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Amamentação e consumo de bebidas álcoolicas: pode ou não pode?

Do site da Crescer

O consumo de bebidas alcoólicas é considerado “compatível com a amamentação”, tanto pela Academia Americana de Pediatria (AAP) quanto pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Mas, é necessário compreender muito bem o que isso quer dizer. Aqui, o pediatra Moises Chencinski esclarece essa questão.

por Dr. Moises Chencinski - colunista

29/01/2023

Tema, que era consenso absoluto (não), passou por questionamentos (será?) e agora, finalmente... um definitivo “pode até ser, mas não se recomenda(depende).

Pra começar, é importante entender que estamos falando sobre a ingestão de álcool e não o que é utilizado localmente, para esterilização ou limpeza ou proteção contra COVID, por exemplo – esse, sem riscos.

A seguir, é crucial que se entenda que estamos falando de riscos e que a informação é fundamental para a tomada de decisões. Assim, como sempre, INFORMAÇÕES baseadas na ciência, em pesquisas, sem opiniões.

Existe uma forte contraindicação de ingestão de bebidas alcoólicas na gestação, pelos riscos da Síndrome Alcoólica Fetal, que não depende da quantidade ingerida para acontecer. Estudos recentes mostraram, através de Ressonância Magnética Cerebral de fetos de mães que ingeriram bebidas alcoólicas em quantidades e frequências variáveis, mudanças estruturais no desenvolvimento e atraso na maturação do cérebro, mesmo com baixa ingesta. Os autores desse estudo concluíram que “as mudanças que descobriram contribuem para as dificuldades cognitivas e comportamentais que podem ocorrer durante a infância”. Assim, o consenso científico é de que gravidez é incompatível com consumo de bebidas alcoólicas.

Segundo fontes que estudam e abordam a passagem de drogas e medicamentos através do leite materno, a recomendação ainda é evitar estimular o consumo de álcool durante esse período por conta dos riscos para a mãe e para o bebê. Porém, o consumo de bebidas alcoólicas é considerado “compatível com a amamentação”, tanto pela Academia Americana de Pediatria (AAP) quanto pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Mas, é necessário compreender muito bem o que isso quer dizer.


Álcool, amamentação, mãe e bebê

O consumo da bebida alcoólica, dependendo de suas características, pode levar à sonolência, interferindo no cuidado da mãe com seu bebê. O álcool pode inibir o reflexo da ocitocina e a saída do leite humano, além de mudar características de seu cheiro, com um pico máximo de 30 a 60 minutos depois de ser consumido, e chega perto de 95% da concentração que tem no sangue da mãe.

As ações do álcool no nosso organismo aumentam de acordo com a quantidade ingerida. Vale lembrar que o lactente tem baixa uma taxa de uma enzima (álcool desidrogenase) que metaboliza o álcool. Assim, quanto maior o volume ingerido, maior sonolência do bebê, maior o risco de dificuldades na mamada, de desidratação, de alterações do padrão de sono e do tônus muscular, e, no caso do consumo continuado e sem controle, até interferir no seu desenvolvimento.

Alguns estudos demonstraram que um consumo agudo excessivo pode causar coma, convulsões e risco de morte no lactente.

No caso de uma ingesta programada, há como minimizar de forma eficaz os riscos tanto para a mãe como para o bebê. Tudo começa, mais uma vez, pela informação.

 

O pico de concentração do álcool se dá 1 hora após seu consumo, mas esse tempo pode aumentar para 1 hora e meia, se acontecer durante as refeições.

Assim, se o uso for eventual, é interessante que a mãe ajuste os horários de amamentação de acordo com o pico de concentração do álcool, que depende, também, do peso da mãe (quanto menor o peso, maior o intervalo para eliminação do álcool) e da quantidade (quanto mais doses, maior o tempo a esperar entre a ingesta e a mamada).

Para o cálculo de doses:
- 1 lata de cerveja (355 mL) = 1,5 dose de álcool.
- 1 copo de chope ou cerveja (300 mL) = 1 dose.
- 1 copo de vinho (100 mL) = 1 dose.
- 1 dose de destilado (pinga, uísque ou vodca) (50 mL) = 1,5 dose.

Após cada uma dose, a mãe deverá aguardar duas horas para voltar a amamentar com segurança. Se forem duas doses, esse tempo aumenta para quatro horas e assim sucessivamente.

Já se for em uma festa, uma confraternização, e não houver uma possibilidade de prever um limite de consumo, é mais seguro que a mãe seja orientada a extrair e armazenar seu leite antes, para que possa ser oferecido durante o período da comemoração. A retomada da amamentação dependerá de número das doses ingeridas, conforme já foi abordado. Somente o tempo elimina o álcool do sangue da mãe e, assim, do leite oferecido. A retirada do leite não acelera a eliminação do álcool, mas pode trazer mais conforto para as mulheres que percebem seus seios mais cheios nesse momento.

Vale lembrar que após a ingestão de bebida alcoólica, não se recomenda a prática da cama compartilhada.


Pensando nisso

Amamentar não é simples, não é fácil, traz restrições e desafios à vida da mãe. O que a mãe menos precisa nessa fase é de mais preocupações e mais julgamentos. Se a decisão sobre ingestão do álcool é muito difícil, pode-se tentar manter mais um período, em que a livre-demanda ainda está se regulando, com bebidas não alcoólicas (por volta dos 3 primeiros meses).

As limitações de escolhas dessa fase, com os julgamentos, podem fazer com que uma mãe, se sentindo pressionada, deixe de amamentar, trazendo, dessa forma, prejuízos importantes à saúde materno-infantil.

A informação, o conhecimento, o controle, a moderação compõem a base para definir a decisão da mulher.

Mais uma vez, vale o ACONSELHAMENTO: Escuta ativa. Empatia. Sem julgamentos.

Fontes:
https://www.e-lactancia.org
Livro: Aleitamento Materno na Era Moderna – Vencendo Desafios
Aleitamento materno na era moderna: vencendo desafios / coordenador Yechiel Moises Chencinski. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Atheneu, 2021.
Do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545