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O que está acontecendo com a amamentação e vacinação no Brasil?

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski reforça a importância da imunização e do aleitamento materno andarem de mãos dadas em prol da saúde das mães e das crianças

por Dr. Moises Chencinski - colunista

10/10/2023

Prevenir foi, é e sempre será melhor que remediar. 

Na pediatria, essas ações preventivas estão inseridas na puericultura, que de forma bem direta, promove a saúde e previne doenças em crianças.

O planejamento familiar, consultas pré-natal, o acompanhamento periódico das crianças desde a alta da maternidade, cuidados ambientais, contato com a natureza, vínculo familiar, afeto, proteção, segurança, alimentação são parte da puericultura.

Mas, duas questões devem ser sempre lembradas nesse panorama: AMAMENTAÇÃO e VACINAÇÃO, as duas juntas e misturadas, com atenção à saúde materno-infantil porque, em ambos os casos, mães e crianças são integrantes fundamentais e igualmente importantes nos processos.

Assim como a mulher que amamenta protege seu bebê, através de nutrição e anticorpos, ela se protege de câncer de mama, de depressão, de diabetes tipo 2 entre outras doenças.

Da mesma forma, a mãe, incluindo a gestante, que se vacina se protege de doenças infectocontagiosas graves e, através da placenta ou do leite materno, transfere anticorpos contra essas doenças para seus bebês (lembra da COVID?).

E nem deveria ser necessário salientar (mas eu vou, né?) que vacinar as crianças também traz proteção contra doenças graves que trazem riscos, podem deixar sequelas e até causar a morte, inclusive em outras crianças.

A amamentação e a vacinação vivem histórias tão semelhantes e tão inacreditáveis de desafios, que eu não sei como é que isso foi acontecer.


A história – parte 1 - Vacinação

Em 1796, Edward Jenner criou a primeira vacina da história que protegia contra a varíola, doença que matou mais de 300 milhões de pessoas no século 20. Desde 1980, por conta da vacinação, a varíola é considerada a primeira doença erradicada do mundo salvando, segundo a OMS, mais de cinco milhões de vidas, gerando uma economia de mais de US$ 1 bilhão, tudo por ano.

No Brasil, o sarampo chegou a ser, há 60 anos, juntamente com a diarreia, uma das principais causas de mortalidade infantil, com surtos de agravação a cada 2 a 3 anos. Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), através de estratégias de campanhas vacinais em massa e inclusão da vacina contra o sarampo na rotina, buscava o controle da doença, chegando a implantar, em 1992, o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, que em campanha nesse ano atingiu uma cobertura vacinal de 96%, gerando uma queda de 81% nos casos logo a seguir.

Em 2.016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação do Sarampo em seu território. Mas, diferentemente da varíola, com uma queda sensível da cobertura vacinal, os casos voltaram a aparecer e em 2.019, o Brasil perdeu essa certificação. E assim, poderíamos contar a história de muitas doenças no país que foram controladas pela imunização, mas que, nos últimos anos, por uma queda significativa da cobertura vacinal, tem representado mais riscos como a poliomielite, a difteria e a rubéola.

Hoje, segundo dados do Sistema de Informação do PNI, nenhuma vacina do calendário oficial de vacinações para crianças atinge 65% de cobertura no país, com alguns dados absurdamente preocupantes. Vacinas oferecidas gratuitamente com baixa taxa de adesão como a Polio (54%), Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola – 56%), a tríplice adulta acelular (Difteria, tétano, coqueluche) para gestantes (36%). Obrigado pelos dados, Dr. Renato Kfouri, amigo e colunista da Crescer.


A história – parte 2 – Aleitamento Materno

As taxas de aleitamento materno no Brasil estavam muito baixas na década de 1970, quando as indústrias que produziam fórmulas chegaram ao Brasil, influenciando de forma significativa, através do “marketing” da época.

Através de muitas ações do Ministério da Saúde, estabelecimento de políticas públicas para promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, desde 1974 (PNIAM, NBCAL, alojamento conjunto na maternidade, a Rede de Banco de Leite Humano, a licença maternidade de 120 dias, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, o Método Mãe Canguru, a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, Salas de apoio à amamentação, o PNAISC, o Marco Legal da Primeira infância, o Agosto Dourado, e muitos outros mais), o Brasil saiu de uma estatística de 2,8% (1.986) de crianças menores de 6 meses em aleitamento materno exclusivo (AME) para 45,8% em 2.019, de acordo com dados oficiais de pesquisas nacionais (PNAD, ENANI, PNDS) nesse período.

Estudo mostra que entre 1.996 e 2.006 (10 anos) houve realmente um grande aumento nessas taxas (AM na 1ª hora de vida, AME em crianças menores de 6 meses, AM continuado até 1 e até 2 anos), mas que não se sustentaram entre 2.006 e 2.019 (13 anos). O AM na 1ª hora, por exemplo, passou de 36,3% (1996) para 60,9% (2.006) e 62,5% (2.019). O AME em crianças menores de 6 meses que estava em 26,9% (1.996), passou a 39% (2.006) e chegou a 45,8% (2.019).

Fica muito clara a queda na evolução das taxas nesses dois períodos distintos: 1.996-2.006 (10 anos) e 2.006-2.019 (13 anos), por várias causas, tendo o marketing das indústrias de fórmulas infantis, mamadeiras e chupetas, como parte significativa dessa situação.


A história – parte 3 – as semelhanças

Aleitamento materno e vacinação são importantes referências e bases na saúde materno-infantil.

Existem políticas públicas que fortalecem ambas as práticas no país e que se mostraram eficientes. A mamanalgesia, por exemplo, é uma ótima estratégia para estimular a imunização e o aleitamento materno, oferecendo proteção sem dor.

Tanto as tendências de aleitamento materno quanto as de cobertura vacinal no Brasil têm se demonstrado refreadas nas últimas estatísticas. Ambas as práticas sofrem influências danosas à sua evolução (marketing das indústrias, hesitação vacinal).

Problemas e desafios semelhantes podem ter propostas semelhantes que, se trabalhadas em conjunto, podem levar a maiores chances de sucesso e, assim, a resultados desejáveis na saúde materno-uinfantil.

Assim, vem uma proposta, que pode parecer inicialmente simplista e até ingênua. Mas será que já pensaram nisso? Uma grande campanha única:

Aleitamento materno e vacinação: mãos dadas pela saúde materno-infantil

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545