Do site da Crescer
"Acompanhar e proteger a infância para possibilitar que, desde o primeiro sinal de vida, cada ser atinja seus sonhos e objetivos de vida é uma bênção e uma imensa responsabilidade", diz Moises Chencinski
por Dr. Moises Chencinski - colunista
10/01/2023
O olhar atento e cuidadoso sobre as crianças, seu crescimento e desenvolvimento, sua saúde e suas formas de adoecer, seus relacionamentos, suas emoções e sentimentos é fundamental para os pediatras.
Acompanhar e proteger a infância para possibilitar que, desde o primeiro sinal de vida, cada ser atinja seus sonhos e objetivos de vida é uma bênção e uma imensa responsabilidade.
Quando abordamos a puericultura, a proposta é a prevenção. São ações que podem impactar na preservação da saúde. Pré-natal, parto adequado, amamentação, alimentação saudável, vacinação, orientações de contato com natureza, controle de uso de telas, mais leitura, acolhimento familiar e assim por diante.
Mas, apesar de todos esses cuidados, crianças adoecem e é necessário estarmos preparados para esses eventos também. Profissionais de saúde materno-infantil precisam de conhecimento, informação sobre as doenças infantis e suas formas de diagnóstico e tratamento. E, mesmo com isso em mente, nem sempre atingimos nossos objetivos.
Nesses casos, aprendemos com nosso dia a dia que podemos tentar atingir o nosso melhor, mas que, mesmo assim, temos que reconhecer nossas limitações. E isso deve nos impulsionar a tentar mais. Todos somos humanos.
A ciência se encarrega de trazer, através de pesquisas, novidades em todos os campos da saúde humana. A cada dia, tudo evolui e nem sempre em um bom sentido. E isso nos move, nos estimula, nos desafia. E, muitas vezes, quando pensamos ter chegado a uma solução definitiva... Percebemos que não era bem assim.
Antibióticos podem salvar vidas
Mas, antibióticos agem APENAS contra bactérias. Não há ação cientificamente comprovada de sua ação contra vírus, fungos ou outros microrganismos que podem causar infecções.
Quando antibióticos são prescritos, quer seja de forma adequada, quer seja de forma não recomendada, eles não agem apenas contra as “bactérias do mal”, mas sim contra todas as “bactérias sensíveis”.
No nosso organismo, há muitas “bactérias do bem” que nos ajudam na proteção e na nossa imunidade. Elas estão espalhadas pela boca, pelo intestino, na pele, na região genital feminina, entre outros.
Essas bactérias também podem ser “sensíveis” aos antibióticos prescritos para combater uma infecção, gerando um desequilíbrio do funcionamento dos nossos sistemas, causando diarreia, prisão de ventre, aftas, sapinho, mau hálito, corrimento vaginal, náuseas, que costumam ser transitórias.
Esses quadros podem ocorrer mesmo quando antibióticos são receitados com embasamento científico, contra infecções comprovadamente provocadas por bactérias, mas, pelo menos, são efeitos colaterais indesejáveis, conhecidos, com uma finalidade específica.
No entanto, ainda há muita prescrição de antibióticos para combater viroses (como aconteceu na COVID, por exemplo) ou outras quadros não bacterianos, e, nesse caso, só ficam os efeitos colaterais.
E a asma com isso?
Estudo publicado recentemente, realizado no Canadá, estudou os efeitos da exposição precoce a antibióticos, sua ação no microbioma (flora) intestinal infantil e a sua relação com o risco de asma nas crianças. Segundo a pesquisa, 17% dessas crianças receberam antibióticos no primeiro ano de vida.
Os pesquisadores avaliaram 2.521 crianças. Para essa análise, as crianças foram divididas em 3 grupos.
1) Não receberam antibióticos.
2) Receberam antibiótico durante amamentação.
3) Receberam antibiótico sem serem amamentados.
Aos 3 meses e depois de um ano, fizeram a análise do microbioma do intestino (através de exame das fezes) e compararam componentes (oligossacarídeos e ácidos graxos) com o leite humano (dessas mães) de 561 desses bebês.
Os resultados apontaram que as crianças que tomaram antibióticos sem amamentação tiveram chances 3 vezes maior de asma aos 5 anos, enquanto não houve tal associação em crianças que receberam antibióticos durante a amamentação.
Os cientistas associaram esse benefício a um “reequilíbrio” dos componentes da flora bacteriana intestinal, pelo enriquecimento de Bifidobacterium longum subsp infantis, proveniente de qualquer amamentação, não só exclusiva.
Os dados sugeriram que a amamentação e os antibióticos têm efeitos opostos no microbioma infantil e que a presença de B. infantis proveniente da amamentação está associada a uma redução do risco de asma associada a antibióticos.
E, para concluir, esse estudo traz alguns pontos para reflexão.
- Em caso de cuidados infantis, procure sempre profissionais capacitados, tanto na prevenção quanto no diagnóstico, acompanhamento e tratamento de crianças.
- O diagnóstico adequado é fundamental.
- A prescrição de antibióticos, mesmo de forma adequada, costuma interferir na flora bacteriana e, assim, em outras questões de nosso organismo.
- Aleitamento materno é importante em vários pontos da vida de mãe e bebê, e, também, na formação da flora bacteriana adequada.
- Leite materno pode ser um fator de proteção contra asma em crianças que usam antibióticos.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545