computadores.
Origem da palavra:
Vem do inglês “hack” que significa cortar, talhar, entalhar, picar, golpear.
Hackers (2):
Nos tempos (já nem tão atuais), alguns hackers se transformaram em profissionais altamente capacitados, que usam suas habilidades para invadir sistemas, de forma criminosa ou não, e trazem grandes transtornos aos “hackeados” (nova palavra em português – um anglicismo – palavra em inglês, introduzida e utilizada no nosso idioma – hamburger, hotdog...).
Quem nunca foi “hackeado”?
Mesmo com amplos conhecimentos de informática, mesmo com sistemas e mecanismos de defesa, há milhões de pessoas, grandes empresas e até governos que sofrem desses “crimes digitais ou virtuais” diariamente, a ponto de se estabelecer, nas delegacias e na internet, formas de denunciar essas atividades, mas ainda, em grande parte das vezes, sem muitos resultados positivos.
Se eu já fui hackeado: Ô... infelizmente sim e não só uma vez. Celular, redes sociais, e-mails, há anos, ano passado, nesse ano... E que técnicas avançadas. Parece até que eles sabem quando estamos vulneráveis, né? Mas, não. Eles tentam o tempo todo. E as técnicas não são substituídas. Elas são somadas e multiplicadas. Uma delas foi pensada em você, com certeza...
E quem já passou por isso conheceu as dificuldades de se recuperar do baque. Ficamos parecendo “baratas tontas” (dicionário: pessoas aflitas ou desorientadas), fazendo mil ligações, indo a dois mil lugares, tentando três mil métodos, falando com quatro mil pessoas que já passaram por isso... Tá os “mils” são exagero, mas é pra entender que é muito.
Tá, mas “hackearem” a amamentação?
Deu pra entender a analogia?
Uma gestante, que em breve se tornará lactante, recebe muitas informações. Um excesso delas. Sim, com certeza, a maioria tem boas intenções, mas embasadas em suas experiências pessoais e não em estudos.
Será que existe algum estudo 100%? Ou seja, uma conclusão que sirva para 100% dos envolvidos? Deve haver, certamente, mas são a imensa, absoluta, esmagadora minoria.
Quando dizemos, por exemplo, que a chupeta é, senão a maior, uma das maiores responsáveis pelo desmame antes dos 3 meses, isso é baseado em estudos. Isso quer dizer que muitas crianças usarão chupetas (segundo ENANI-2019 no Brasil – 43,9% em crianças menores de 2 anos) e não terão risco de desmame. Tudo resolvido? Nananinanão. Como saber o que vai acontecer com a sua criança em especial? Qual será o grupo dela? Será que há como determinar antes? Situaçãozinha difícil, né?
E essa situação é “só” pensando na amamentação. Mas, há questões respiratórias, de formação dos ossos (maxilares, mandíbula, palato mole, palato duro, ATM, etc.), da função de lábios, língua, bochechas, musculatura oral), de infecções envolvidas também. Então, a recomendação baseada em evidências é não oferecer chupetas.
Voltando às gestantes e lactantes. Veja se isso aconteceu com vocês:
“Você está grávida?”
- Nossa que bom, mas se prepara pras mudanças do teu corpo.
- Parabééénsss, mas você vai acordar a noite toda pra fazer xixi, viu?
- Uhuuuu, mas você gosta de dormir de bruços? Esquece...
- Yesssss, mas, sem álcool nos happy hour...
E isso é só na gestação. Quer complementar com o das amamentação? Que o peito vai cair, que você não vai dormir nunca mais, que o teu marido vai te deixar (essa... affffeee), que amamentar na rua é só para “seduzir” outros homens... Segue o flow.
Até aqui, por enquanto, hackearam a autoconfiança, a integridade, a serenidade...
Mas (olha ele aí de novo), se existe um “problema”, existem os que tentam te hackear pela sedução com as “soluções”. Amigos, parentes, colegas de trabalho, de grupos de mães trazem sempre aquela proposta, que juro que eu quero mesmo acreditar que tem boas intenções, que resolveu pra elas, baseadas nos estudos realizados com 3 ou 4 casos, no máximo, na “Universidade Lá em Casa Funcionou”. E, muitas vezes, essas “pesquisas” foram “financiadas” por indústrias, que, atualmente, “contratam” influenciadores para divulgar seus produtos milagrosos. Lembra da história do conflito de interesses?
E aqui, os seios e o leite materno são hackeados e substituídos por riscos. Infelizmente, isso é mais comum do que se imagina, do que se deseja.
É possível evitar e sair de uma situação dessas?
O melhor sistema anti-hacker é a INFORMAÇÃO.
Mas (agora é um “mas” positivo), é absolutamente imprescindível que ela seja transmitida por pessoas e instituições que sejam capacitadas, habilitadas na amamentação, sem conflitos de interesses.
Mas (já entendeu...), essa informação precisa estar disponível desde sempre, ou seja, fazer parte da educação infantil, nas famílias, nas escolas, no ensino superior, para formar profissionais éticos, atualizados, e sem conflitos de interesses.
Mas, é preciso que a decisão informada seja da mãe, que ela seja respeitada, se ela quiser amamentar. Escuta ativa, empatia, sem julgamentos (aconselhamento).
Mas, é preciso que políticas públicas, a sociedade, redes de apoio estejam ao lado das mães e dos bebês.
Mas, é preciso que todas as indústrias, não só as de substitutos de leite materno, substitutos do seio materno (mamadeiras, chupetas e bicos), as de alimentação, todas, enfim, tenham seu marketing controlado e sejam submetidas às legislações vigentes no país.
Vamos combinar?
Diga não ao hacker da amamentação.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545