Do site da Crescer
O pediatra Moises Chencinski fala sobre as “bactérias do bem” existentes no leite materno e o papel que elas possuem na formação da flora intestinal dos pequenos, garantindo proteção contra infecções de fases diferentes da vida do bebê. Entenda!
por Dr. Moises Chencinski - colunista
06/02/2023
Quantas vezes você já ouviu dizer que o leite materno (LM) é o padrão-ouro da alimentação infantil?
Que não precisa tomar nenhum outro líquido nos primeiros 6 meses de vida porque o LM tem 85% de água em sua composição?
E já fez a conta?
Se 85% do LM é água, então 15% é “comida”, é alimento, é nutriente.
Bebês nascem em média com 3 kg e 50 cm de comprimento e com um ano chegam a 9 kg (triplicam seu peso) e 75 cm (50% de ganho do seu comprimento de nascido).
- São 6 kg ganhos em um ano: 4,5 kg nos primeiros 6 meses (só com LM) e 1,5 kg entre 6 e 12 meses (ganham 1/3 do peso, quando se introduz a comida).
- São 25 cm ganhos em um ano: 17 cm nos primeiros 6 meses (só com LM) e 8 cm entre 6 e 12 meses (ganham metade do comprimento, quando começam a comer).
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Tava dando tempo pro ...
UAUUUU!!!
INACREDITÁVEL!!!
IMPRESSIONANTE!!!
Vai me dizer que nunca ouviu ou leu nada sobre isso?
Olha. Só eu já escrevi isso aqui, aqui, aqui e muitos outros aquis.
E você já pode ter ouvido falar, também, que o leite humano é um alimento vivo, que muda sua composição do começo pro final da mamada, do começo para o final do dia e de acordo com o passar do tempo (colostro, leite intermediário, leite maduro), para oferecer ao bebê o que ele precisa em cada fase (até 2 anos ou mais, exclusivo até o 6º mês e complementado, a partir daí, com alimentação saudável).
E, também, pode ter ouvido falar que o leite de mães de bebês prematuros tem composição especial para esses bebês (mais calorias e mais gordura), diferente daquele que a mãe de crianças que nasceram a termo produz.
E pode ter ouvido que o LM é a 1ª vacina que um bebê recebe, com anticorpos, inclusive os que são produzidos através da vacinação da mãe. Mas não só os anticorpos. São milhões de células de defesa, que se modificam para combater cada infecção no organismo da criança.
O colostro, por exemplo, é rico em imunoglobulinas (principalmente a IgA, que ajuda na proteção do trato gastrintestinal e respiratório), glóbulos brancos, oligossacarídeos (os HMO), contra “bactérias do mal”.
E você poderia me perguntar:
- Oi? Você está falando de “bactérias do mal”? Quer dizer que tem “bactérias do bem”?
E se eu te dissesse que sim, que existem as “bactérias do bem” no leite materno e ainda que elas também se modificam com o tempo para proteção contra infecções de fases diferentes da vida do bebê?
Microbioma do leite humano e flora bacteriana intestinal do bebê
Estudos colocaram abaixo uma ideia que se tinha que o líquido amniótico e o leite materno eram estéreis. Hoje sabemos que existem bactérias na placenta, no líquido amniótico, nas membranas do feto, no sangue do cordão umbilical e no mecônio. Assim, já no útero, “bichinhos do bem” podem passar da mãe para sua cria, sem causar infecções. Ao contrário. Eles vão ser responsáveis por “colonizar” o bebê com bactérias (as “do bem”) que formarão uma das primeiras e maiores linhas de sua defesa.
E cada tipo de parto expõe o bebê a bactérias diferentes. No parto normal. a exposição a secreções vaginais o apresenta, por exemplo, aos Lactobacillus spp, e no caso de cesarianas, a microrganismos da pele e do ambiente, como os dos gêneros Staphylococcus, Corynebacterium e Propionibacterium (cada nome...). Em ambos os tipos de parto, após o nascimento, o contato pele a pele precoce promove a continuidade da transferência de bactérias maternas para o recém-nascido e todas elas, mas especialmente as que chegam através do leite materno, formam a microbiota intestinal da criança.
Quando, por qualquer razão (antibióticos, por exemplo, que não matam só as “bactérias do mal”, mas sim as “bactérias sensíveis”), ocorre um desequilíbrio da flora bacteriana (disbiose), o indivíduo fica mais sensível a quadros de doenças crônicas não transmissíveis (que eram só do adulto, mas já estão comuns nas crianças) como obesidade, diabetes, doença cardiovascular, além de asma, doença inflamatória intestinal, alergia, psoríase e doenças neuropsiquiátricas, entre outras.
A infância é um momento especial para se criar uma flora bacteriana saudável, que só vai parecer com a dos adultos por volta dos 3 anos de idade, dependendo de fatores genéticos, do meio ambiente e pode ser favorecido pelo leite materno e introdução de alimentos complementares saudáveis.
E aí aparece esse estudo que compara a flora bacteriana do LM de dois grupos de mães (76 ao total) da Guatemala, sem grau de parentesco:
– 6 a 46 dias após o parto (chamado “precoce”).
– 109 a 184 dias após o parto (chamado de “tardio”).
Os resultados demonstraram que as “bactérias do bem” (microbiota) se modificam e se ajustam no “leite materno humano saudável durante os primeiros 6 meses de lactação e destacam a importância de investigar o microbioma em diferentes estágios da lactação.”
Além disso, “essas mudanças distintas sugerem uma remodelação ativa e contínua do microbioma do leite durante a lactação, o que pode contribuir favoravelmente para a saúde infantil.”
A “conversa” da díade mãe-bebê durante a lactação e a adaptação constante das informações através do leite materno, inclusive das “bactérias do bem”, esses seres maravilhosos que o aleitamento carrega para os bebês, mostra que ainda vamos nos surpreender muito conforme a ciência evoluir e a “humãenidade” persistir na amamentação.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545