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Que tal um Ano Nacional do Aleitamento Materno? O ANAM (lançada a ideia)

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski propõe atenção frequente à amamentação, já que nem mesmo a Semana Mundial da Amamentação ou o Agosto Dourado são suficientes para mudar consideravelmente as taxas de aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, como preconiza a OMS

por Dr. Moises Chencinski - colunista

10/07/2023

A 32ª Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) se aproxima (1 a 7 de agosto), com um tema que já foi abordado algumas vezes durante essa trajetória: APOIE A AMAMENTAÇÃO. FAÇA A DIFERENÇA PARA MÃES E PAIS QUE TRABALHAM.

Essa história começou após um encontro de representantes de países de todo o mundo (Breastfeeding in the 1990s: A Global Initiative), organizado pela OMS/UNICEF, em Florença, na Itália, em 30 de julho com a produção e adoção da Declaração de Innocenti, em 1º de agosto de 1.990.  

E, desde 1991 passamos de um dia (1º de agosto) de celebração e sensibilização, para uma semana (desde 1992, de 1 a 7 de agosto), um mês no Brasil, o nosso AGOSTO DOURADO (porque o leite materno é considerado o padrão-ouro da alimentação infantil), decretado por lei federal desde 2.017.

Isso significa que a partir de agora (julho), as redes sociais, os sites, a mídia serão invadidos por postagens, reportagens, matérias, textos, muitas polêmicas, opiniões, palpites, estudos, pesquisas pró e, acreditem, contra o ato de amamentar e a importância do leite materno. Mas, toda essa divulgação vai diminuindo, rareando e nivelando por baixo a partir de final de setembro, até a próxima data em que o tema leite materno se torna “relevante”.

Isso pode ser no OUTUBRO ROSA (quanto mais AGOSTO DOURADO, menos OUTUBRO ROSA – já escrevi sobre isso aqui) ou no NOVEMBRO ROXO do prematuro (aqui) ou no dia 19 de maio – Dia Nacional e Mundial de Doação de Leite Humano, que ... nossssaaaa... ainda não abordei aqui na minha coluna do site da revista Crescer, mas escrevi no site da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Se a gente se lembrasse das aulas de ciências, ia ficar claro que nós, seres humanos (e até a maioria de nossos pets, que por não terem acesso à internet ainda mantêm o hábito e ninguém julga), somos mamíferos.

Muitos estudos são ainda conduzidos para identificar a origem dos mamíferos, estimada entre 125 e 200 milhões de anos. Entre as principais características estudadas estão dentes diferenciados em anatomia e função, os ossículos do ouvido médio, forma do crânio, a presença de pelos e glândulas produtoras de leite, que foram responsáveis por garantir a nossa sobrevivência, como espécie, até a era moderna. O leite materno, desde a mais remota antiguidade, foi o alimento necessário e suficiente para promover o crescimento e desenvolvimento de cada mamífero até o momento em que acontecia a sua “introdução de alimentação complementar”.

Com a revolução industrial e mudanças nos hábitos sociais, culturais e econômicos, outras formas de alimentar e nutrir recém-nascidos passaram a ser mais pesquisadas, desde preparos com leite de vaca, farinha de malte, farinha de trigo e bicarbonato (fórmula de Liebig, 1865) até as atuais fórmulas infantis ultraprocessadas,  produzidas pelas indústrias de substitutos de leite materno, cada vez mais elaboradas, influenciando, de forma definitiva, a possibilidade de seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde: aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até o sexto mês (acho que já falei um pouco disso por aqui né? Contém ironia – melhor avisar).

O ENANI (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil) de 2.019 apresenta os últimos dados referentes aos índices de aleitamento materno na população brasileira, demonstrando os resultados dos desafios vivenciados pelas díades de mães-bebês.

O Relatório 4 apresenta dados impactantes que merecem destaque:

- Prevalência de aleitamento materno exclusivo (AME) em menores de 6 meses de 45,8% (aumento de 8,7% em comparação com PNDS-2006).

- De acordo com a Tabela B13 (pg. 98 do Relatório), a prevalência do AME por mês de vida de crianças de 0 a 6 meses foi a seguinte:

 

Idade (meses)

Percentual

0

75,1 

1

73,1

2

54,3

3

46,9

4

26,0

5

20,0

 6

1,3

 

- Uso de mamadeiras e chuquinhas em crianças abaixo de 2 anos foi de 52,1% e o de chupetas de 43,9%.

- Aleitamento materno na 1ª hora de vida – 62,4%.

- Duração mediana de AME – 3 meses (90 dias – antes era 54 dias)

O leite materno é bom? Sim.
Amamentação é importante? Sim.

Tem alguém que não saiba disso? Pode ser.
Tem algum profissional de saúde que discorde disso? Não deveria.

Essas informações são divulgadas pela internet? Demais.
Essas informações são ensinadas nas faculdades? De menos. De muito menos.

O ENANI e a nossa realidade nos levam a uma necessidade de análise mais estrutural e abrangente, incluindo avaliações de políticas públicas, das estruturas hospitalares, das redes de apoio, das grades curriculares de instituições e escolas que deveriam contemplar a saúde materno-infantil, do acompanhamento profissional nas unidades básicas de saúde, entre outras, antes de planejar novas abordagens no que diz respeito às taxas de aleitamento materno exclusivo no Brasil.

Um dia é pouco. Uma semana é ... pouco. Um mês... ainda não é suficiente.

Quem sabe se um ano inteiro em que nos dedicássemos, de peito aberto, à sensibilização a respeito da importância do leite e do aleitamento materno pudesse fazer alguma diferença para as mães que queiram ou estejam em dúvida sobre amamentar seus filhos?

Então está lançada (e relançada porque também já falei sobre isso, mas não me levaram a sério) a proposta:

Começando em 2.024, poderíamos nos dedicar ao 1º ANO NACIONAL DA AMAMENTAÇÃO. Seria o 1º ANAM (de muitos).

Vamos? Nem vou cobrar pela ideia. Está aí. Assim, de graça. Sem ônus. Só os bônus.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545