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"Nada começou em 2022 e vai simplesmente acabar em 2023. Para ser sincero, acho que nem o ano de 2022 acaba em 2022", diz o pediatra Moises Chencinski, que faz uma reflexão sobre essa virada de ano e os aprendizados que devemos ter para construir um novo presente mais leve, mais feliz, e que possa tornar possível um outro futuro
por Dr. Moises Chencinski - colunista
19/12/2022
2.022 em fase final.
2.023 só esperando aí para chegar.
Que ano complicado. Muitos querendo mudanças, transformações. Uma esperança imensa em um tempo novo. Tem coisas que dá vontade de esquecer, de imaginar que nunca aconteceram, de passar um pano, apagar e começar do zero. Masssssssssssssss...
Não vai ser que "tudo passa" e nem que "nada muda".
De uma publicação de Carlos Drummond de Andrade, de 1945: Resíduo.
“Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.”
É importante lembrar, não esquecer, para que haja uma alteração de rota, transformações. Parece confuso, difícil de entender. E, de onde eu vejo, é mesmo.
Quantas coisas ficaram no caminho, quantas expectativas não foram atingidas, quantas propostas se modificaram na trajetória em 2.022, para cada um de nós e para o nosso país...
A tristeza pelas mortes causadas pela COVID, que geraram pesquisas e vacinas, que salvaram tantas vidas.
E, mesmo assim, a queda nos índices vacinais de forma geral para as crianças, com a volta de doenças preveníveis pela imunização e que estavam esquecidas há tanto tempo.
Volta, vacina!!!
A influência do marketing das indústrias de substitutos do leite e do seio materno, tentando influenciar as mães, mesmo na pandemia, mas que geraram mais conscientização sobre a importância do leite humano na vida das crianças.
E, mesmo assim, as taxas de aleitamento materno que patinam em um patamar muito aquém do desejável, colocando as crianças e as mães em riscos maiores de adoecimento e mortes, que poderiam ser evitados ou minimizados pela amamentação.
Volta, aleitamento materno!!!
O grande descuido com a fauna e flora, que foram abandonados durante a pandemia, levando ao reconhecimento da relevância do contato com a natureza para nossa saúde física e mental e, especialmente, para o desenvolvimento das crianças.
E, mesmo assim, as maiores taxas de desmatamento já evidenciadas no país, não só na Amazônia, que trouxeram um alerta mundial para essa questão, mas que não impedem pressão e flexibilização para mais desmatamento.
Volta, Natureza!!!
A utilização perigosa das redes sociais e da mídia digital, levando a um aumento inimaginável das Fake News, que levaram os cientistas sérios a se manifestarem em prol da verdade.
E, mesmo assim, uma disseminação de desinformação, não embasada na ciência e sim em crenças e polarizações, criando insegurança e desencontros, provocando violência e desarmonia entre seres humanos, mas que evidenciaram os propósitos, bons ou ruins, de pessoas, de instituições sérias ou não.
Volta, Ética e Verdade!!!
O preconceito que cresce de todos os lados, atingindo áreas de etnia, de cor, de gênero, de religião, de idade, de classe social, que se traduziu pelo aumento descontrolado da insegurança alimentar, da fome, da pobreza e extrema pobreza, que provocou uma reação das, assim chamadas, “minorias”, trazendo visibilidade a essas questões, gerando leis, movimentos, posicionamentos.
E, mesmo assim, a consciência de que não basta “não ser a favor”. É preciso aprender a “ser contra”, a “agir contra”, a “pensar contra” para traduzir e demonstrar nossas posturas e nossos desejos, e ressignificar a equidade.
Volta, dignidade!!!
Dá para notar que não há um começo ou um fim definitivos. Nada começou em 2.022 e vai simplesmente acabar em 2.023. Para ser sincero, acho que nem o ano de 2.022 acaba em 2.022.
E, temos sempre que nos lembrar do passado, para estarmos no presente, de modo a criar um futuro que, quando se transformar em passado crie condições para um novo presente mais leve, mais feliz, que vai fazer possível um outro futuro... É um ciclo constante, dentro dele mesmo... Estamos como cachorro correndo atrás do rabo...
Fernando Sabino, em seu livro “O Encontro Marcado”, escrito entre março de 1954 e julho de 1956, e lançado no mesmo ano, pode “resumir” ou “traduzir” um pouco dessa reflexão (mesmo mais de 65 anos depois... ainda atual):
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”
Estamos passando pelo Brasil, por 2.022 a caminho de 2.023. São poucos passos que nos separam desse nosso novo destino. Podemos fazer valer a pena. Mas, é necessário nunca esquecer do que nos trouxe até aqui...
Volta, felicidade!!! Volta, paz!!! Volta, vida!!! Volta, esperança!!!
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545