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Ninguém é mais mãe ou menos mãe pela via de seu parto, por ter feito ou não a escolha de amamentar. Maternar é muito mais do que isso

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski fala sobre os direitos, escolhas e superações que as mães enfrentam na maternidade e na amamentação, destacando a importância da presença e da escuta ativa - e não do julgamento - de quem está ao redor de uma mulher, após a chegada do filho

por Dr. Moises Chencinski - colunista

14/09/2023

A (mais uma) difícil escolha de uma mãe.

Amamentar é um direito do binômio mãe-bebê.
Amamentar não é simples, não é fácil e está deixando de ser natural. 
Amamentar desde a sala de parto até dois anos ou mais. 
Amamentar em livre-demanda, de forma exclusiva até o 6º mês. 
Amamentar reduz as chances de muitas doenças na criança. 
Amamentar reduz as chances de muitas doenças nas mães. 
Amamentar é ecológico, sustentável. 
Amamentar pode trazer uma economia mundial na casa de 300 bilhões de dólares por ano. 
Amamentar é multifatorial e requer a ação de equipe multiprofissional. 
Amamentar durante gestação, gêmeos, dois filhos de idades diferentes, é possível. 
Amamentar na volta ao trabalho é possível. 
Amamentar e doar o leite excedente é cidadania, é amor. 
Amamentar em público é um direito da mãe e do bebê. 
Amamentar requer informação ética. 
Amamentar precisa ser protegido, apoiado, promovido.  
Amamentar não deve doer.

Quantas vezes isso já foi escrito, falado, informado, julgado, jogado na cara, apontado, repetido, ouvido, explicado, condenado, cobrado, celebrado, lamentado? E olha que essas são só algumas das frases que eu me lembrei enquanto escrevia e que podem ser somadas a outras tantas que cada leitora poderá reforçar.

E quem é protagonista em absolutamente todas essas ações e decisões (e muitas outras mais), muitas delas ao mesmo tempo, urgentes, sem tempo para uma consultoria ou um aconselhamento, e que é quem terá que fazer escolhas?

É a mãe.
E você pode escolher o tom desse “é a mãe”.
Pode ser ameaçador, agressivo, acolhedor, triste, compadecido, realista, frio, firme, cômico, irônico, trágico, amoroso, determinista (hoje estou cheio de opções). E cada tom diferente pode determinar o futuro do processo de amamentação de cada uma dessas mães.

E vale ressaltar que a amamentação é apenas uma parte do maternar. Ninguém é mais mãe ou menos mãe pela via de seu parto (vaginal, cesariana, fórceps), pelo local onde ele acontece (maternidade, em casas para nascer, em seu domicílio), por ter ou não ter doulas, consultoras, obstetrizes, parteiras e por ter feito ou não a escolha de amamentar.

Maternar é muito mais do que isso, só que esse texto é sobre amamentação.

Massssssss... e aí vem...

Quem de nós, alguma vez, diante de uma mãe, respirou, olhou nos olhos dela, e, mesmo sem perguntar, se interessou em como ela estava se sentindo, o que ela precisava e qual era o seu sonho em relação à sua vida ou, pelo menos, em relação à sua amamentação, sem um preconceito?

"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Essa é uma frase do texto “Escutatória”, de Rubem Alves, em que ele cita Alberto Caieiro.

Muito se fala a respeito de protocolos, de técnicas (pega, posição, extração de leite, indução, aumento de produção, freios de língua), mas quem se propõe, de verdade, a, antes de despejar informações, regras, responsabilidades, deveres, sobrecargas somente esvaziar a alma e a cabeça, olhar nos olhos de uma mãe, escutar, acolher suas dúvidas, angústias?

E a cada segundo, minuto, hora, dia, semana, a cada vida, a mãe precisa fazer escolhas a respeito da amamentação (é bem mais amplo, mas a amamentação, aqui, está representando uma visão do todo, mesmo para as mães que não puderam, não conseguiram ou escolheram não amamentar).

A cada escolha uma renúncia. Isso é a vida. Estou lutando para me recompor. De qualquer jeito seu sorriso vai ser meu raio de sol.” Frase da música do Charlie Brown / Chorão (Lutar pelo que é meu).

Nem precisaria de explicação, mas se não foi composta para uma mãe e seu bebê, passando por todos os dias de sua vida, nessa relação única, na minha visão, representa a maternidade, o puerpério, a dualidade, a ambivalência da vida de uma lactante e de seu lactente.

Lição de casa. Complete nos pontinhos (lembra?)
Amamentar é um direito tão antigo, tão necessário, tão possível, tão instigante, tão provocador, tão ambivalente, tão...

Concluindo com Mario Quintana:

Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...

Arianosuassunamente” falando, como um realista esperançoso, que haja nuvens, mas que sejam passageiras e que queira dizer bom tempo.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545