por Dr. Moises Chencinski - colunista
23/02/2023
SPOILER: TEMA SENSÍVEL. RECOMENDÁVEL A LEITURA ATÉ O FINAL.
Seguem 3 estudos publicados em janeiro de 2.023.
O primeiro estudo parte do princípio que “fumar tabaco é o fator de risco mais importante e potencialmente modificável para o câncer na Alemanha”, com até 30% das mortes causadas pela doença sendo atribuídas ao tabagismo.
Segundo o estudo, “o tabagismo está causalmente associado a câncer de orofaringe, laringe, nariz, seios paranasais, pulmão, esôfago, gástrico, pancreático, hepatocelular, biliar, colorretal, renal, ureter, bexiga, colo uterino e ovário e leucemia”.
E esse estudo traz algumas informações bastante impactantes:
- Não fumar reduz o risco de câncer de 15 entidades tumorais diferentes.
- Existe uma relação dose-resposta entre a quantidade de tabaco consumida e o risco de câncer.
- Aconselhamento, educação e prevenção eficazes em saúde são úteis e necessários.
- Combinações de diferentes fatores de risco (tabaco mais álcool, tabaco mais infecções crônicas tumorigênicas, tabaco mais peso corporal excessivo) devem ser evitadas a todo custo.
E conclui que “os fumantes devem receber apoio para parar de fumar e aderir a programas de rastreamento do câncer. A cessação do tabagismo reduz efetivamente o risco de câncer associado ao tabaco”.
O segundo estudo traz uma correlação entre o sedentarismo e sua associação com “aumento da incidência de doença cardiovascular (DCV), doença coronariana (DAC), obesidade, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertensão, insuficiência cardíaca (IC) e mortalidade por todas as causas”.
Por outro lado, “qualquer tipo de atividade física (AF) em conjunto com ajustes no estilo de vida está associado à diminuição da incidência de DCV, DC, obesidade, DM2, hipertensão, IC e mortalidade por todas as causas”. E complementa com a referência de que quanto mais atividade física (com o decorrer do tempo), mesmo que retomada depois de uma parada, maiores os seus efeitos benéficos.
Esse estudo destaca que:
- A vida sedentária é ruim e está associada ao aumento da incidência de DCV e morte.
- Em contraste, AF regular está associada com diminuição da incidência de DCV e morte.
- Qualquer nível de exercício é saudável, mas o exercício vigoroso oferece os melhores benefícios CV.
- No geral, AF é segura e recomendada.
O terceiro estudo publicado traz uma análise na Irlanda, país com uma das taxas mais baixas de aleitamento materno no mundo (15% de aleitamento materno exclusivo – AME – aos 6 meses), comparando a morbidade (doenças) de 2.212 lactentes em AME por pelo menos 90 dias (AME90dias) com um grupo de 3.987 lactentes que não foram amamentados, baseada em dados oficiais (Growing Up in Ireland (GUI): o National Longitudinal Study of Children).
Os resultados mostram que lactentes do grupo AME90dias tiveram probabilidade significativamente menor de hospitalização, passando menos noites no hospital e com menor propensão a desenvolver doenças respiratórias, como asma, infecções respiratórias, resfriados, otites, eczema, problemas de pele, vômitos e cólicas.
Além disso, o grupo AME90dias mostrou um efeito protetor em relação a problemas posteriores de alimentação e de sono, embora demonstrasse um risco levemente maior de ter assaduras e de ganhar menos peso.
Os autores concluíram que:
- A amamentação é a melhor fonte de nutrição infantil e pode prevenir resultados adversos à saúde dos bebês.
- A amamentação exclusiva por pelo menos 90 dias está associada à proteção contra a morbidade infantil.
- A amamentação exclusiva por pelo menos 90 dias está associada a uma redução do uso de recursos de saúde na forma de internação hospitalar e redução do tempo de internação.
- Os formuladores de políticas devem priorizar políticas que apoiem, promovam e protejam a amamentação exclusiva.
Será que existe algum questionamento quanto a essas afirmações?
- Fumar aumenta o risco de câncer.
- Atividade física regular protege o coração.
- O leite materno é o padrão-ouro da alimentação infantil e protege bebês de doenças e internações.
Se não existe, qual a razão para reações tão diferentes quando esses temas são abordados e divulgados na população? Segue aqui.
- Quando existe campanha ou divulgação de um estudo antifumo, algum fumante, sentindo-se de alguma forma excluído, questiona ou se manifesta na mídia?
- Quando se abordam os benefícios da atividade física e os maiores riscos de quem não pratica, alguém fica mais sensibilizado interpretando que existe uma cultura pró-exercícios que exclui e julga quem é sedentário e protesta?
- Porém, a chegada da Semana Mundial de Aleitamento Materno ou a divulgação de algum estudo, que comprova que o leite materno traz vantagens e benefícios para a saúde e a vida de uma criança, geram mobilizações e a ponto de se questionar a necessidade de tocar nesse assunto e geram postagens “defendendo” a maternidade, como se ela estivesse em xeque?
O que está por trás dessas reações tão diferentes?
A resposta é muito complexa e eu sequer consigo começar a elaborar um raciocínio.
Em uma deliciosa conversa com uma querida amiga, Ana Basaglia (acho que vocês conhecem, não é? Kkkk), viajamos por várias possibilidades:
“Julgamentos, machismo, a força da indústria de substitutos de leite materno, a sociedade de consumo que diz que um remedinho cura, uma mamadeira imita o seio, uma lata mata fome, o capitalismo selvagem vai salvar todo mundo... (resumo de nossa “tempestade de ideias” – brainstorming)".
Algumas frases trocadas fizeram muito sentido pra mim.
- As portas só abrem de dentro pra fora.
- Insistir em abrir a porta do outro raramente dá certo...
- Meu melhor papel: INFORMAR, de modo assertivo, objetivo e afetuoso.
- Quem estiver lendo poderá decidir se quer dar um crédito e ver, por si, a informação trazida.
Pra mim, parece que esse seja o caminho... E pra você? Faz sentido?
Obrigado pelo papo, Ana.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545