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Amamentação: a primeira vez, a gente nunca esquece

Do site da Crescer

Seja boa, mediana ou péssima, a primeira experiência com o aleitamento materno poderá determinar o resultado desse processo. O cuidado precoce, coordenado, para díades de amamentação, tem o potencial de melhorar a satisfação materna, bem como as taxas de amamentação

por Dr. Moises Chencinski - colunista

06/06/2023

Essa é uma frase que já serviu para publicidade de sutiã, nome de livro, de sexualidade, do primeiro amor. E, com certeza, isso vale para a primeira vez que uma amamentação vai acontecer. 

E essa primeira experiência poderá ser inesquecível, independentemente de boa, mediana ou péssima. Ela ficará marcada e poderá determinar o resultado desse processo.

Um estudo recente realizado no Brasil abordou experiências sobre o início precoce do aleitamento materno, avaliando 104 nutrizes e a primeira hora de vida como fator que pode definir a amamentação, já na sala de parto.

Nesse grupo (em Minas Gerais), 56,7% relataram amamentar na primeira hora de vida e 43% tiveram dificuldade em iniciar a amamentação na sala de parto.

As mães que já tinham amamentado anteriormente tiveram mais condições e menos desafios na amamentação na sala de parto. As dificuldades foram mais prevalentes entre as mães que não receberam orientação sobre amamentação durante o pré-natal e aquelas sem experiência anterior.

Esse estudo destaca a importância de uma orientação profissional adequada, principalmente para “mães de primeira viagem”.

Já outra pesquisa nacional, na Austrália, avaliou prevalência da resposta de aversão à amamentação (BAR). Esse é um processo reconhecido mais recentemente, caracterizado por sentimentos de aversão durante a amamentação durante todo o tempo que a criança mama.

Este estudo forneceu os primeiros dados de prevalência para essa experiência em 5.511 mulheres lactantes australianas através de uma pesquisa online.

E os resultados podem surpreender. Cerca de uma em cada cinco mulheres se identificou como tendo experimentado um BAR (1.227 - 22,6%). A maioria relatou enfrentar alguns desafios na amamentação. Apenas 4,5% (247) se declararam sem complicações na amamentação.

Apesar dessa estatística preocupante, 86,9% do total de mulheres deste estudo avaliou sua experiência de amamentação como boa (2.052 - 37,6%) ou muito boa (2.690 - 49,3%). E mesmo no grupo que teve BAR, 82,5% consideram como boa (471 - 38,7%) ou muito boa (533 - 43,8%).

Não surpreendente, no entanto, foi a informação de que as mulheres que estavam amamentando pela primeira vez eram mais propensas a encontrar dificuldades com a amamentação, como BAR. Mas, mesmo essas, quando conseguiam superar os desafios iniciais, geralmente, relataram experiência geral positiva no processo.

Também não trazem nenhuma novidade os achados da pesquisa que mostraram que o apoio à amamentação de parceiros e profissionais de saúde melhoraram a experiência da BAR, mostrando que ficou mais fácil com as mamadas que se seguiram. Esta pesquisa mostrou que o BAR é uma experiência comum para quem amamenta e que, com apoio efetivo, algumas mulheres podem superar esse desafio e atingir suas metas pessoais de amamentação.

Um outro estudo, na Indonésia, abordou fatores que influenciaram a amamentação exclusiva em mães primíparas (primeira gravidez, aquela que também nunca se esquece), em uma cidade que presta assistência nos primeiros 1.000 dias de vida de uma criança, desde 2.016, tentando aumentar as taxas de aleitamento materno exclusivo (AME), mas sem atingir os índices desejados.

Os resultados mostraram que o início precoce da lactação pode determinar o sucesso do AME devendo ser estimulado.

Mais um estudo, esse realizado em Uganda, analisou as taxas de atraso no início da amamentação (entre 30 e 80%) e as possíveis causas para esses eventos, em 404 duplas mães-bebês.

Alguns grupos foram mais propensos a contribuir com essa estatística, entre eles as mulheres solteiras, as que não receberam orientação pré-natal adequada (não chegaram a 3 consultas), as que foram submetidas a partos cesariana e as que tiveram dificuldades no trabalho de parto e os lactentes que tiveram um problema de saúde no nascimento.

As recomendações foram claras, reforçando a importância de a assistência pré-natal ser enfatizada durante as aulas de educação em saúde, um maior apoio às mulheres submetidas à cesariana, uma orientação iniciada já na sala de recuperação.

E para finalizar, uma pesquisa nos Estados Unidos, realizada online com 457 mulheres, sobre desafios comuns na amamentação, trouxeram dados já conhecidos: Dor, trauma mamilar e percepção de suprimento insuficiente de leite.

Assim, o cuidado precoce, coordenado, para díades de amamentação tem o potencial de melhorar a satisfação materna bem como as taxas de amamentação.

Sempre há uma possibilidade de tentarmos mudar uma história, se soubermos onde começam as dificuldades e nos anteciparmos através de projetos e planejamentos que sejam possíveis e viáveis. Insistir na mesma proposta, sem reavaliação dos resultados e do caminho pode não nos levar ao mesmo fim, mas as chances de chegarmos aonde queremos de verdade são muito reduzidas.

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Essa é uma frase que já foi atribuída a vários possíveis e prováveis autores, como Chico Xavier, Bob Marley e Francisco do Espírito Santo. Mas ela pertence ao escritor James R. Sherman, publicada no livro "Rejection", em 1982.

 

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545